terça-feira, outubro 05, 2021

CELEBRAR A SOBERANIA - CELEBRAR A REPÚBLICA





Cinco de Outubro de 1143: a coroa de Castela e Leão reconhece a independência de Portugal.
Cinco de Outubro de 1910: Portugal torna-se numa república.
Ou seja, primeiro livrámo-nos de um rei estrangeiro, mais tarde livrámo-nos de todos os reis, boa evolução... evolução no sentido da Liberdade: primeiro, a liberdade nacional face ao estrangeiro; depois, a liberdade do povo face a quem não pode ser escolhido democraticamente...

Quanto à implantação da República, é preciso dizer que, independentemente de se ter tratado ou não de uma iniciativa maçónica, e de a época ter sido subsequentemente marcada por violência e instabilidade, o feito não deixa a meu ver de se revelar meritório. A República é, por princípio, uma instituição mais democrática do que a Monarquia, o que está longe de significar, obviamente, que toda a república seja democrática ou que toda a monarquia seja anti-democrática. É verdade, admita-se, que o país europeu com mais tradição democrática na Idade Contemporânea, o da velha Albion, é monárquico; enquanto isso, os dois expoentes máximos do totalitarismo no século XX foram as repúblicas comunistas soviéticas e chinesa. Tais factos históricos não ofuscam contudo a essência da diferença entre República e Monarquia - é incontornável que um dos regimes permite a escolha e, mais importante do que isso, a remoção dos líderes, ao passo que no outro tal substituição é notoriamente mais difícil. Acresce que, entretanto, afigura-se muito mais democraticamente edificante ser cidadão do que ser súbdito...

Por mais que as tradições de governo indo-europeias sejam todas originariamente monárquicas, não me sai da cabeça que a República é um modo de governo tipicamente indo-europeu. Surgiu entre Povos indo-europeus: formalmente na Grécia e na Roma antiga; em esboço, no seio de certas tribos gaulesas e celtibéricas... 
Atente-se por exemplo na propaganda de guerra helénica contra os Persas (que frequentemente diz mais sobre a própria mentalidade de quem a faz do que sobre o seu inimigo propriamente dito) aquando das Guerras Médicas: os Gregos comparavam-se com os Persas para destacarem a sua própria liberdade, que alegadamente os distinguiria dos Asiáticos, orgulhando-se os Helenos de obedecerem, não a um homem, como o «rei dos reis» persa, mas unicamente à Lei... é oportuno lembrar, a propósito, que já foi observada a diferença, na Ibéria pré-romana, entre, por um lado, os reis e príncipes tendencialmente divinizados do sul e oriente, de influência marcadamente mediterrânica, e, por outro, as assembleias e líderes eleitos das áreas centro, norte e ocidente da Ibéria, ou seja, da grande zona indo-europeia da Península Hispânica, sendo esta característica tendencialmente «republicana», passe o anacronismo, particularmente visível entre os Lusitanos - todos os seus líderes cujos nomes são actualmente conhecidos, nomeadamente Púnico, Caucainos, Caisaros, Viriato, Tautalos, foram escolhidos pelo seu mérito, não consta que tivessem qualquer estatuto de carácter real.

De resto, um bom nacionalista, isto é, um racialista-etnicista, sabe bem o perigo que as famílias reais europeias andam a representar para a Europa... compostas de gente completamente educada na Igreja e no consenso politicamente correcto das elites, facilmente se moldam pela mentalidade da abertura ao alógeno, como se constata no apreço que o eventual herdeiro da coroa real portuguesa tem por África e especialmente por Timor, pela militante receptividade à imigração e à ligação africana da parte de outro que diz ser seu rival e verdadeiro herdeiro do trono, e também de um príncipe do Mónaco que já tem um filho mulato e ainda do herdeiro da coroa britânica, sempre tão simpatizante do Islão... e do recente apoio declarado do rei de Espanha à imigração... Imagine-se o que era esta gente ter mais influência na Europa do que tem actualmente, a relativa facilidade, por exemplo, de algum mestiço vir a ser monarca português ou monegasco, o modo como isso poderia ser utilizado para abater de vez toda a resistência «racista» do pobre cidadão ingénuo e psicologicamente indefeso diante dos mestres e propagandistas da retórica anti-racista... rapidamente se ouviria aos quatro ventos a conversa totalitária do «todo-o-nacional-que-se-preze-tem-que-ser-anti-racista!» a ser duplicada, multiplicada e elevada ao cubo...

