JÚPITER LATIARIS - DEUS MÁXIMO DA LATINIDADE

O culto de Iuppiter Latiaris, ou Júpiter Lacial, é o mais antigo culto conhecido deste Deus. Praticava-se desde tempos remotos no topo do Monte Albano onde Júpiter era venerado como alto protector da Liga Latina, sob a hegemonia da cidade de Alba Longa.

Após a destruição de Alba Longa por Tullus Hostilius, ou Túlio Hostílio, terceiro rei de Roma, o culto foi abandonado. O Deus manifestou então o Seu descontentamento através de uma chuva de pedras no Monte Albano. Os enviados pelo Senado para saber o que tinha realmente acontecido foram também saudados por uma chuva de pedras e ouviram uma alta voz do bosque no topo do monte a exigir que os Albanos realizassem o serviço religioso ao Deus de acordo com os ritos do seu país. Em consequência deste evento, os Romanos instituíram um festival de nove dias (nundinae). Seguiu-se todavia uma praga; no final, o próprio Túlio Hostílio adoeceu e foi finalmente morto pelo Deus com um raio. O festival foi restabelecido no seu local primitivo pelo último rei romano Tarquínio o Soberbo, sob a liderança de Roma.

As feriae Latinae, ou Latiar, como eram conhecidas originalmente, eram o festival comum (panegyris) dos chamados latinos priscanos ou primeiros latinos (antes da fundação de Roma) e dos Albanos. A sua restauração teve como objectivo fundamentar a hegemonia romana nesta tradição religiosa ancestral dos Latinos. O culto original foi restabelecido inalterado, como atestam algumas características arcaicas do ritual: a exclusão do vinho do sacrifício, as ofertas de leite e queijo e o uso ritual do arremesso entre os jogos. O arremesso é um dos ritos mais antigos e imita a ascensão ao céu; estava muito difundido. No Latiar, o arremesso ocorria numa árvore e o vencedor, claro, era aquele que atirava mais alto. Diz-se que este rito foi instituído pelos Albanos para assinalar o desaparecimento do rei Latino na batalha contra Mezentius, rei da Caere: o rito simboliza uma busca por ele tanto na Terra como no Céu. O arremesso, bem como o consumo habitual de leite, também eram considerados para comemorar e restabelecer ritualmente a infância. Os Romanos na última forma do rito trouxeram o boi para o sacrifício de Roma e cada participante recebia uma porção da carne, rito conhecido como carnem petere.

Outros jogos foram realizados em todos os bairros participantes. Em Roma, uma corrida de bigas (quadrigae) era realizada a partir do Capitólio; o vencedor bebia uma bebida à base de absinto. Esta competição foi comparada ao rito védico do vajapeya: nela, dezassete carros faziam uma corrida simbólica que deveria ser vencida pelo rei para permitir que ele bebesse um copo de madhu, ou seja, soma. O banquete durava pelo menos quatro dias, possivelmente seis de acordo com Niebuhr, um dia por cada uma das seis decúrias latinas e albanas. De acordo com diferentes registos, 47 ou 53 bairros participavam no festival (os nomes listados também diferem em Plínio NH III 69 e Dionísio de Halicarnasso AR V 61).

O Latiar tornou-se numa característica importante da vida política romana, pois eram feriae conceptivae, ou seja, a sua data variava a cada ano: os cônsules e os magistrados superiores eram obrigados a comparecer logo após o início da administração. Não podiam começar a campanha antes do fim e se qualquer parte dos jogos tivesse sido negligenciada ou executada de forma inadequada, o Latiar tinha de ser totalmente repetido.

As inscrições da época imperial registam o festival até à época dos decênviros.

Wissowa observa a ligação interna do templo de Monte Albano com o do Capitólio visível na associação comum com o rito do triunfo: desde 231 a.c., alguns comandantes triunfantes haviam triunfado ali primeiro com as mesmas características legais como em Roma.

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Fontes:

De Divinatione I 18, por Cícero

História de Roma, por Tito Lívio

The Princeton Encyclopedia of Classical Sites, por autores diversos

Wikipedia