domingo, março 11, 2007

FILHO DE DEUS



No dia 11 de Março, os Gregos celebravam o Festival de Hércules. O seu nome propriamente helénico é Héracles, e todos o conheciam como Filho de Deus. Tão grande era o amor do povo por este homem que muitas histórias fantásticas se atribuíam ao seu nome.
De acordo com a lenda grega, ele nasceu de Deus (Deus ou Zeus - até etimologicamente tem a mesma raiz) e uma mãe virgem, a partir dum acto sexual que durou três dias.
Era conhecido como O Que Cura e, enquanto vivo, ressuscitou duas pessoas, um homem e uma mulher.
Certa vez, desceu ao Inferno por três dias.
De acordo com a lenda, sofreu uma morte horrivelmente dolorosa, e muito injusta, às mãos dos seus inimigos, nomeadamente a corte do poderoso rei de Tebas.
Após a sua morte, reapareceu para mostrar aos seus amigos mais próximos que ainda estava vivo e depois ascendeu corporalmente ao céu.
Os seus amigos e seguidores, conhecidos como os Heracleides, foram perseguidos a seguir à sua morte.

Os cristãos imitaram, claramente, estas histórias, para ganhar terreno com base no amor do povo pelo Filho de Deus original, e também copiaram a imagem da face europeia de Hércules. Atribuíram tudo isto a Jesus de Nazaré, chamando-lhe Messias e Filho de Deus, embora as profecias do Antigo Testamento não tivessem dito nada sobre o Messias ser filho de Deus.
Hércules era, enquanto vivo, o mais forte dos homens, sendo também bastante impulsivo e brutal. Usava como protecção e divisa uma pele de leão (leão que fora morto por ele, o de Nemeia). Como armas, tinha preferência pelo arco e flecha e, sobretudo, pela clava ou moca, arma esmagadora por excelência. Perdia a cabeça facilmente e, quando isso acontecia, ia tudo raso, já que ninguém se lhe comparava em poder, e, assim, partia tudo e batia em quem quer que se lhe pusesse à frente. Mas, no fundo, era justo e aceitava os castigos merecidos. Era um bocado ingénuo, parecendo estúpido por vezes, mas tinha uma inteligência prática que lhe permitia safar-se sempre e vencer sempre os oponentes. Hércules era assim um semi-deus muito popular na Grécia e em Roma, especialmente entre os soldados. Uma imprecação muito utilizada pelos homens (não pelas mulheres) gregos e romanos era «Mehercule!» (em vez de «Ai Jesus!» ou de «Porrrrra!...»). Foi um dos cultos pagãos que mais resistiu ao Cristianismo.


Parece significativa a semelhança de Hércules com o arquétipo do Deus Guerreiro dos Indo-Europeus - é altamente provável que, originalmente, os mais arcaicos Indo-Europeus tivessem no seu panteão a figura do Grande Combatente Celestial, caracterizado pela brutalidade mas também pela Justiça, bem como por uma certa ingenuidade, e Cuja arma (principal) é uma clava ou algum outro objecto relativamente curto e usado para esmagar ou partir.
A versão nórdica desta Entidade é Thor (Thonar, Thunor, na Germânia) , Deus do Trovão e da Guerra, o mais forte ser do Universo, Aquele Cujo símbolo e arma é o martelo Mjollnir (a arma suprema dos Deuses), que constitui actualmente o principal emblema dos modernos adoradores dos Deuses Germânicos;
- a versão báltica, é Perkunas, Deus do Trovão e da Guerra, Ferreiro dos Céus;
- a eslava, é Perun, Deus do Trovão e da Guerra;
- a ariana da Índia, é Indra, Deus do Trovão e da Guerra, de cabeleira clara, grande bebedor (tal como Thor), condutor da horda ária contra os inimigos drávidas, gente de pele escura.
A Sua versão céltica (gaulesa) poderá ser (embora não haja certezas) Taranis, Deus do Trovão, poderosíssimo mas ingénuo («hebetos», fácil de enganar).*
Ora esta Entidade parece ter desaparecido do panteão dos antigos Latinos e Gregos, ou, mais provavelmente, sido absorvida pelo Grande Deus do Céu, Júpiter para os primeiros, Zeus para os segundos, já que tanto um como outro têm fortes ligações à guerra. Todavia, o arquétipo do Grande Guerreiro da Clava jazia porventura dormente na alma destes indo-europeus meridionais e, aparentemente, a Sua memória e essência plasmou-se no semi-Deus Hérakles (Hércules para os Romanos).


