sábado, julho 11, 2020

SOBRE O AUTO-RACISMO COMO CANCRO QUE MATA O OCIDENTE POR DENTRO

"O anti-racismo não mais é a defesa da equânime dignidade das pessoas e sim uma ideologia, uma visão de mundo," ressaltou o filósofo francês Alain Finkielkraut, filho de sobreviventes do Holocausto.
"O anti-racismo sofreu transformações... No momento de grande migração, o anti-racismo não mais é considerado uma questão de acolhimento de recém-chegados, integrando-os na civilização europeia, agora virou escancaração dos defeitos desta civilização".
Referia-se ele ao "auto-racismo" como "a patologia mais desconcertante e grotesca do nosso tempo".
A sua capital é Londres.
"Derrubem os racistas" consiste num mapa no qual figuram 60 estátuas espalhadas por 30 cidades britânicas. A remoção das estátuas está a ser solicitada para apoiar um movimento que surgiu nos Estados Unidos após o polícia branco Derek Chauvin ter matado um homem negro de nome George Floyd pressionando o joelho sobre o seu pescoço.
Em Bristol, uma multidão jogou no rio a estátua do filantropo e dono de escravos Edward Colston. O acto foi seguido pelos protestos que desfiguraram as estátuas de Winston Churchill, Mahatma Gandhi e Abraham Lincoln em Londres. Depois de remover o monumento em homenagem a Robert Milligan, um mercador de escravos escocês, situado em frente do Museum of London Docklands, o autarca da cidade Sadiq Khan anunciou a criação de uma comissão para analisar a possibilidade de demolir as estátuas que não reflictam "a diversidade da cidade". Foi emitida uma ordem para que outras duas estátuas fossem removidas de dois hospitais londrinos.
O vandalismo e o auto-ódio estão a ganhar terreno a toque de caixa. A epopeia das grandes descobertas associadas ao Império Britânico está virando motivo de vergonha. Os protestos não têm nada a ver com escravidão. Ninguém hoje em dia aplaudiria esse período no Reino Unido. É mais um chamamento à limpeza cultural a qualquer coisa que entre em contradição com o novo mantra: "diversidade".
"Uma nova configuração do velho Talibã acaba de nascer no Reino Unido de hoje", escreveu Nigel Farage, referindo-se a duas gigantescas estátuas do Buda que foram dinamitadas pelo Talibã no Afeganistão em 2001. "A menos que tenhamos rapidamente uma liderança moral, não mais valerá a pena viver nas nossas cidades".
Entre as estátuas que constam da lista para serem removidas encontram-se as de Oliver Cromwell e de Horatio Nelson, duas importantíssimas figuras da história britânica, bem como a de Nancy Astor, a primeira mulher a ser eleita para o Parlamento Britânico e a assumir o cargo em 1919. Também constam da lista os nomes de Sir Francis Drake, Cristóvão Colombo e Charles Gray (o primeiro ministro do governo que supervisionou a abolição da escravidão em 1833).
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson, que se manifestou contrário à campanha de remoção das estátuas, salientou:
"não podemos agora editar ou censurar o nosso passado. Não podemos fazer de conta que a nossa história é outra. As estátuas presentes nas nossas cidades foram esculpidas por gerações passadas. As perspectivas eram outras, o que se entendia por certo e errado era diferente. Estas estátuas, contudo, ensinam-nos a respeito do nosso passado com todos os seus desacertos. Derrubá-las seria mentir sobre a nossa história e empobrecer a educação das gerações futuras".
O sentimento de culpa pós-colonial britânico está, no entanto, a ter repercussões que vão muito além das estátuas. Ainda há, por exemplo, um silêncio absoluto quanto aos cristãos perseguidos de acordo com um bispo do Reino Unido, que está conduzindo uma reavaliação do governo quanto ao seu sofrimento. Vale ressaltar também o recuo do Ocidente no cenário mundial. "Quando o Ocidente perde a confiança em si mesmo, por conta do excessivo ou inapropriado sentimento de culpa em relação ao colonialismo, apela para o isolacionismo", observou Bruce Gilley, professor de ciência política. "Temos medo de que qualquer coisa que façamos esteja relacionada a algo colonial. Há muitos países no afã de se aproveitar dessa lacuna na governança global: China, Irão, Rússia e Turquia".
