quarta-feira, fevereiro 24, 2010

BOLSA DE INVESTIGAÇÃO NACIONAL... PARA ÁFRICA

Notícia que me foi dada a conhecer pela cara Inês:

Encontra-se aberto concurso para atribuição de 1 (uma) Bolsa de Investigação (BI) no âmbito do Projecto PTDC/AFR/098339/2008, designado por Identidades e Fronteiras em África, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia através do Programa PTDC – Projectos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico em Todos os Domínios Científicos – nas seguintes condições (...)
(Para ler o resto, clicar aqui.)

Portanto, surge uma bolsa de investigação cultural num país europeu, e qual o tema do estudo? a cultura nacional, alguma outra cultura europeia pelo menos?, claro que não - a elitezinha tuga, tal como todas as outras, o que quer é promover identidades africanas.

Conforme explicou posteriormente a Inês, passo a citar, «claro que isto vai caidinho para os africanos que estao cá a estudar, eles é que percebem da zona deles. Quem paga somos nós, os contribuintes. Se saísse uma de vez em quando e as outras fossem para estudar Portugal... mas não sai nenhuma para estudar a cultura portuguesa, é tudo para estudar África.»

Ora, quem emite a bolsa?

«O ISCTE. O Centro de Estudos Africanos.»

Para quem não sabe, o Centro de Estudos Africanos (CEA) é uma das unidades do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Criado pelo ISCTE em 1981, o CEA tem como objectivo a promoção dos estudos africanos em ciências sociais (antropologia, ciência política, economia, sociologia, mas também agronomia, ciências da educação, demografia, geografia social, história, psicologia social, relações internacionais, urbanismo), numa perspectiva consequentemente interdisciplinar. (...) (Texto retirado do site ISCTE-IUL CEA).

Atente-se na coluna do lado direito desta página: até há uma unidade para estudar o Portugal contemporâneo, mas para a ancestralidade portuguesa, para a cultura portuguesa, para o seu folclore, tradições, em suma, para a sua etnicidade, nem uma.

Continua, a Inês:

«Quem paga é a fundaçao para a Ciência e Tecnologia, que é do Estado.
As bolsas de investigação funcionam do seguinte modo: uma unidade de ID (normalmente são formadas à volta de universidades e institutos) pede financiamento à Fundação para a Ciência e Tecnologia para desenvolver um projecto temático e depois a fundação dá o dinheiro para várias coisas, incluindo bolsas de investigação que são ocupadas por licenciados, mestrados ou doutorados. Essas bolsas são uma forma de mascarar o desemprego ja que são contratos de exclusividade por pouco tempo, normalmente 6 meses, um ano, dois anos no máximo, são livres de impostos, paga-se segurança social e não dá direito a subsídio de desemprego e pronto. Os projectos que saem no domínio da Antropologia são practicamente todos, uns 99%, para estudar África e o outro 1% para estudar a Uniao Europeia. Entre uma e a outra Portugal parece que não existe.
Mas isso não é culpa da Fundação para a Ciência e Tecnologia mas sim das unidades de ID que só têm projectos desse tipo. Tudo isto é dirigido por professores universitários, têm de ser doutorados a gerir o projecto e depois são os bolseiros que executam a parte mais pragmática e os bolseiros quando as bolsas são de Antropologia, são sempre pessoas ligadas a África, ou que estudaram sempre África, ou que viveram lá, ou que são de lá.
»

Portanto, quem decide isso tudo são professores universitários. Óbvio - é parte do supra-sumo da elite reinante. É esse o grande baluarte de coisas como o BE. E do PH.

Novamente a Inês: «Isto revolta-me. A interioridade em Portugal está a desaparecer
e ninguém se digna a estudar o que resta dela. Até parece que nós não temos Etnografia e Etnologia com contexto legitimamente português. Já não há ninguém que pegue nos estudos do José Çeite de Vasconcelos ou do Consiglieri e de outros autores. Lá de quando a quando, agora faz-se um ou outro estudo sobre os Açores. De resto, não há nada

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Infelizmente este caso não é o único.