Torre de Hércules, na Corunha, Galiza; não muito longe, pode ver-se a estátua de Breogan, lendário ou mítico rei celta de Brigantium (eventualmente, Bragança), filho de NémCéu» e «Sagrado»), pai de Bile e de Ith, antepassado dos Filhos de Mil, que, do alto duma torre (talvez esta), avistaram a Irlanda e resolveram invadi-la, lutando aí contra os Tuatha dei Dannan, até que se apoderaram da terra dos Irlandeses. Aliás, outro dos nomes da torre é precisamente Torre de Breogan. Esta personagem tornou-se de tal modo importante para os galegos nacionalistas que o Hino oficial da Galiza tem o nome de Nação de Breogam. (Uma parte deste hino esteve proibida aquando do regime franquista).
Mas este monumento é mais comumente designado como Torre de Hércules, o que está ligado ao mito que atribui a sua construção a uma das doze façanhas de Hércules, quando por aí passou - diz-se que o rei local, Gérion, tirano opressor cujos súbditos pediram a Hércules que os salvasse da desgraça em que viviam. Hércules foi então ao encontro de Gérion, monarca guerreiro formidável, que ostentava três escudos e três lanças (o que pode ter a ver com a importância da trindade para os povos célticos), bateu-o e enterrou a sua cabeça no local donde depois erigiu a torre, à maneira céltica. Por esse motivo, o brasão da Corunha tem como tema uma torre com uma caveira por baixo. Hércules mandou então aí se fizesse nova povoação. A primeira pessoa que a veio povoar foi uma mulher de nome Cruna, e, assim, o nome da terra passou a ser Corunha (in «Narrativas da Crónica Geral de Espanha de 1344», editora Vega).
Historicamente, a torre era um farol romano, que parece datar do século II, tendo sido construído, ou reconstruído, por ordem do famoso imperador Trajano.
Na base da torre está uma inscrição com os seguintes dizeres:
MARTI AUG.SACR C.SEVIVS LUPUS ARCHTECTUS AEMINIENSIS LVSITANVS.EX.VO
o que indica que quem a construiu foi o arquitecto Gaius Sevius Lupus, de Aeminia (actual Coimbra) como um cumprimento de promessa religiosa (ex-voto) a Marte, Deus da Guerra.
Como se pode ler na «Crónica Geral de Espanha de 1344», há outros mitos relacionados com a passagem de Hércules pela Ibéria, nomeadamente na Lusitânia (cujo nome derivaria, segundo este mito, do facto de Hércules ter aqui realizado jogos em honra de Diana, Deusa da Lua e do Bosque) e em Toledo, onde teria construído uma casa maravilhosa, de várias cores, que encerrava em si uma narração do futuro da Ibéria.



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* Independentemente do aspecto arcaico, proto-histórico, que tem a figura de Hércules, é de notar que, em tempos históricos, isto é, muito mais recentes, os Celtas Gauleses, segundo o que diz o autor clássico Lucano (século I d.c.), identificavam o seu Deus Ogmios (Ogma, na Irlanda) com Hércules - Ogmios era representado como um idoso transportando um arco e flecha e uma enorme clava; e, da sua língua, pendiam tiras cujas extremidades traziam agarrados vários homens e mulheres. De acordo com o que um gaulês (talvez um druida) explicou a Lucano, os Gauleses achavam que a eloquência pertencia a Hércules, não a Mercúrio, porque Hércules era muito mais forte.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Breogan, gallego universal

25 de março de 2007 às 18:42:00 WEST  

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