domingo, abril 27, 2008

«A PROFECIA DE GWENC'HLAN»

Em memória e louvor duma Europa autêntica, aqui ficam uns versos dum bardo e/ou druida bretão do século VI a quem um príncipe cristão (e talvez estrangeiro) arrancou os olhos e aprisionou porque o bardo se recusou a converter-se à fé do Judeu Morto.

O seu nome era Kian, mas ficou conhecido pelo cognome «Gwenc'hlan», autor e sujeito da canção que aqui se traduz, «Diougan Gwenc'hlan», ou «Profecia de Gwenc'hlan», publicada em 1912 por Hersart de la Villemarqué na sua antologia «Barzaz Breiz» («Bardos da Bretanha»).

Neste poema, Gwenc'hlan anseia pela vingança contra o cristão que o prendeu e lhe arrancou os olhos porque o bardo não quis tornar-se cristão. Kian declara que não tem medo da morte e profetiza a vingança que se irá abater sobre o seu verdugo, quando o seu martírio for vingado por um príncipe bretão.

Neste e neste site, podem encontrar-se as traduções em Francês e em Inglês, da qual fiz a tradução para Português. Aí pode também ouvir-se o som instrumental da música (que acompanharia o poema, creio...).

Eis então a versão original, em Bretão (língua céltica do noroeste de França):

Pa guzh an heol, pa goeñv ar mor
Me 'oar kanañ war dreuz ma dor

Pa oan yaouank me a gane
Pa 'z on deut kozh, me 'gan ivez.

Me 'gan en noz, me 'gan en deiz
Ha me keuziet bras koulskoude.

Mard eo ganin stouet ma beg,
Mar 'm eus keuz n'eo ket hep abeg

Evit aon me n'em eus ket,
'M eus ket aon da vout lazhet;

Evit aon me n'em eus ket,
Amzer a-walc'h ez on-me bet

Pan n' vin ket klasket 'vin kavet;
Met pa'z on klasket ned on ket

Ne vern petra a c'hoarvezo
Pezh a zo dleet a vezo

Ret eo d'an holl mervel teir gwezh
Kent evit arsav en diwezh

Me 'wel an hoc'h 'tont eus ar c'hoad,
Hag eñ gwall-gamm, gwallet e droad,

E veg digor ha leun a wad
Hag e reun louedet gant an oad

Hag o soroc'hal war e dro
Gant an naon e voc'higoù

Me 'wel ar morvac'h 'c'h enep-tont
Ken e kren an aod gant ar spont;

Hag eñ ken gwenn hag an erc'h kann
'Zo en e benn kerniel arc'hant

An dour dindanañ o virviñ
Gant an tan-taran eus e fri

Morgezeg en-dro dezhañ ken stank
Hag ar geot war lez ar stank

- Darc'h mat 'ta! Darc'h mat 'ta! Morvarc'h!
Darc'h war e benn! Darc'h mat 'ta! Darc'h!

Ken e riskl er gwad an treid nozh !
Gwazh ouzh gwazh! Darc'h 'ta! Gwazh ouzh gwazh!

Me 'wel ar gwad betek e c'hlin,
Me 'wel ar gwad evel ullenn!

Gwazh ouzh gwazh! Darc'h 'ta! gwazh ouzh gwazh!
Arsaviñ a ri 'benn arc'hoazh

Darc'h mat 'ta! Darc'h mat 'ta! Morvac'h!
Darc'h war e benn, darc'h mat 'ta, darc'h!

Pa oan em bez yen hunet dous
'Klevis an er 'gervel en noz,

Eñ a c'halve a eredigoù
Ha 'n holl evned eus an neñvoù;

Hag e lare dre o gervel
- Savit prim war ho tiwaskell!

N'eo ket kig brein chas pe zeñved,
Kig kresten 'rankomp da gavet!

- Morvran gozh, klev! lavar din-me:
Petra 'choari ganit aze?

- Penn ar Penn-lu 'choari ganin,
E zaoulagad ruz a fell din,

E zaoulagad a grapan naet
'N abeg d'az re en deus tennet.