A culpa pós-colonial também sufoca a liberdade de expressão no Reino Unido. O ex-chefe "guardião da equidade" britânico Trevor Phillips, foi suspenso do Partido Trabalhista após ter sido acusado de "islamofobia". Phillips é culpado de quê? De ter criticado o multiculturalismo. Segundo Phillips:
"na minha opinião, o melindro em abordar a diversidade e seus descontentes corre o risco de abrir caminho para que nosso país sonambule para uma catástrofe que irá colocar comunidade contra comunidade, endossar a agressão sexista, suprimir a liberdade de expressão, reverter as liberdades civis conquistadas a duras penas e minar a democracia liberal que serviu tão bem a este país por tanto tempo".
Phillips também afirmou que políticos e jornalistas britânicos estão "apavorados" em discutir raça, deixando o multiculturalismo tornar-se numa "extorsão" explorada por alguns para entrincheirar a segregação. Um homem de origem guianense, um veterano do Partido Trabalhista e um comissário da equidade disseram a verdade aos multiculturalistas.
Os activistas que fazem campanha para remover as estátuas querem mudar radicalmente a aparência da capital britânica. Parece que o confronto consiste no seguinte: de um lado censores violentos que intimidam todos, do outro, políticos covardes e contemporizadores, que têm medo e se curvam diante dos vândalos. Os monumentos são uma parte vital e manifesta de uma cidade global; incorporam o seu lugar na história de uma cidade, caso contrário, somente pontos de autocarro e Burger Kings aí permaneceriam. Esses manifestantes parecem desejar uma história revisada e higienizada. Se não entendermos rapidamente que ao apagarmos o nosso passado, a exemplo do que tentou fazer a antiga União Soviética, será mais fácil para as pessoas criarem as suas visões do nosso futuro, sem leme para nos ancorarmos ou ancorarmos os nossos valores. Não sobrará nada nas nossas mãos, a não ser fragmentos estraçalhados da nossa história e cultura.
Esse movimento de ódio ao Ocidente que a exemplo da história de qualquer nação também não é impecável, parece ter começado em universidades britânicas. Em Cambridge, professores de literatura pediram a substituição de escritores brancos por representantes de minorias para "descolonizar" o currículo. A união de estudantes da prestigiada School of Oriental and African Studies (SOAS) solicitou a remoção de Platão, Kant, Descartes, Hegel e outros do currículo, porque eram "todos brancos", como se a cor da pele fosse o único determinante da nossa maneira de pensar. Em Manchester, estudantes picharam um mural baseado no poema "If" de Kipling.
Nigel Biggar, estudioso do colonialismo, salientou que um "clima de medo" voltou às universidades britânicas. De há uns tempos para cá a Universidade de Liverpool concordou em mudar o nome de um edifício em homenagem ao ex-primeiro ministro William Gladstone. Enquanto isso, em Oxford, a estátua de Cecil Rhodes, filantropo e fundador da Rodésia (hoje Zimbábue), corre o risco de ser a próxima a ser removida.
"Há um tanto de hipocrisia aqui", comentou, Lorde Patten, chanceler de Oxford, "senão vejamos: Oxford receber dinheiro de 100 estudiosos anualmente, cerca de um quinto deles de África para que venham a Oxford e depois dizer que queremos jogar a estátua de Rhodes... no Tamisa". Ressaltou que segundo a sua própria maneira de ver é a mesma "expressada por Nelson Mandela numa comemoração a Rhodes Trust em 2003" segundo a qual, apesar dos "problemas históricos associados a Cecil Rhodes, se tudo estava OK para Mandela, então está OK para mim também". Mas não para os revisionistas.
Parece que a história ocidental está a ser refeita para retratar toda a civilização ocidental como se esta fosse apenas um grande apartheid. É como se tivéssemos não só que destruir estátuas, como também destruir a nós mesmos. Mas uma democracia bem-sucedida não pode ser construída somente com o apagar do passado.
