«A DEMOCRACIA É QUE TEM A CULPA»

A embaixatriz paquistanesa na Dinamarca, Fauzia Mufti Abbas, mesmo sabendo que é necessário proceder a um inquérito para apurar a autoria do recente atentado bombista em Islamabad contra a embaixada dinamarquesa, que assassinou oito pessoas e feriu trinta, acredita que este foi motivado pelas caricaturas satirizando Maomé que foram publicadas pelo jornal dinamarquês Jylland-Posten em Outubro de 2005.

Até aqui, tudo bem (por assim dizer, dada a gravidade dos factos). A embaixatriz só disse o que, dum modo ou doutro, é já do conhecimento geral.

Mas Abbas vai mais longe... e, dirigindo a palavra ao Jylland-Posten, afirma o seguinte: «Não é só o povo do Paquistão que sente que foi agredido por aquilo que o vosso jornal começou. Gostaria de saber se o vosso jornal está satisfeito com o que fez e com o que provocou?»

Um embaixador costuma ser diplomático, por motivos óbvios... a prudência, a sensatez, a capacidade de tranquilizar ou de pacificar os ímpetos mais extremistas, costumam ser prerrogativas suas. Se há alguém que tem de ser moderado, é o pessoal que compõe o corpo diplomático.
Paralelamente, «sabe-se» que o Islão é «a religião da paz». É sim, é de certeza, então não é, olá se é. Pois se os muslos o dizem...

Ora, em assim sendo, como é que uma embaixatriz dum dos maiores países islâmicos do mundo (e o único que tem armas nucleares, pormenor que deve ser sempre bem lembrado) faz uma declaração destas?

Isto mostra que, na sua cabeça, os maiores culpados do que sucedeu, e do que pode vir ainda a acontecer, não são os terroristas assassinos, mas sim os jornalistas que, num país livre que nada deve ao Islão (muito menos obediência), resolveram fazer uma brincadeira com a dita religião. Coitadinhos dos bombistas, viram-se obrigados a chacinar pessoas porque, pobrezinhos, foram provocados...
Ainda se tivessem sido provocados em sua casa, no seu país...
Mas não.
A «provocação» ocorreu num país que nada tem a ver com a sua civilização e sobre o qual não têm qualquer espécie de direito.

E continua na senda da culpabilização do ocidental, a senhora:
«Os Dinamarqueses sabem que insultaram pessoas em todo o mundo ao editarem e reeditarem as caricaturas de Maomé, de mau gosto.»

Repare-se - segundo o ponto de vista desta gente, a culpa nem é só dos jornalistas envolvidos na publicação das caricaturas, mas de toda a Dinamarca, por permitir que os artistas das caricaturas tenham liberdade para exprimir os seus pontos de vista na sua própria terra.

É possível uma «aliança de civilizações» com gente desta, que não mostra qualquer capacidade de reconhecer um dos princípios básicos da vivência democrática do Ocidente?

Isto é, objectivamente, querer impor lei islâmica num país não islâmico. É querer desprezar e pisotear todas as fronteiras nacionais, como se o Islão tivesse à partida direito sobre todo o planeta.

E atenção: quem pensa e fala assim não é, neste caso, algum «terrorista» ou extremista «minoritário». É, pelo contrário, uma representante ao mais alto nível dum dos maiores, mais populosos e mais poderosos países islâmicos do planeta.