SOBRE A FACILIDADE COM QUE SE INSULTA UM DOS SÍMBOLOS DA HISTÓRIA PÁTRIA
Paulo Portas teve há pouco o descontraído e ligeiro despudor de culpar Dom Sebastião por alegadamente ter desgraçado a Nação. Mais não fez, nisso, do que repetir o que se tornou hábito - é típico da Direitinha beata actual culpar o jovem monarca pelo(s) desastre(s) de 1580, nomeadamente a tragédia de Alcácer Quibir e a perda da independência nacional aquando da invasão castelhana posterior. É típico, de facto, e a Esquerda faz o mesmo.
Porquê que vozes de ambos os quadrantes parecem concordar nisto?
Porque à Esquerda dá jeito bater num dos símbolos do passado tradicional português e D. Sebastião é um dos maiores; à Direitinha católica, é fácil escolher o exaltado e ingénuo soberano adolescente como bode expiatório do que sucedeu.
Ora o maior e verdadeiro culpado da perda da independência nacional foi o cardeal D. Henrique. D. Sebastião, preparado desde a mais tenra infância para ser um cavaleiro da fé cristã, dificilmente poderia ter feito melhor - mesmo assim, teve discernimento suficiente para perceber que poderia não retornar de Alcácer Quibir e, por isso, delegou no cardeal a escolha do rei seguinte. Pudera, D. Sebastião foi educado a acreditar no padralhame, que poderia ele fazer além disso?
Foi então o cardeal que não cumpriu o seu dever para com o País - ou por corrupção pessoal ou por maior fidelidade ao ideal de união ibérica que porventura agradaria à Igreja, a qual sempre foi algo reticente em reconhecer a independência portuguesa, já desde D. Afonso Henriques... Desta feita, o cardeal D. Henrique não reconheceu D. António Prior do Crato como sucessor de D. Sebastião no trono português, o que se revelou decisivo para que D. Filipe II de Espanha facilmente invadisse Portugal e as forças de D. António Prior do Crato fossem insuficientes para deter a invasão, até para convocar o apoio inglês nesse momento; o povo sabia-o, tanto que, nessa altura, generalizou-se na voz popular a condenação do dito clérigo:
«Que o cardeal-rei dom Henrique
Fique no Inferno muitos anos
Por ter deixado em testamento
Portugal, aos Castelhanos».
1 Comments:
O etnomasoquismo entra em todos os domínios, o histórico é sem duvido dos mais afectados. E á medida que mais populações alógenas entram em Portugal, nomeadamente de ex-colónias com populações não-europeias recalcadas, pior será.
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