domingo, janeiro 15, 2023

O PRIMEIRO REI, FUNDADOR DE ROMA, BASE DA NOSSA LATINIDADE


https://www.youtube.com/watch?v=3CKqTNLaXEE

«O Primeiro Rei», «Il Primo Re» em Italiano, com o título internacional de «Romulus and Remus: The First King», é película italiana de 2019 que representa em tom realista o mito, ou lenda, dos irmãos Rómulo e Remo, filhos de uma vestal Reia Sílvia e de Marte, Deus da Guerra, que da cidade de Alba Longa saíram - ou fugiram, ou foram expulsos - para fundarem Roma.
Brilha a obra, digo eu, pela verosimilhança que consegue dar à única língua falada do princípio ao fim, alegadamente proto-latina, ou seja, um Latim arcaico ainda a brotar do ramo italiota da família indo-europeia. A palavra «irmão», por exemplo, que é «frater» em Latim, ouve-se da boca das personagens como «brater» ou «breter», mais semelhante portanto aos demais vocábulos indo-europeus com o mesmo significado, nomeadamente o sânscrito «bhrātā», o persa «barādar» e o inglês «brother». Cabe aos linguistas argumentar sobre a credibilidade da escolha. Por mim, gosto, acho convincente. De resto, a generalidade das palavras é proferida entre o sussurro e o resmungo, o que só reforça a sensação de realismo. 
O realismo do filme passa também pela crueza da violência exibida - que nem é demasiada, diga-se - e, ainda no campo da imagem, pela frugalidade e rudeza de roupas e ambientes. É lama e trapos por todos os lados, se calhar um bocadito em excesso. Nisso, a série, que também já comentei, parece-me mais plausível e razoável, pelo menos mostra umas moradias relativamente espaçosas e limpas, bem como caras menos enlameadas. 
No que a intenção realista talvez peque por excesso é, a meu ver, na sua representação da religião. Não vou discutir com os especialistas que eventualmente terão sido consultados por quem fez o filme. Simplesmente não acredito que mais nenhuma Divindade se invocasse na arcaica Alba Longa para além do Fogo. Júpiter não foi inventado por Rómulo depois da fundação de Roma. Na série, é referido com o nome mais arcaico de Dies Piter («Júpiter» é deste termo o vocativo, ou seja, «Ó Tu, Dies Piter» = Júpiter), que tem óbvios equivalentes noutros ramos da família indo-europeia, nomeadamente no da Índia, onde o Deus do Céu Se chama precisamente Dyaus Pitar. Milhares de anos separam os Árias indianos dos Latinos, pelo que a conservação quase intacta do teónimo mostra bem o grau de conservadorismo que chegou a haver em matéria religiosa no mundo indo-europeu.
Inspiradora é, por outro lado, a versão do mito que adopta ou o modo como o interpreta e representa - Remo, que até meio da história parece ser o herói por excelência, acaba por cair numa arrogância tirânica e ateia, aquilo a que com propriedade se chama «hubris» em Grego, enquanto Rómulo mantém a sua religiosidade intacta, bem como um notório respeito para com as populações circundantes; esta é, ainda, a primeira vez que vejo o fratricídio de Rómulo sobre Remo contado de maneira tal que o papel de Remo é mais agreste que o do irmão. 
É, no seu todo, um trabalho que todo o bom nacionalista latino tem obrigação de ver, mesmo que apanhe seca valente ou se ponha a ler o jornal até o filme acabar, há que pelo menos deixá-lo rodar e divulgá-lo. A fotografia e a interpretação, de resto, não o deixam ficar mal, oferecem algo a quem aprecie cinema.