segunda-feira, janeiro 31, 2022

RESULTADOS ELEITORAIS

Os resultados eleitorais de ontem não foram muito surpreendentes - surpreendentes, sim, mas, no essencial, não demasiado...
A ascensão meteórica do Chega dá-me razão - ando há vinte anos a dizer o mesmo, por vezes falando para as paredes, enquanto para mim olhavam como boi para palácio, frequentemente pior que isso, porque pelo menos o boi não diz asneiras, e agora repito, pela enésima vez: a Democracia leva água ao moinho da Ultra-Direita.
Dada a sua natureza eminentemente tribal, a Ultra-Direita é, sempre foi, a tendência política com mais potencial de crescimento em Democracia.
É assim em toda a parte do mundo e nunca houve razão para que em Portugal o não fosse. Ouviam-se as considerações «racionais», tanto à Esquerda como à «Direita» dos acéfalos seguidistas, a dizerem, desesperançados, «ai isto em Portugal não há hipótese porque os tugas gostam muito do multiculturalismo...», ao que eu lhes respondia que não, carvalho, não gostam. O Povo Português é um Povo europeu como outro qualquer; logo, tem tanto potencial para votar na Extrema-Direita como qualquer outro Povo europeu, seja o de França que vota RN (FN), seja o de Itália que vota Liga Norte, seja o da Suécia que vota SD... Agora, a relativamente esbelta Catarina Martins pagou com monumental melão as décadas em que os seus comparsas andaram a garantir que Portugal era incompatível com «raciiismo!»…
Guinchavam, os «analistas», que em Portugal a memória do Estado Novo ainda era muito forte e por isso o povinho não queria Extrema-Direita… o que não tem corno a ver com a realidade. A influência do Estado Novo prejudicou a ascensão do Nacionalismo, sim, mas não devido à opinião popular «anti-racista!» e sim porque em Portugal demasiada gente na área nacionalista esteve quase sempre, ao longo de décadas, agarrada ao ovino e mentecapto dogma do ódio de princípio à Democracia e ao desprezo pelo povo. Evidentemente que não pode ter bom desempenho em Democracia quem militante e consistentemente a odeia.
Houve um outro que disse, há quatro ou cinco anos, que «em Portugal ainda não há Extrema-Direita porque ainda não calhou…», o que, ironicamente, foi a tirada menos palerma de todas – cretina, sim, mas menos que as outras. Ora não é «não calhou», é não havia dinheiro. Sim, foi só assim. Quem anda pelos círculos elevados da sociedade, ou até se endivida para conseguir dinheiro para uma campanha eleitoral (caso do «Livre»), não tem ideia do que é estar num partido sem carcanhóis suficientes para mandar que um invisual entoe uma melodia, quanto mais para aparecer regularmente diante dos olhos de dez milhões de pessoas.
O Chega está tão somente a ter o resultado que o PNR/Ergue-te teria tido se tivesse dinheiro.
Acresce que a formação autenticamente democrática de quem lidera o Chega fá-lo estar no regime de Abril como peixe na água.
Revelou-se aliás absolutamente esclarecedor que, em quarenta e tal anos de Democracia, a primeira vez que a Ultra-Direita entrou no parlamento foi pelo pé de um político de fora - de fora, de fora, de fora, do lado de fora - da área nacionalista.
Ventura vem do PSD e toda a vida política dele se desenrolou no campo da democracia abrilina. Soube, com mestria, desligar-se da associação ao Estado Novo e à violência ditatorial que assusta os eleitores normais de um país europeu do século XXI. Claro que agora alcançou uma brutal vitória, como os seus congéneres europeus, porque ultrapassou o obstáculo entre o Nacionalismo e o povo, que era o obstáculo da comunicação e dos mal-entendidos sobre a Democracia.
Quanto à «Direitinha», o PSD foi vampirizado pela IL, o CDS foi por ela esvaziado – é justo, pois que ao longo dos últimos anos, PSD e CDS mais não fizeram no parlamento do que defender os interesses privados. Foram e são, não uma dupla de partidos propriamente dita, mas sim uma parelha de sindicatos do patronato e das classes altas. O betalhame das privatizações está atento e vota em peso num partido de sangue novo, com pinta de profissional e competitivo, que é o que este pessoal mais ama. Duvido que a IL tivesse tal percentagem eleitoral se houvesse menos abstenção - sucede simplesmente que grande parte da população está amorfa, imbecilmente não acredita que o voto sirva para alguma coisa, pelo que não vai votar, pelo que deixa aos que votam a escolha do futuro imediato do País. Merecerão o mal que lhes acontecer a partir daí - porque a Democracia é nisto muito justa, dá ao povo aquilo que o povo tendencialmente merece, seja por votar mal seja por não votar.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A minha análise do que acho que aconteceu:

