segunda-feira, julho 01, 2019

SALMAN RUSHDIE CENSURA A CEGUEIRA DA ESQUERDA SOBRE O ISLÃO E DÁ RAZÃO À EXTREMA-DIREITA

"É preciso acabar com a cegueira estúpida" do Ocidente face ao jihadismo que consiste em dizer que "isso nada tem a ver com o Islão". Mas tem, garante o escritor Salman Rushdie. "Há 50 anos que o Islão se radicalizou", explica numa entrevista publicada no semanário francês l'Obs.
O escritor britânico de origem indiana vive ainda sob a ameaça de uma fatwa lançada em 1989. Preocupado com o avanço das forças obscurantistas, lança um grito de alarme ao Ocidente: "Parem de recusar ver a realidade das origens do jihadismo".
"Estou em profundo desacordo com as pessoas de Esquerda que tentam tudo para dissociar o fundamentalismo do Islão", refere o autor de "Os Versículos Satânicos", o livro de 1988 que provocou grande polémica no mundo muçulmano e lhe valeu uma condenação à morte - o decreto religioso emitido em 1989 pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini, que acusa o escritor e todos os envolvidos na publicação e divulgação do livro de blasfémia e apostasia.
"Há 50 anos que o Islão se radicalizou", afirma. "Claro que há uma tradição do Islão esclarecido. Mas hoje em dia não é esse que está no poder", acrescenta na entrevista ao L'Obs (antigo Nouvel Observateur).
"Do lado xiita, houve o Ayatollah Khomeini e a sua Revolução Islâmica. Do lado sunita, há a Arábia Saudita que utilizou os seus imensos recursos para financiar a difusão desse fanatismo que é o wahabismo. Mas esta evolução histórica teve lugar no seio do Islão e não no exterior", explica o escritor.
"Quando os elementos do Daesh se fazem explodir eles dizem 'Allahou Akbar', então, como se pode dizer que isso não tem nada a ver com o Islão?", questiona.
Rushdie diz compreender o receio da "estigmatização do Islão" mas, "para evitar essa estigmatização, é bem mais eficaz reconhecer a natureza do problema para o tratar".
O autor premiado com o Booker Prize com "Os filhos da meia-noite" constata com "pavor" que "Marine Le Pen analisa o islamismo com mais justeza que a Esquerda".
"É muito inquietante ver que a Extrema-Direita seja capaz de perceber a ameaça de forma mais clara que a Esquerda", afirma.
"O pressuposto da Esquerda é o de que o mundo ocidental é mau. Portanto, tudo é analisado a partir deste ponto de vista", lamenta.
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Fonte: https://sicnoticias.pt/mundo/2017-06-08-Salman-Rushdie-denuncia-a-cegueira-estupida-do-Ocidente-face-ao-jihadismo?fbclid=IwAR0BjsgOvjVYOVqdKJy_rJhORBntQ5--MMC1GF6Ps7wFWLaT3Ae3L24Ik6Y

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A notícia é de 2017 mas não deixa de merecer destaque, pois que o refugiado Rushdie acerta em cheio - a Esquerda meteu nos cornos que o Ocidente é mau e prefere manifestar simpatia pelo Islão, mesmo sendo absoluta e rigorosamente óbvia a gritante incompatibilidade entre a lei islâmica e a cultura humanista democrática ocidental. A Esquerda, bem como a «Direita» politicamente correcta, está nas mãos de uma elite que prega o amor universalista a todo o custo e a culpabilização da sua própria gente como condições de princípio, moralidade derivada indirectamente do Cristianismo. Só o Nacionalismo político percebe com clareza o real significado do Islão, o qual, de resto, é igual em todo o mundo desde há 1400 anos. Se há cinquenta anos se radicalizou, foi só porque o petróleo lhe deu lastro para se reafirmar pela força.