PARTIDO NACIONAL DA ESTÓNIA: «SE ÉS NEGRO, VOLTA PARA TRÁS»
Liberal, pequena, com uma economia em crescimento e redes de wifi a emanar “das árvores”, a Estónia foi apanhada de surpresa com a recente chegada da Extrema-Direita ao parlamento. As europeias podem consolidar o forte sentimento “pró-Ocidente” ou eleger o primeiro eurodeputado de um partido que quer regressar à “pureza indígena dos Estónios” .
Mais cedo ou mais tarde a Extrema-Direita abriria os seus trilhos: primeiro nas pequenas vilas longe da bolha tecnológica de Tallinn e depois até ao parlamento.
Assim foi na Estónia, o último país europeu (as eleições legislativas foram apenas há dois meses) a ver um grupo de deputados publicamente opostos à integração de “outras raças” catapultado para o poder. “If you’re black go back” é um dos slogans do Partido Conservador Nacionalista (EKRE, na sigla em Estónio).
“Desde o fim do bloco soviético que a política na Estónia é uma rotina: ou estão os reformistas no poder ou está o partido centrista e por isso as pessoas no meio rural sentem que, para elas, nada mudou, nada melhorou e por isso estão muito inclinadas a votar do EKRE”, explica ao Expresso Louis Wierenga, investigador na Universidade de Tartu especializado em movimentos de Extrema-Direita no centro e leste da Europa.
A simplificação dos problemas sociais e a rápida eleição de bodes expiatórios entre os burocratas europeus que autorizaram a entrada de imigrantes muçulmanos fronteiras da UE adentro levou o EKRE aos 17,8% do voto nas legislativas - 19 lugares num parlamento de 101. A direita do EKRE não tenta moderar o discurso, não tenta inventar eufemismos para as suas posições extremistas.
Também na Estónia a imigração se tornou campo minado, isto apesar de a percentagem de estónios ultrapassar os 80% em 13 dos 15 distritos do país e de a Estónia só ter recebido 206 refugiados ao abrigo do programa de recolocação da UE.
Os seus 1,3 milhões de habitantes são bastante europeístas (74% dizem que a UE é um bom clube do qual fazer parte) mas a imigração aparece sempre no topo das preocupações principais dos eleitores (52% dos inquiridos no último Eurobarómetro elegem esta como a sua principal preocupação). “A Estónia tem relações muito próximas com o norte da Europa, principalmente com a Suécia, e estão muito atentos ao que lá se passa. O facto de eles terem recebido muitos refugiados, e a mistura demográfica ser hoje muito mais notória, assusta muito as pessoas aqui, ainda que aqui quase se não veja uma pessoa um pouco mais escura”, diz o investigador.
Russos, ucranianos ou cidadãos de países maioritariamente muçulmanos, chegados aos litorais sobrelotados da Itália ou da Grécia, merecem quase a mesma consideração. “A ideia é regressar à Estónia indígena”, disse o líder do EKRE, Mart Helme, cabeça de lista às europeias. O seu filho, Martin, número dois, acrescentou que a luta é “pelo progressivo restabelecimento de um país de brancos”. Já Ruuben Kaalep, o líder da juventude EKRE e o mais jovem deputado da Estónia, com 25 anos, disse recentemente que os políticos de Direita “não podem renegar completamente a Alemanha nazi” porque “existem aspectos positivos”, nomeadamente “na área económica”. A sua missão foi descrita pelo próprio, em várias entrevistas, como “uma luta permanente contra a substituição demográfica dos nativos, a agenda LGBT e a hegemonia global da Esquerda”.
Uma boa parte da pequena e tradicionalmente liberal Estónia, cuja população vota desde 2005 através da internet, e é a única do mundo a fazê-lo, foi apanhada de surpresa quando Jüri Ratas, actual primeiro-ministro, pediu ao EKRE para formar governo, depois das eleições de 2015. Quem venceu esse escrutínio foi na verdade Kaja Kallas, a líder do Partido Reformista que se ofereceu para assinar uma coligação com o partido de Ratas e manter a Estónia mais ou menos ao centro do espectro político. Ela torna-se-ia a primeira primeira-ministra do país e os postos ministeriais seriam divididos entre os dois partidos.
Ratas, porém, quis continuar no poder e foi contra os avisos de Bruxelas, coligando-se antes com o EKRE. “Os centristas vão perder votos porque se coligaram com o EKRE e o EKRE, como é extremista, vai ter os mesmos votos de sempre porque os seus apoiantes votam de certeza. Penso que vão eleger um eurodeputado e ele vai juntar-se ao grupo do Salvini”, diz Wierenga numa referência ao projecto de Matteo Salvini, ministro do Interior italiano, para fazer nascer um novo partido que agregue todos os nacionalismos europeus.
Segundo a página de projecções do Parlamento Europeu, o partido reformista deve conseguir eleger dois eurodeputados (com 29,5% dos votos), tal como os centristas de Ratas (estes 20,5 com %). Os sociais-democratas elegem apenas um (10%), tal como o EKRE (mas com 19,5%). Em 2014, os reformistas conseguiram os mesmos dois deputados (24,3%) e os centristas recolheram votos para apenas um (22,4%). Os conservadores do Pro Patria (13,9%) também elegeram apenas um deputado e esse foi também caso dos sociais-democratas (13,6%) e dos independentes (13,2%).
Wierenga vê na possível união de estranhos sob a bandeira do etno-nacionalismo o maior perigo destas eleições. É que os restantes países que Salvini convidou para o seu bloco são tendencialmente menos hostis ao Kremlin do que os bálticos mas isso não impediu, até ver, uma putativa união.
“O EKRE assinou com partidos nacionalistas bálticos um documento onde concordam em defender-se tanto do liberalismo ocidental como da influência russa. Os extremistas já tentaram muitas vezes formar um grupo no parlamento europeu mas falharam sempre e desta vez estão a tentar resolver as suas diferenças primeiro. Há uma preocupação comum que é a defesa das fronteiras da Europa. É como se dissessem ‘o resto depois logo se vê’ e isso é preocupante.”
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Fonte: https://expresso.pt/europeias-2019/2019-05-24-Estonia.-Se-es-negro-volta-para-tras-a-extrema-direita-e-assunto-serio-no-unico-pais-onde-se-vota-pelo-telemovel--se-quisermos-claro-
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«Há uma preocupação comum que é a defesa das fronteiras da Europa. É como se dissessem ‘o resto depois logo se vê’ e isso é preocupante.”», diz um típico representante da elite. Confirma-se o que ando a observar a comentar há anos - a união de nacionalistas a nível europeu, nacionalistas que tomam consciência da sua comum etnicidade europeia, isto é precisamente uma das coisas que mais assusta a elite reinante, porque deitar por terra a imbecil ideia de que Nacionalismo seja provincianismo e atraso - mostra que o Nacionalismo tem efectivamente uma dimensão de nível continental, até mundial, sem contudo ser mundialista, e é precisamente este o maior obstáculo ao ideal da elite universalista.
Entretanto, o EKRE alcançou ontem a votação de 12.50%, conseguindo assim eleger um deputado para o Parlamento Europeu. Parabéns aos Estónios que estão a acordar.
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