segunda-feira, dezembro 11, 2023

MEMÓRIA DO RETORNO SAGRADO AO RITO NACIONAL

                                         


A 11 de Dezembro de 361 entrou Juliano em Constantinopla como soberano único do Império Romano, dando início a um período tão curto como brilhante da história religiosa de Roma e do Ocidente, dado que Juliano, ao qual os cristãos acrescentaram o cognome de «Apóstata», por ter renunciado ao Cristianismo e retornado ao culto dos Deuses pagãos, instaurou com o seu domínio a restauração religiosa da Romanidade.
O 11 de Dezembro era paralelamente marcado, no calendário romano, por diversas celebrações religiosas - Agonália, entre outras - e em particular pela Septimontium, em memória da união dos vários povoados latinos, oferecendo cada monte um sacrifício a Palátua. O ritual era conduzido pelo flâmine palatualis, ou sacerdote de Palátua. O facto de a Divindade ter um flâmine indica a sua relevância em tempos arcaicos - entre as inúmeras Deidades romanas, só quinze tinham um flâmine (três «maiores», de Júpiter, Marte e Quirino, e doze menores, de instituição provavelmente posterior). Note-se que em Abril a data da fundação de Roma é marcada pela Parilia, cerimónia religiosa em honra de Pales, a Deusa Protectora dos Rebanhos. Palatua, por Sua vez, é também uma Deusa Guardiã, nomeadamente do monte Palatino, o primeiro de Roma. Do Seu nome deriva a palavra «palácio». 
A figura da Divindade feminina protectora Cujo nome radica em Pal- será eventualmente uma das mais antigas e disseminadas do mundo indo-europeu. Na Grécia, uma das mais importantes Deusas, Atena, protectora de Atenas, tinha nesta cidade o título de Pallas; nota-se a semelhança (como fez Georges Dumézil) entre Pallas e as romanas Palátua, protectora do Povo, Pales, protectora dos rebanhos, e a indiana Vispala, Deusa igualmente protectora dos rebanhos, mas em Cujo nome «Vis» significa «Tribo», «Casa». É pelo menos uma coincidência valiosa que haja na Lusitânia uma Deidade Cujo nome indica uma óbvia semelhante com os teónimos acima referidos: Trebopala, em que«Trebo» significa, em Céltico, «Tribo», «Povo», enquanto «-pala» terá o sentido de «Protecção». A lusitana Trebopala seria pois exactamente equivalente, na Sua origem e significado, à indiana Vispala, como se pode deduzir da leitura do artigo «O Sacrifício entre os Lusitanos», da Dra. Maria João Santos Arez, bem como da tese de licenciatura do Dr. Andrés Pena Granha, intitulada «Território Político Celta na Galícia Prerromana e Medieval».

E ainda hoje a palavra «pala» é em Português usada com o sentido de protecção... «viver à pala de», é, como se sabe, «viver sob a protecção de», ou «à custa de», e constitui expressão assaz usual.

2 Comments:

Blogger betoquintas said...

Segundo a página Theoi, Pallas é uma ninfa dos lagos da... Líbia. Oops.

13 de dezembro de 2023 às 18:32:00 WET  
Blogger Caturo said...

OOps em quê?... Havia gregos na Líbia... e, já agora, é bem possível que, antes disso, arcaicos indo-europeus se tenham lá estabelecido. A representação de um líbio com pele notoriamente clara na tumba de Seti é significativa: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cb/Egyptian_races.jpg
(Da esquerda para a direita: líbio, núbio, levantino (Médio-Oriental) e egípcio.)

13 de dezembro de 2023 às 22:00:00 WET  

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