Outra vantagem da República é que os Portugueses até ficaram brilhantemente bem servidos com o Hino «da República», A Portuguesa, cuja letra é simplesmente uma das mais belas coisas que o País tem...
 «A Portuguesa» cantada por Isabel Silvestre e tocada com gaita de foles https://www.youtube.com/watch?v=CflKSgVMAew

«A Portuguesa» cantada pelo povo
https://www.youtube.com/watch?v=5fLF9m4t7bc

A Portuguesa cantada na íntegra (três 3 partes)
https://www.youtube.com/watch?v=bpb5zF185Sc

O carácter mais positivo do que negativo da queda da Monarquia não deve de qualquer modo permitir que se continue a esquecer outra efeméride que na mesma data se assinala, ou deveria assinalar - a da fundação oficial da independência portuguesa: 5 de Outubro de 1143, assinatura do Tratado de Zamora, em que Castela e Leão reconheceu o estatuto de reino a Portugal. A celebração deste evento por parte do pessoal monárquico em Coimbra constitui obviamente uma espécie de provocação e bofetada sem mão dada à República, mas o total esquecimento, por parte da República, do feito de 1143, nunca foi bom sinal da sua boa vontade para com a herança histórica da Pátria. De ambos os «lados» há quem tenha por certo que as duas celebrações se contradizem, o que só pode entender-se numa lógica de mesquinho, e sobejamente cretino, espírito de partidarismo, ou aliás, pior ainda, de clubice daquela mais primária e mentecapta. A oposição que alguns querem fazer crer que existe entre as duas efemérides dá sempre a impressão de que há demasiados caganifrates da bola a contaminar questões pátrias com o seu padrão mental rasteiramente futeboleiro, de quem dá por adquirido que não se pode elogiar o estádio ou o presidente ou uma boa jogada da equipa adversária porque do «outro lado» é tudo para abater. Essa primarice poderá ter o seu lugar numa tarde de sábado diante do televisor, ou no estádio, ou, num outro extremo, nalgum campo de batalha real em que seja mesmo preciso matar ou morrer, mas torna-se soberanamente idiota quando aplicada ao debate histórico, político e ideológico.  A vitória política de 1143 não foi uma vitória «da monarquia», mas sim da soberania de um Povo, e obviamente que tal vitória teria de se revestir de uma forma monárquica, pois se nessa altura todos os poderes políticos soberanos eram monárquicos, seguramente que não iria passar por baixo do elmo de D. Afonso Henriques a ideia de subitamente se declarar presidente ou primeiro-ministro... do mesmo modo, a vitória política contra a monarquia em 1910 não foi a vitória sobre todo o passado português, muito menos a sua rejeição, mas tão somente a alteração interna, entre concidadãos, da forma de governação. Já é mais que tempo de se entender que tanto o feito de 1143 como o de 1910 serviram para dignificar a liberdade desta estirpe da faixa ocidental ibérica, como se estivesse no destino da gente lusa não se submeter nem a forças externas nem a donos internos, tendência que Júlio César, agastado pela crónica resistência lusitana, condensou em famosa frase: Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um Povo muito estranho que não se governa nem se deixa governar»... E, fosse neste contexto ou em qualquer outro, não devem esquecer-se as palavras atribuídas a Viriato: «A Pátria está na liberdade.»

Não deixa entretanto de constituir coincidência valiosa que o dia de hoje fosse, na Antiguidade Romana, religiosamente consagrado ao «Mundus Patet», ou Abertura do Poço do Mundo dos Mortos, para que estes, os Ancestrais, voltassem temporariamente ao contacto com os vivos... e vem à memória a passagem do Hino Nacional que fala em escutar a voz dos Egrégios Avós...