O QUE ESTÁ A IGREJA A COMBATER REALMENTE QUANDO ATACA O LAICISMO MILITANTE?

Está observado com pertinência o que aqui se diz sobre o principal motivo pelo qual o laicismo preocupa a Igreja - e de facto nem é o autor da página quem o diz, mas um dos principais cardeais de Roma: «quanto mais Deus é marginalizado e psicologicamente suprimido da nossa cultura, mais reaparece sob disfarce e toma a forma dos interesses contemporâneos no paranormal, no oculto, na religiosidade esotérica em que a razão é derrotada.»

Ou seja, o secularismo continuado acaba por dar origem àquilo a que se chama actualmente o reencantamento: enquanto a Modernidade se caracterizou pela dessacralização do mundo, pelo desencantamento da visão ocidental da realidade, a época contemporânea vê surgir no seu seio, e precisamente nas sociedades mais desenvolvidas, um tendência para preencher este vazio de religiosidade com um novo pensamento mágico ou pelo menos pró-mágico, por assim dizer.

Ou seja, a Religião ressurge sempre, de um modo ou doutro. E a Igreja pelos vistos sabe disso, pelo que afinal o que mais a incomoda verdadeiramente não é o ateísmo ou a indiferença religiosa, mas sim o surgimento ou aliás ressurgimento de outros credos e modos religiosos, que a Cristandade julgou ter destruído para sempre mas que todavia regressam - nas salas de cinema, mas também nas livrarias, nas consultas a especialistas do Oculto e também nas práticas esotéricas e/ou religiosas particulares ou grupais...

Não é pois o Ateísmo o que a Cristandade mais teme, mas sim a concorrência - e, a avaliar pelas palavras usadas pelo vigário acima traduzidas, o tipo de concorrência que mais preocupa a Igreja é aquilo que pôs no mesmo saco do chamado Paganismo. Mais: conforme as palavras do cardeal, é realmente o Divino que vem nesta nova onda de religiosidade «perigosa» - mas um Divino seguramente diferente do da Cristandade. Um Divino mais antigo, mais imediato, mais próximo, mais plural - o dos Deuses antigos.