Todos os institutos de investigação portugueses têm bolseiros estrangeiros, sobretudo brasileiros. Isto é verdade tanto nas ciências humanas e sociais como nas ciências exactas e áreas de engenharia.

Estas bolsas são pagas integralmente pela FCT, muitas vezes incluindo propinas para que os estrangeiros possam tirar doutoramentos em Portugal (recordo que a bolsa de investigação mínima é de cerca 980€, ou seja, 130€ acima do salário médio dos portugueses, que é de 850€).

E porquê tudo isto?... Porque os institutos de investigação estabelcem protocolos de cooperação (expressão pomposa para favores e tachos) com as universidades africanas e brasileiras. O objectivo é eles poderem aceder a áreas I&D que não dominam ou que não fazem parte da sua tradição académica, com as correspondentes vantagens económicas em termos de colóquios, congressos, workshops, etc.

Em troca oferecem formação nas suas próprias áreas aos alunos alienígenas.

Enquanto isso, há bolseiros portugueses que se debatem com grandes dificuldades porque, não tendo classificação ou média de curso suficiente para aceder Às bolsas da FCT, têm que pagar integralmente os seus doutoramentos!

24 de fevereiro de 2010 às 16:35:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Estas bolsas são pagas integralmente pela FCT, muitas vezes incluindo propinas para que os estrangeiros possam tirar doutoramentos em Portugal (recordo que a bolsa de investigação mínima é de cerca 980€, ou seja, 130€ acima do salário médio dos portugueses, que é de 850€)."

É, mas depois recusam-se a dar bolsa de doutoramento a alunos portugueses só porque arranjam briguinhas políticas com a universidade onde os BONS estudantes escolheram fazer o curso... Parecem umas comadres.

24 de fevereiro de 2010 às 17:50:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Enquanto isso, há bolseiros portugueses que se debatem com grandes dificuldades porque, não tendo classificação ou média de curso suficiente para aceder Às bolsas da FCT, têm que pagar integralmente os seus doutoramentos!"

Como estava a dizer, já vi alunos portugueses candidatos a doutoramento com médias brilhantes a ficarem sem bolsa da FCT por brigas institucionais. A solução que a universidade arranjou foi arranjar avaliadores externos para ver o caso de cada aluno e caso contrariasse a decisão da FCT a própria universidade dava a bolsa... Mas claro está, a universidade só se pode dar ao luxo de fazer isso caso tenha dinheiro, e nem todas têm. Tomara pagarem aos funcionários...

24 de fevereiro de 2010 às 17:53:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

«...já vi alunos portugueses candidatos a doutoramento com médias brilhantes a ficarem sem bolsa da FCT por brigas institucionais. A solução que a universidade arranjou foi arranjar avaliadores externos para ver o caso de cada aluno e caso contrariasse a decisão da FCT a própria universidade dava a bolsa...»

Aliás, a maior parte dos centros de investigação portugueses recorre a avaliadores externos para não ficar sujeita às deliberações internas, que são condicionadas pelas cunhas e rodriguinhos habituais.

Seja como for, é absolutamente nojento pensar que há portugueses que têm que fazer um esforço adicional para financiar os seus estudos pós-graduação enquanto centenas de brasucas (e outros alienígenas) são integralmente financiados com o dinheiro dos nossos impostos!...

25 de fevereiro de 2010 às 11:51:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Desculpa, mas essas discussões me parecem mais vincadas num pensamento um tanto quanto racista. A questão das relações entre África e Portugal marcadas, durante séculos, pela dominação, violência e escravatura não merecem estudos?
Quanto aos doutoramentos de estrangeiros, afinal se os portugueses se interessam tanto por esses cursos, por que não conseguem aprovação de seus projetos de investigação? Entretanto, qualquer português que tiver interesse em estudar no Brasil, na USP - considerada mundialmente uma universidade de excelência - por exemplo, pode concorrer com os alunos brasileiros e obter financiamentos.

