ANGÚSTIA E SERENIDADE - MODERNIDADE E HERANÇA TRADICIONAL

A Cidade do Sossego é seguramente um dos melhores blogues da área nacionalista que tem aparecido nos últimos tempos. Com textos curtos e sucintos, mas em linguagem clara e inteligentemente mordaz, o camarada Harms diverte-se a alvejar o ridículo do politicamente correcto estabelecido, a hipocrisia estupidamente descarada e a pretensa irreverência da moda, que é na verdade cobarde e ovina de todo, entre outras torpes manifestações do saloiame vigente.

Um tópico (texto que a seguir se coloca a itálico) seu do início do corrente mês merece-me entretanto um comentário:

"Chamo demoníaca àquela inquietação originária e essencial com que cada indivíduo nasce e que o arranca para fora de si mesmo em direcção ao infinito, aos elementos primordiais, como se a natureza por assim dizer tivesse deixado em cada alma individual uma parte inalienável e inquieta do seu caos de outrora, uma parte que com impaciência e paixão quisesse regressar a essa elementaridade sobre-humana. O demónio, o daimon, corporiza em nós a substância levedante, o fermento inquieto, torturante, em permanente tensão, que impele o ser para fora da sua quietude habitual em direcção a tudo o que há de perigoso, em direcção à desmesura, ao êxtase, à renúncia e aniquilamento de si mesmo; na maior parte dos homens, nos indivíduos medianos, essa parte da alma, a um tempo preciosa e perigosa, depressa é sugada e dissipada;(...) as pessoas equilibradas abafam o impulso fáustico que haja dentro de si, cloroformizam-no com a moral, anestesiam-no com o trabalho, contêm-no com o dique da ordem: o burguês é sempre arqui-inimigo do caótico, não apenas no mundo, na sociedade, mas também dentro de si próprio. Porém, no homem superior, sobretudo no homem produtivo, a inquietude, a insatisfação com a repetição das tarefas quotidianas, continua a exercer um poder criativo, dando-lhe 'aquele coração superior que a si mesmo se tortura' (Dostoievski), aquele espírito interrogativo que muito para lá de si próprio estende a sua nostalgia em direcção ao cosmos"- Stefan Zweig

Prometeismo. Este tipo de prometeismo parece um sintoma típico da grande angústia que marca a época contemporânea: a constante incerteza de si mesmo, a dúvida instituída, não apenas como modo de pensar, método ou limite à estupidez arrogante, mas até como modo de ser e de sentir, o tremelique d'alma como emblema, uma certa tibieza activista, que acaba por produzir uma agitação constante, desiquilibrada, viciosa e ao fim ao cabo masoquista, como bem se pode ler nas passagens que engrossei. Parece-me também que há qualquer traço de Cristianismo primitivo nesta inquietação, neste sofrimento ante a «tirania» da Natureza e a imensidão do Cosmos, nesta incessante, conflituosa e torturante vontade de romper com a sociedade.

E depois é o pobre e bom «burguês» que paga as favas (o snobismo social promovido a posição filosófica), e quem quer simplesmente viver num mundo ordeiro sem chatices acaba rotulado de medíocre para baixo...

Ora nas eternas tradições indo-europeias (e não só), os Deuses principais são ordenadores por excelência, muito mais do que criadores. E a componente violenta de algumas Divindades só se exerce no esforço de manutenção dessa Ordem.

Todavia, querem os Stefans Zweigs, os Júlios Evolas, os Nietzsches, os anti-burgueses deste admirável mundo novo, que Prometeu seja superior a Zeus, a Atena, a Apolo e à generalidade dos outros Deuses...