O Chega soube aproveitar os ataques contra Portugal vindos da extrema-esquerda nos últimos anos, sobretudo, vindos da linha da joacine, mamadou, bloco de esquerda e também da real tentativa por parte de António Costa de extinguir Portugal etno-culturalmente com a atrocidade histórica que é a lei da nacionalidade.
O Ventura teve o mérito de saber ver, que uma parte considerável da opinião publica se insurgia com isso. Os nacionalistas e identitários levaram em frente a sua agenda, ao ponto de se questionar no parlamento a substituição demográfica dos portugueses e dos europeus, assim como vários outros temas. O que fez do Chega o partido contra o Status-Quo, temas como a corrupção também passaram a ser bandeira o que ainda aumentou mais as hostes, isto aliado a um conjunto de plataformas digitais (Chega, Invictus Portucale, Assoc. Portugueses Primeiro, mesmo tipos como o Tilly e plataformas como o Bom Europeu) e vários outros acho que teve um real impacto em muita gente e abriu os olhos a muitos, e furou aquilo que os média ditam e tanto ainda ditam, que o Partido Socialista teve 50% dos votos.
O Ergue-te parece-me que a determinada altura, por volta de 2019-2020 perdeu completamente o norte, ao ponto de o presidente do partido andava quase a fazer campanha pelo Bolsonaro, de um país da américa latina, o que é isso interessa aos portugueses? nada. Já o Chega andava a falar daquilo que afecta os portugueses; a corrupção, salários, a impunidade das "minorias", a imigração massiva. Agregou no seu eleitorado os votos do CDS e os que seriam do ergue-te e trouxe votos de toda a gente. Veja-se aquilo que aconteceu no Alentejo, o Chega, já nas presidenciais o tinha feito, Ventura tirou parte do eleitorado comunista. Na cintura urbana de Lisboa, nas presidenciais, faz segundo em quase toda a cintura suburbana de Lisboa e agora nas legislativas o Chega faz terceiro em Sintra, Loures, Odivelas, Amadora, além de o fazer em quase todo o país, interior ou litoral, o que mostra que consegue atingir vários públicos. Só não percebo o que se passou no Porto, foi os liberais? ou o fanatismo da bola? mesmo que depois tenha acabado por conseguir eleger 2 deputados também no Porto. Em Braga também faz terceiro acho que em todos os concelhos, e no Algarve é onde o Chega tem mais votos em percentagem, de todo o país, acho que já com o PNR assim era. A Linha de Cascais foi para o IL, que são os bloquistas do dinheiro e provavelmente também nos betos da Foz no Porto. Há pouco vi a noticia que os concelhos onde mais o Chega teve votos, é onde o poder de compra é mais baixo, e onde há menos desemprego, como tal menos RSI.
Onde houve mais votação por concelhos, foi Elvas, Moura, Monforte, o Chega teve mais de 18% do eleitorado, e ficou em 2º, causa, problemas com os lelos, quase de certeza. E depois no Algarve, Albufeira, mais de 15% e parecido a uma séria de outros concelhos, será por causa da criminalidade?
No total são 4 deputados de Lisboa, 2 do Porto, 1 de Faro, Setubal, Braga, Leiria, Aveiro e Santarém. 12 ao todo.

31 de janeiro de 2022 às 19:29:00 WET  
Blogger Caturo said...

«Há pouco vi a noticia que os concelhos onde mais o Chega teve votos, é onde o poder de compra é mais baixo,»

Sim, é assim em toda a parte - a dita Ultra-Direita ganha os votos das classes baixas e menos cosmopolitizadas, por assim dizer, menos dadas por isso ao internacionalismo militante das elites urbanas.

31 de janeiro de 2022 às 21:20:00 WET  

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