quarta-feira, dezembro 11, 2019

SOBRE UMA MEMÓRIA DE RETORNO E UM RITO DE FUNDAÇÃO


A 11 de Dezembro de 361 entrou Juliano em Constantinopla como soberano único do Império Romano, dando início a um período tão curto como brilhante da história religiosa de Roma e do Ocidente, dado que Juliano, ao qual os cristãos acrescentaram o cognome de «Apóstata», por ter renunciado ao Cristianismo e retornado ao culto dos Deuses pagãos, instaurou com o seu domínio a restauração religiosa da Romanidade.
O 11 de Dezembro era paralelamente marcado, no calendário romano, por diversas celebrações religiosas - Agonália, entre outras - e em particular pela Septimontium, em memória da união dos vários povoados latinos, oferecendo cada monte um sacrifício a Palátua. O ritual era conduzido pelo flâmine palatualis, ou sacerdote de Palátua. O facto de a Divindade ter um flâmine indica a sua relevância em tempos arcaicos - entre as inúmeras Deidades romanas, só quinze tinham um flâmine (três «maiores», de Júpiter, Marte e Quirino, e doze menores, de instituição provavelmente posterior). Note-se que e
m Abril a data da fundação de Roma é marcada pela Parilia, cerimónia religiosa em honra de Pales, a Deusa Protectora dos Rebanhos. Palatua, por Sua vez, é também uma Deusa Guardiã, nomeadamente do monte Palatino, o primeiro de Roma. Do Seu nome deriva a palavra «palácio». 
A figura da Divindade feminina protectora Cujo nome radica em Pal- será eventualmente uma das mais antigas e disseminadas do mundo indo-europeu. Na Grécia, uma das mais importantes Deusas, Atena, protectora de Atenas, tinha nesta cidade o título de Pallas; nota-se a semelhança (como fez Georges Dumézil) entre Pallas e as romanas Palátua, protectora do Povo, Pales, protectora dos rebanhos, e a indiana Vispala, Deusa igualmente protectora dos rebanhos, mas em Cujo nome «Vis» significa «Tribo», «Casa». É pelo menos uma coincidência valiosa que haja na Lusitânia uma Deidade Cujo nome indica uma óbvia semelhante com os teónimos acima referidos: Trebopala, em que«Trebo» significa, em Céltico, «Tribo», «Povo», enquanto «-pala» terá o sentido de «Protecção». A lusitana Trebopala seria pois exactamente equivalente, na Sua origem e significado, à indiana Vispala, como se pode deduzir da leitura do artigo «O Sacrifício entre os Lusitanos», da Dra. Maria João Santos Arez, bem como da tese de licenciatura do Dr. Andrés Pena Granha, intitulada «Território Político Celta na Galícia Prerromana e Medieval».

E ainda hoje a palavra «pala» é em Português usada com o sentido de protecção... «viver à pala de», é, como se sabe, «viver sob a protecção de», ou «à custa de», e constitui expressão assaz usual.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caturo, ainda apoias o líder do PNR? Ele tem visões pró integração e completamente anti nacionais que entram em choque com identidade nacional e europeia:

https://www.youtube.com/watch?v=NA9WFVs03fU


9:39 «Eu entendo que o nacionalismo étnico é algo redutor. O nacionalismo é muito mais do que etnia. É sobretudo cultura.»

10:10 «Ao falar em nacionalismo étnico, estamos a reduzir esse mesmo nacionalismo. (...) O nacionalismo étnico, no Brasil, nunca seria possível. Um brasileiro pode ser nacionalista, mas não pode reduzir o nacionalismo a uma etnia só, porque o Brasil foi construído com base em diversas etnias. E o mesmo se aplica a vários países americanos.»

10:56 «Nós temos em Portugal, oriundos do nosso ex-Ultramar (...) [indivíduos] que não têm a mesma etnia do português europeu. E esses, são tão portugueses como nós. Eu não estou a falar destes que nos invadem agora através desta imigração. Estou a falar daqueles que portugueses são da nossa criação, sejam pretos ou brancos. Aqueles que eram portugueses antes do 25 de Abril continuam a ser portugueses. Assim como o Eusébio é português, como todos aqueles que vieram para Portugal [como] refugiados -esses sim, verdadeiros refugiados da entrega traidora do Ultramar- e tiveram que fugir de lá e voltar para Portugal e que são pretos, (...) esses são portugueses. Têm outra etnia, mas são portugueses. Porque realmente ali era Portugal. E não há volta a dar, nós não podemos, nem devemos apagar a história.»

12:19 «Não podemos reduzir o nacionalismo a uma etnia. Devemos defender (...) a nossa identidade étnica, sim, mas adaptada a cada circunstância. E por isso, no caso português, é tão português o branco europeu como o preto ultramarino que era português até ao 25 de Abril.»


12 de dezembro de 2019 às 20:59:00 WET  
Blogger Caturo said...

Discordo radicalmente dessas afirmações no que respeita a Portugal e repito o que já disse sobre o 25 de Abril de 1974 - foi, por isso mesmo e não só, a melhor data portuguesa do século XX e uma das melhores de toda a História de Portugal.

12 de dezembro de 2019 às 23:01:00 WET  

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