quarta-feira, outubro 15, 2008

MEMÓRIAS DA BD PORTUGUESA - TÓNIUS, O LUSITANO


Quem apreciar o género «Ásterix» e gostar de andar em aventurosas demandas por alfarrabistas e velhas livrarias, tem aqui um «velo de ouro» jeitoso: as aventuras na antiga Hispânia de um lusitano ferrabrás e dos seus amigos - um brutamontes, um bêbado e um gago, que vivem num castro liderado por um chefe a quem ninguém liga peva e cujo vidente só adivinha coisas que se passariam no século XX.

Um aspecto refrescante da «saga» é que, em vez de batalhar contra os Romanos, estes Lusos lutam contra os Mouros, o que, assim de repente, faz figura de grosso anacronismo, mas que talvez não fosse tão impossível historicamente como se possa imaginar à primeira vista. Efectivamente, a Romanização foi um processo lento que pode eventualmente não ter sido total durante o domínio romano da Ibéria. Teoricamente, toda a península caiu debaixo do poder imperial latino, mas na prática é bem possível, senão mesmo provável, que tivessem subsistido no norte hispânico numerosas bolsas, nichos, de agrestes, sóbrios e indómitos montanheses que só nominalmente aceitaram a administração romana mas que volta meia volta estavam em rebelião ou pelo menos em tumulto, quer porque fossem por natureza agarrados à sua herança marcial castreja, quer porque os Romanos pouco interesse teriam em tão agrestes regiões. Talvez não tenha sido por mera fantasia pessoal que o historiador Alexandre Herculano pôs em cena do seu magnífico romance épico «Eurico, o Presbítero» uns quantos combatentes lusitanos, rude e brutalmente armados.

Ora o «Tónius» foi editado há quase trinta anos, quando o País ainda era relativamente pacífico e inocente. Hoje, os seus editores teriam à perna a ACIME, ou a ACIDI ou quejandos beatos do Sacrossanto Anti-racismo, visto que os Mouros, para além de serem sempre os maus da fita, e de só aparentemente serem tolerantes, alimentando sempre a ambição de «nos verem a todos de turbante», ainda por cima aparecem todos representados com um nariz notoriamente semita, a salientar um estereótipo «racista!!!» que «incita ao ódio!!!» ou similar rótulo imbecil que se queira aplicar-lhe para justificar a sua censura.

Em suma, é de procurar e ler, e, sobretudo, legar aos mais novos...

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

os Mouros, para além de serem sempre os maus da fita, e de só aparentemente serem tolerantes, alimentando sempre a ambição de «nos verem a todos de turbante», ainda por cima aparecem todos representados com um nariz notoriamente semita, a salientar um estereótipo «racista!!!» que «incita ao ódio!!!»

Tu davas um bom modelo de mouro. Tens um nariz completamente semita, que faz o devido conjunto com a tua pele meio escura e os teus olhos bem escuros tambem.
Não te vejas ao espelho não, que não precisas nada não senhor.

15 de outubro de 2008 às 19:10:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Ehweheh, tinha de vir um mulato complexado a querer estender aos outros a sua condição... :)

Por acaso o meu nariz nada tem de mouro, nem de perto nem de longe, à luz seja de que critério for, ehehhehh...

15 de outubro de 2008 às 19:13:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

É talvez mais fácil chegar a "Tónius, O Lusitano" adquirindo a colecção da revista Spirou, série 2. O herói teve destaque de primeira página logo no primeiro número da revista, como se pode comprovar pelo link abaixo:
http://www.bdportugal.info/Comics/Col/Franco/Internacional_Spirou2/index.html

20 de outubro de 2008 às 09:56:00 WEST  
Anonymous Ricardo André said...

O criador de Tomius, José Maria André, era meu pai, infelizmente já faleceu à 16 anos. Foram editados mais livros, em especial nos paises baixos, não tenho a certeza, mas o único exemplar editado cá foi mesmo o primeiro "Tomius o Lusitano". Sim, foi uma anologia ao "Asterix", o qual o pai era fã. Além disso, o meu pai trabalhou para a Walt Disney Portuguesa. Foi um mestre na arte de fazer BD em Portugal. Obrigado por terem referenciado o Tonius, foi deveras importante para mim. Foi uma BD esquecida, mas uma referencia do fim da decada de 70 e inicio da de 80. Uma vez mais obrigado.

24 de janeiro de 2010 às 23:22:00 WET  
Blogger Caturo said...

Os meus pêsames pelo seu pai, um artista de mérito. Era bom que os outros trabalhos que referiu também fossem editados cá, se o não foram, seria demasiado absurdo que aparecessem apenas na Bélgica e não no país dos modernos descendentes do Tónius e seus amigos.

Saudações Lusitanas.

25 de janeiro de 2010 às 00:30:00 WET  
Blogger Unknown said...

Eu cresci com o Tónios, e agradeço muito ao seu pai ter brindado a minha geração com este personagem. Pena que não tivesse editado mais, agora entendo porque nunca encontrava mais nada, por muito que procurasse. Quanto ao modo como oe mouros eram retratados, eram demasiado engraçados para que tenham tornado quem quer que seja em racista ou islamofóbico. Antes pelo contrário, instigava-nos a curiosidade por saber quem tingam sido, e à medida que íamos sabendo mais sobre os mouros e a sua cultura, íamos respeitando-os mais como povo. Agradeço ao seu pai ter feito a minha infância muito mais rica.

27 de setembro de 2016 às 23:13:00 WEST  

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