- Na te, louarn, lavar din-me
Petra c'hoari ganit aze?

- E galon a c'hoari ganin
Oa ken diwir ha ma hini,

He deus droukc'hoantaet da lazhañ,
He deus da lazhet a bell 'zo

- Na te, lavar din-me, touseg!
Petra 'rez aze 'korn e veg?

- Me a zo amañ 'n em lakaet
'C'hortoz e ene da zonet;

Ennon-me 'vo, tra 'vin er bed,
E kastiz reizh eus e dorfed

E-keñver ar Barzh na chom ken
Etre Roc'h-Allaz ha Porz-gwenn.



Tradução:

1 - Quando o sol se põe e os mares crescem,
Canto na casa onde moro.

2 - Quando era novo, costumava cantar;
Agora estou velho, e ainda canto.

3 - Canto de noite, canto de dia,
Mas estou angustiado e posto à parte.

4 - Curvo a cabeça, em aflição,
E não é sem razão.

5 - Não é por estar com medo
De ser morto: isso não me importa.

6 - Não sinto nem terror nem assombro;
Já vivi tempo que chegue até agora.

7 - Quem não me procurar, encontrar-me-á;
Quem me procurar, não me encontrará.

8 - Não me importo com o futuro:
Aquilo que tiver de ser será, isso é certo.


O bardo tem então uma visão: um javali ferido com a sua cria, que um cavalo marinho branco ataca furiosamente com os seus cornos de prata, criando um lago de sangue.
Outra visão: o bardo, na sua sepultura, ouve uma águia a chamar as suas crias e todos os pássaros do céu para que se possam alimentar da carne cristã.
Um corvo arranca os dois olhos vermelhos da cabeça do chefe cristão que aprisionou o bardo e lhe arrancou os olhos. Uma raposa estraçalha o seu coração hipócrita.


« - Diz-me, sapo, por que esperas tu,
Aqui à beira da boca dele?

- Tomei posição aqui
Para lhe arrebatar a alma que ele expirará.

Que possa ficar em mim até eu morrer:
Esta é a punição pelo seu crime

Contra o bardo que em tempos viveu
Entre Porzh-Gwenn e Roc'h-Allaz.
»

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sabem que mais?Estou com saudades da Tresurseeker.Acho que isto sem ela não é a mesma coisa.Alguem sabe-me dizer o que é que é feito dela?Desejo-lhe toda a felicidade do mundo.

27 de abril de 2008 às 18:14:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

profetiza a vingança que se irá abater sobre o seu verdugo, quando o seu martírio for vingado por um príncipe bretão."

coitados dos Bretões, hoje nem lingua nem independencia tem.
Parece que a tal vingança nunca chegou a acontecer. Parece que as coisas estao cada vez piores para os lados da Bretanha e europa em geral.

27 de abril de 2008 às 19:13:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Os Bretões não têm independência, ainda, mas ainda têm língua nacional.

27 de abril de 2008 às 19:30:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Vi uma cena no filme "O Patriota",com o Mel Gibson,que me fez confusão.Na cena onde os soldados ingleses deitam fogo a uma igreja cheia de gente,o coronel inglês,ao fechar as portas da igreja,diz ao padre que não acha que o deus dele (do padre) os salve das chamas.Querem ver que o coronel Tavington era pagão?

27 de abril de 2008 às 19:32:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Não,pá.Não é assim.Nessa parte,o coronel inglês diz às pessoas dentro da igreja:"Isso é entre vós e o vosso Deus".

27 de abril de 2008 às 19:40:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

O Caturo deve ter adorado essa cena.

27 de abril de 2008 às 19:44:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Grande actor o Jason Isaacs.

27 de abril de 2008 às 20:03:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Isaacs? Isso é apelido de judeu, caralho!

28 de abril de 2008 às 17:00:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Que poema lindo! Bem haja!

28 de abril de 2008 às 21:39:00 WEST  
Blogger Silvério said...

Bem bonito. O Caturo lá descobres estas coisas.

28 de abril de 2008 às 21:54:00 WEST  

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