DOIS MIL ANOS DE «ALEMANHA»...

Hermann ou Arminius, lendário líder germânico, que tinha sido soldado do exército romano - a estátua, de sete metros de altura, foi acabada em 1875 e está voltada para oeste, em direcção ao então oponente francês.

Comemora-se agora na Alemanha o nascimento da Nação, pois que foi em Setembro do ano 9 d.c. que os Germanos unidos e conduzidos por Arminius, da tribo dos Cheruscos, infligiram pesada derrota às legiões romanas, atraiçoando o líder militar romano e usando tácticas de guerrilha algures nas florestas de Teutoburgo...

O que é estranho, mas sintomático, é que não parece haver nesta celebração qualquer espécie de euforia ou sentido de grandeza, como seria natural que houvesse. Nada de festivais com bandeiras ou de grande fanfarra...
Muitos Alemães nem sequer sabem da existência de Arminius. Isto porque muitas escolas abafaram a sua história após a derrota de 1945, visto que a figura do guerreiro germânico ficara conotada com o nacionalismo militante do Nacional-Socialismo. O interesse pelo herói parece contudo ter sofrido um novo impulso com a descoberta arqueológica, no final dos anos oitenta, do espaço onde se presume ter sido travada a batalha de Teutoburgo, o que tem sido intensamente abordado nos média.

A chanceler Angela Merkel visitou em Maio o alegado campo de batalha, perto da aldeia de Kalkriese, para inaugurar aí uma exposição sobre as tribos germânicas; no local, realizou-se em Junho um evento no qual quatrocentos actores trajados de soldados romanos e germânicos reconstruíram, usando lanças com pontas de borracha, várias cenas da batalha. O curioso é que a maioria dos actores queria ser «romana», verificando-se uma tal escassez dos que queriam fazer papel de germanos que foi preciso «recrutar» uma série de cabeludos que costumam fazer de Viquingues para se conseguir fazer algo em condições. Mau agouro, de facto.

Há entretanto quem pareça contente com este estado de espírito - Tillmann Bendikowski, autor de um novo livro sobre a batalha e o mito de Arminius, diz que «este aniversário tem corrido muito bem porque tem estado livre da emoção nacionalista. Foi abordado de uma maneira muito mais sóbria do que poderíamos esperar.»

É mesmo assim que certa intelectualidade quer o Nacionalismo - de cabeça baixa, sem alegrias «excessivas»... Porque a alegria do Nacionalismo é a infelicidade deles. E com razão. Sabem o mal que fazem e o castigo que os espera.

Naturalmente, a história de Hermann foi em tempos romanceada e erigida como símbolo nacionalista. Quando no século XVI se descobriu num mosteiro alemão uma narrativa da batalha, escrita pelo historiador romano Tácito, os nacionalistas começaram a ver em Hermann um ícone «religioso» sob o qual podiam unir a Alemanha e fazer face às forças da Igreja Católica, de França e dos Judeus.
Um ícone é um símbolo, um estandarte, um sinal como que divino para resistir ou avançar. Não precisa de ser «perfeito», pois que não é total e dogmático mas sim essencialista - centra-se no essencial, no valor simbólico das coisas, não tem a ambição de descrever a existência ao pormenor.
Alguns anti-nacionalistas ou «realistas» enganam-se por isso quando pensam que, ao contarem a história «factual», deitam por terra os mitos nacionalistas. Assim, neste caso, esforçam-se por mostrar que na realidade os Romanos não ficaram batidos durante muito tempo, pois que seis anos mais tarde retornaram em força e alcançaram grandes vitórias contra os Germanos, além de que mais tarde o heróico Hermann foi assassinado pelos seus próprios heróicos seguidores. Não percebem que tais factos interessam relativamente menos. Não entendem que conta pouco se a derrota veio a seguir, o que realmente deixa marca na memória da Estirpe é que a vitória foi possível e pode voltar a sê-lo. Escapa-lhes efectivamente que o Mito pode em certos casos sobrepujar a História, pois que os exemplos de grandeza, mesmo que no devir histórico venham a ser «desactualizados», permanecem todavia eternamente rutilantes no éter da Alma Nacional.