25 de fevereiro de 2010 às 12:48:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

«Desculpa, mas essas discussões me parecem mais vincadas num pensamento um tanto quanto racista.»

Racismo é beneficiar brasileiros e africanos e prejudicar os portugueses só para que os dirigentes dos institutos possam fazer umas viagens e ganhar mais uns cobres. É racismo institucional assumido, contra os portugueses!

«A questão das relações entre África e Portugal marcadas, durante séculos, pela dominação, violência e escravatura não merecem estudos?»

Mas quem é que disse o contrário, seu faccioso desonesto?!
O que está aqui em causa é haver bolsas de estudo pagas com dinheiros portugueses serem atribuídas a não-portugueses, havendo portugueses se esfalfam todos a trabalhar e não têm bolsa, percebes?! Ou será que agora a temática da escravatura tem que ser estudada apenas por estrangeiros?!?!?

«Quanto aos doutoramentos de estrangeiros, afinal se os portugueses se interessam tanto por esses cursos, por que não conseguem aprovação de seus projetos de investigação?»

Se tivesses lido aquilo que foi escrito acima terias percebido: os projectos de investigação são propostos pelos investigadores seniores dos institutos (professores catedráticos, dirigentes, gestores) não pelos bolseiros.

O problema não reside na aprovação do projecto (embora exista uma política activa na FCT para a preferência pela aprovação de projectos de âmbito internacional), mas sim na escolha do bolseiro, da pessoa que vai fazer o trabalho duro!

E, quando chega a altura de escolher o bolseiro, a atribuição é muitas vezes efectuada com base me interesses pessoas e institucionais, não no mérito pessoal do candidato!

«Entretanto, qualquer português que tiver interesse em estudar no Brasil, na USP - considerada mundialmente uma universidade de excelência - por exemplo, pode concorrer com os alunos brasileiros e obter financiamentos.»

Repara no que escreveste - "pode concorrer com" - o que é inteiramente contrário a "não pode sequer concorrer" que é o que está a suceder a muitos portugueses que são preteridos por brasileiros, sem que os seus currículos sejam sequer apreciados! Percebes a diferença ou tenho que te fazer um desenho!? Trata-se de uma preferência por estrangeiros, não da concorrência em igualdade de circunstâncias com estrangeiros!

25 de fevereiro de 2010 às 13:18:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"A questão das relações entre África e Portugal marcadas, durante séculos, pela dominação, violência e escravatura não merecem estudos?"

Não, pois isso está mais do que estudado.

25 de fevereiro de 2010 às 13:24:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Quanto aos doutoramentos de estrangeiros, afinal se os portugueses se interessam tanto por esses cursos, por que não conseguem aprovação de seus projetos de investigação? Entretanto, qualquer português que tiver interesse em estudar no Brasil, na USP - considerada mundialmente uma universidade de excelência - por exemplo, pode concorrer com os alunos brasileiros e obter financiamentos."

Os recursos deste país devem ir, óbviamente, para os portugueses. E o que outros fazem não nos diz respeito.

25 de fevereiro de 2010 às 13:29:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Quanto aos doutoramentos de estrangeiros, afinal se os portugueses se interessam tanto por esses cursos, por que não conseguem aprovação de seus projetos de investigação? Entretanto, qualquer português que tiver interesse em estudar no Brasil, na USP - considerada mundialmente uma universidade de excelência - por exemplo, pode concorrer com os alunos brasileiros e obter financiamentos."

Uma coisa é como deveria ser, outra é como É. Estás a esquecer-te do pormenor teoria VS prática. A prática deixa muito a desejar. (já para não falar da teoria)

25 de fevereiro de 2010 às 14:03:00 WET  

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