«AS CRÓNICAS DOS ELFOS»
Recomendo com cada vez mais convicção a leitura da obra «As Crónicas dos Elfos», composta, até ver, de dois volumes, «Lliane» e «A Elfo das Terras Negras», da autoria de Jean-Louis Fetjaine, autor também da obra «O Caminho de Merlim», que consiste igualmente em dois volumes e foi comentada aqui.
Ao longo das centenas de páginas que servem para mergulhar numa floresta ancestralmente europeia, raiz de boa parte do verdadeiro espírito ocidental, a letra de Fetjaine faz caminhar lado a lado a acção realista, por vezes sanguinária, e a erudição de quem conhece a fundo o mundo e a época em que a saga tem lugar, tudo isto tutelado pela batuta do feérico, o qual, note-se, é mais nominal do que efectivo, ainda assim. Misturam-se verosimilmente Elfos com Anões, Humanos, Orcs, Gobelins, oghams e runas germânicas, sem que contudo o resultado seja uma salsada new age; melhor do que tudo, há espaço para a referência ao principal das tradições antigas, a saber, os Deuses, tantas vezes intrigantemente esquecidos neste tipo de ficção contemporânea (como no magistral «Senhor dos Anéis», infelizmente), o que por sua vez se enquadra no âmbito da sempre fascinante guerra religiosa entre o Paganismo e o culto do Judeu Morto, amplamente abordada nesta epopeia, sempre ou quase sempre com séria desvantagem para o culto oriental. Enfim, atribui-se também qualquer traço de monstruosidade ao culto dos Deuses antigos, mas isto ainda assim depende de quem lê e às tantas até se consegue simpatizar com os supostos maus da fita que combatem contra o Cristianismo...
Não é pura mitologia antiga, mas nela se baseia com bastante solidez, e sobre ela elabora sem contudo a infringir, acima de tudo divulgando-a, particularmente no primeiro volume, que contém, entre as páginas da ficção do autor, várias páginas contendo o essencial daquele que é, segundo os eminentes celtólogos Christian J. Guyonvarc'h e Françoise Le Roux, o principal e central texto mitológico irlandês e, de facto, o mais importante texto mitológico de todo o mundo celta: o Cath Maigh Tuireadh, «Batalha da Planície dos Pilares», que narra o confronto entre os Deuses, Tuatha de Danann, e os Firbolg, primeiro, e, depois, os Fomoir, embate épico e divino equivalente, na tradição helénica, à Titanomaquia e à Gigantomaquia, e, na tradição nórdica, à guerra entre os Aesir e os Jotuns. Não é todos os dias que vem parar à mão uma peça desta importância em língua portuguesa - só por isso, já valeria a pena ler a «Lliane», mesmo que não houvesse mais nada a abrilhantá-la.
«As Crónicas dos Elfos» constituem uma das mais recentes obras de Fetjaine, mas passa-se cronologicamente antes do seu trabalho mais famoso, «A Trilogia dos Elfos», já há anos também editada em Portugal.
É de aproveitar para ler disto agora, caros amantes de livros e do Ocidente, que ainda é Inverno, e se está no Carnaval, para aproveitar a atmosfera ela própria algo feérica da época... força nisso e boas leituras.
Ao longo das centenas de páginas que servem para mergulhar numa floresta ancestralmente europeia, raiz de boa parte do verdadeiro espírito ocidental, a letra de Fetjaine faz caminhar lado a lado a acção realista, por vezes sanguinária, e a erudição de quem conhece a fundo o mundo e a época em que a saga tem lugar, tudo isto tutelado pela batuta do feérico, o qual, note-se, é mais nominal do que efectivo, ainda assim. Misturam-se verosimilmente Elfos com Anões, Humanos, Orcs, Gobelins, oghams e runas germânicas, sem que contudo o resultado seja uma salsada new age; melhor do que tudo, há espaço para a referência ao principal das tradições antigas, a saber, os Deuses, tantas vezes intrigantemente esquecidos neste tipo de ficção contemporânea (como no magistral «Senhor dos Anéis», infelizmente), o que por sua vez se enquadra no âmbito da sempre fascinante guerra religiosa entre o Paganismo e o culto do Judeu Morto, amplamente abordada nesta epopeia, sempre ou quase sempre com séria desvantagem para o culto oriental. Enfim, atribui-se também qualquer traço de monstruosidade ao culto dos Deuses antigos, mas isto ainda assim depende de quem lê e às tantas até se consegue simpatizar com os supostos maus da fita que combatem contra o Cristianismo...
Não é pura mitologia antiga, mas nela se baseia com bastante solidez, e sobre ela elabora sem contudo a infringir, acima de tudo divulgando-a, particularmente no primeiro volume, que contém, entre as páginas da ficção do autor, várias páginas contendo o essencial daquele que é, segundo os eminentes celtólogos Christian J. Guyonvarc'h e Françoise Le Roux, o principal e central texto mitológico irlandês e, de facto, o mais importante texto mitológico de todo o mundo celta: o Cath Maigh Tuireadh, «Batalha da Planície dos Pilares», que narra o confronto entre os Deuses, Tuatha de Danann, e os Firbolg, primeiro, e, depois, os Fomoir, embate épico e divino equivalente, na tradição helénica, à Titanomaquia e à Gigantomaquia, e, na tradição nórdica, à guerra entre os Aesir e os Jotuns. Não é todos os dias que vem parar à mão uma peça desta importância em língua portuguesa - só por isso, já valeria a pena ler a «Lliane», mesmo que não houvesse mais nada a abrilhantá-la.
«As Crónicas dos Elfos» constituem uma das mais recentes obras de Fetjaine, mas passa-se cronologicamente antes do seu trabalho mais famoso, «A Trilogia dos Elfos», já há anos também editada em Portugal.
É de aproveitar para ler disto agora, caros amantes de livros e do Ocidente, que ainda é Inverno, e se está no Carnaval, para aproveitar a atmosfera ela própria algo feérica da época... força nisso e boas leituras.
4 Comments:
Olha, fiquei curiosa sobre a tradição helénica...
Bom.
Não conhecia este autor,mas parece-me promissor pelo que escreveste.
Não fará lembrar um pouco que seja,o "Senhor dos Anéis"?
Tendo como pano de fundo uma Europa pré-Cristã,com uma espiritualidade ancestral e primeva,o que nos leva a uma mitologia fantástica e um confronto com os seguidores do Carpinteiro,tudo isto servido com um conhecimento profundo das tradições folclóricas Europeias,são razões mais que suficientes para se descobrir esta obra.
Bem haja!
Atenção que um dos aspectos mais importantes da obra é precisamente o de se passar numa Europa já a ser cristianizada - assim se observa o embate de religiões, tal como em Bernard Cornwell («Crónicas do Senhor da Guerra» e «Histórias Saxónicas»).
E, ao contrário de Tolkien, Fetjaine fala amplamente sobre os Deuses. Curiosamente, Tolkien nem os refere, pelo menos directamente, ou estarei enganado? Talvez isso tenha a ver com o facto de ser um católico convicto... Só li o primeiro volume da Trilogia do Anel, mas observo que, na trilogia cinematográfica, só uma vez se fala em «pagãos de outrora» e de uma forma pouco favorável...
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