HOMERO... TINHA MEMÓRIAS DO BÁLTICO?

Um engenheiro nuclear com vastos estudos em Latim e Grego, Felice Vinci, teve uma ideia curiosa - diz ele que as primeiras grandes gestas heróicas da literatura ocidental, a Ilíada e a Odisseia, do helénico Homero, basearam-se em factos históricos que tiveram por palco a zona do Báltico, não no Mediterrâneo.

Vinci usa para fundamentar a sua teoria o estudo do mito, da etimologia e da topografia, bem como a crítica literária. Diz por exemplo que a topografia da Grécia e da Ásia Menor (onde se situaria Troia) não corresponde às localizações geográficas e ao clima descritos em ambas as obras de Homero. Alega Vinci que a única zona da Europa cujo clima e topografia correspondem ao que o rapsodo cego descreve é o norte europeu. Muitos dos nomes dos locais referidos por Homero podem ser encontrados na Finlândia, na Noruega, na Suécia, na Dinamarca e noutros países setentrionais, estando alguns destes topónimos quase inalterados. As distâncias entre as paragens em que se passam estas sagas correspondem perfeitamente ao cenário setentrional.

Acresce que os episódios descritos na Ilíada e na Odisseia nos quais se refere frequentemente o clima tempestuoso, húmido e frio, os dias curtos e as longas noites aponta para regiões norte-europeias.

Vinci usa também o «Catálogo dos Navios» para argumentar que os eventos da Ilíada não se passam no Mediterrâneo e sim no Báltico.

Mais - segundo o engenheiro, a próprios heróis homéricos, no que ao seu comportamento, maneirismos, costumes, vestuário e características físicas diz respeito, têm mais a ver com culturas nórdicas e germânicas do que com culturas mediterrânicas.

Vinci estabelece entretanto uma comparação entre mitos hiperbóreos e a mitologia comparada indo-europeia. Alega que as histórias de Homero narram as migrações de gente norte-europeia que levou consigo os seus mitos quando migrou para o Sul da Europa, eventualmente como resultado da alteração climática.

Não parece contudo haver qualquer fundamentação arqueológica da parte do autor para estabelecer a sua teoria, o que não significa que tal tipo de provas não venha a aparecer.

É uma hipótese interessante, algo bizarra, e não é por o seu defensor não ter formação académica em História que passa a poder ser automaticamente posta de lado - ao fim ao cabo, a em tempos mítica cidade de Tróia foi descoberta por um amador, o comerciante Schliemmann, arqueólogo por pura carolice, comerciante na sua vida profissional.
De um modo ou doutro, dificilmente se consegue separar esses dois pilares da cultura europeia - Ilíada e Odisseia - do contexto cultural mediterrânico, o que, mais do que contrariar o pensamento de Vinci, contribui pelo contrário para assinalar as raizes indo-europeias, eventualmente setentrionais, da estirpe que lançou no Sul as bases da civilização ocidental.