terça-feira, março 30, 2004

A DESCRENÇA E O RANCOR DE QUEM QUER MATAR DEPOIS DE SER MORTO

Saramago, no seu último livro, «Ensaio Sobre a Lucidez», faz a apologia do voto em branco.
No entanto, é candidato, pelo Partido Comunista, ao Parlamento Europeu. Diz que essa contradição se resolve pela sua «fidelidade ao partido».

Ainda se dissesse que o ideal era que oitenta e tal por cento dos eleitores votassem em branco mas que, como tal é implausível, o melhor possível é votar no partido que parecer menos mau... ainda se dissesse isso, teria sentido a sua posição....

--- agora, evocar a fidelidade partidária, eis o que constitui um ridículo risível. Pois se é precisamente a fidelidade partidária que tantas vezes garante aos partidos o seu poder e sobrevivência... se é essa fidelidade partidária que pode, nalguns casos, levar a um dos maiores males da democracia partidária, que é a do sacrifício da consciência individual em prol do poder de determinada formação política.

Não costumo seguir as opiniões de outros, muito menos as dos pêpês, mas, por outro lado, também não gosto de apresentar como minhas as ideias que me são apresentadas, já completas, por outros. E, por isso, tenho de dizer que Pires de Lima acertou bem quando afirmou que José Saramago apela ao voto em branco porque é um amargurado desiludido - desiludido com os regimes que ele próprio apoiou, no passado, e que demonstraram ser horrores políticos.

E digo eu: como as utopias dele não resultaram, também não gosta das dos outros e, naturalmente, quer por todos os meios deitar abaixo as ideologias que competiram com o Comunismo e que sobreviveram ao confronto.