A estátua de Churchill em Londres, estadista que enfrentou os nazis durante a Segunda Guerra Mundial e salvou a Europa da barbárie, foi coberta pelas autoridades da cidade nos últimos protestos. O seu sumiço visual lembra uma das estátuas nuas em Roma que foi coberta pelas autoridades italianas para agradar ao presidente iraniano Hassan Rouhani ou então do "sumiço" de retratos de pessoas que o Politburo decidiu terem caído em desgraça na ex-União Soviética. Há uma trapaça quando se apaga a história. A história pode até não ser impecável, mas é história, apesar de tudo. Conforme escreveu o historiador Victor Davis Hanson, um país "não precisa de ser perfeito para ser bom". Remover as partes desagradáveis não muda o que aconteceu, porque podem até ser substituídas por partes mais revoltantes ainda.
Certos museus de Londres já adoptaram a prática de cobrimento e da auto-censura já faz há algum tempo. A Tate Gallery em Londres baniu um trabalho de John Latham que exibia um Alcorão encravado em vidro. O Victoria and Albert Museum mostrou e depois retirou uma imagem de arte sacra sobre Maomé. A Saatchi Gallery expôs duas obras de nus sobrepostas com escrita árabe, o que provocou reclamações de visitantes muçulmanos, na sequência o museu cobriu as obras. A Whitechapel Art Gallery retirou uma exposição que continha bonecas nuas.
O dicionário Merriam-Webster apenas revisou a definição de "racismo" para incluir "racismo sistémico", ao que tudo indica, para dar a entender que toda a sociedade é culpada e injusta.
Parece que os censores querem controlar o nosso universo mental, como na obra 1984 de George Orwell:
"todos os registos foram destruídos ou falsificados, todos os livros foram reescritos, todas as imagens foram repintadas, todas as estátuas e prédios nas ruas foram renomeados, todas as datas foram alteradas. E o processo continua dia a dia e minuto a minuto. A história parou. Não existe mais nada, a não ser o presente sem fim, no qual o Partido está sempre certo".
Esse processo de auto-aviltamento ocidental começou há muito tempo. Os conselhos do Partido Trabalhista do Reino Unido, por exemplo, começaram a examinar minuciosamente todas as estátuas sob as suas jurisdições. O autarca de Bristol, Marvin Rees, em vez de defender o estado de direito, disse que a violenta remoção da estátua de Colston foi um acto de "poesia histórica". Quando os vândalos começaram a destruir estátuas, muitos aplaudiram. O primeiro-ministro britânico Boris Johnson chamou a isso "iconoclastia politicamente correcta".
Uma semana antes da confusão em torno da exibição das estátuas, manifestantes ajoelharam-se no Reino Unido em homenagem a George Floyd. É como se tivesse ocorrido um clamor colectivo segundo o qual a sociedade ocidental como um todo tivesse de se penitenciar. Parecia uma forma de histeria ideológica, não tão distante da Inquisição ou dos julgamentos das Bruxas de Salem: é de se supor que os que estavam de joelhos tinham uma conduta de moral mais elevada, estavam do "lado certo" da justiça. Havia até polícias britânicos ajoelhados, assim como nos EUA, a Presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi e outros democratas estavam de joelhos diante dos seus senhores. Ambos foram actos de irresponsabilidade e capitulação. Alguns dias depois, o establishment britânico curvou-se ao novo Talibã.
Qual é o objectivo desse macabro jogo ideológico? Certamente não é o derrube de monumentos em si, como as estátuas de Cristóvão Colombo, que foram derrubadas ou decapitadas. É muito mais do que isso. É uma exibição de força com o intuito de criar uma revolução cultural para impedir que se diga que as culturas não são todas iguais, para colocar em julgamento o passado da Europa, para incutir remorso perene nas consciências e espalhar o terror intelectual para promover o multiculturalismo.
Quantos irão se recusar a aceitar essa supressão coerciva da história? Se muitos se ajoelham a esse novo totalitarismo, quem terá a coragem de defender a história e a cultura ocidentais?
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Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
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Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/16203/defender-cultura-ocidente?fbclid=IwAR0IETXR9IhdrU8JAtivOuQUfd1P5pXgeMfjW6P1oEf_aBuBRW8vCTdG0Os