PRIMEIRO-MINISTRO HÚNGARO ACREDITA QUE FORÇAS ANTI-IMIGRAÇÃO PODEM TOMAR A UE
Enquanto a Europa se assusta com os pesadelos do “Brexit”, Viktor Orbán, em Budapeste, prepara-se o seu assalto ao poder. Não da Hungria, o país que governa desde 2010 e que transformou num feudo seu, mas da própria União Europeia. Numa rara conferência de imprensa, apelou a uma aliança dos “políticos anti-imigração” para conquistar as instituições da EU, a começar pelas eleições para o Parlamento Europeu de Maio.
“O nosso objectivo é que os opositores da imigração se tornem a maioria nas instituições da UE” – para que não restem dúvidas, foi desta forma que o porta-voz do primeiro-ministro húngaro, Zoltan Kovacs, traduziu a declaração de Orbán.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, é identificado como o líder dos defensores da imigração – o inimigo, portanto, do que poderia ser uma nova aliança anti-imigração europeia, o tema mais caro a Orbán. “Não há como negar que Emmanuel Macron é o líder das forças pró-imigração. Se o que ele quer se materializar na Europa, isso será mau para a Europa, por isso tenho de lutar contra ele”, declarou o primeiro-ministro húngaro, que se assume como defensor da civilização cristã – supondo que os imigrantes são o invasor.
A escolha de Emmanuel Macron como inimigo acontece porque o Presidente francês se apresentou como o novo campeão da Europa – e também como inimigo declarado dos populismos. Para o Presidente francês, ter Orbán a escolhê-lo como opositor nem seria negativo para o arranque da sua estratégia para as europeias – correspondia até aos seus objectivos de campanha. A crise com os “coletes amarelos”, no entanto, gerou um pandemónio nos planos de Macron.
Na Hungria, Macron foi mesmo transformado num inimigo caricatural, objecto de uma campanha que o retrata como o grande adversário do primeiro-ministro Orbán, relata uma reportagem do Le Monde na redacção do site nacionalista húngaro Pesti Sracok. “Há uma verdadeira campanha contra o Presidente francês feita pelos jornalistas próximos do regime. Recebem as ordens directamente do gabinete do chefe do Governo. Rádio e televisão pública, sites, jornais: dizem todos a mesma coisa. Todos os dias temos notícias que caricaturam Macron, sugerem que pode ser gay ou toxicómano, que é impopular, que gosta dos imigrantes, que se rodeia de pessoas erradas. A narrativa é cada vez mais difamatória e racista”, analisa Peter Kreko, director do think tank liberal Political Capital.
Já os principais aliados para conseguir esta aliança são a Polónia e o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, sobre o qual o húngaro deixa cair uma chuva de elogios – “a meu ver, é um herói” –, e com o qual se encontrou este Verão. Quarta-feira, Salvini, o líder da Liga, partido xenófobo e tenazmente anti-imigração, esteve em Varsóvia, para se reunir com Jaroslaw Kaczynski, o ideólogo e líder de facto do muito conservador Direito e Justiça, o partido no Governo.
Salvini saiu do encontro a dizer que os seus pontos de vista “convergiam em 90% dos temas” e, embora não tenha revelado pormenores sobre projectos em comum, diz o jornal francês Le Monde, avançou que os dois países poderiam “propor um pacto em dez pontos para a Europa, que apresentaríamos a outros movimentos populares”.
Não lhe falta arrojo: “O eixo franco-alemão pode ser substituído por um eixo ítalo-polaco”, afirmou Salvini, que ao mesmo tempo ataca Macron e atira umas setas contra a chanceler alemã Angela Merkel, no momento em que sua saída do poder se aproxima.
Orbán só tinha coisas boas a dizer sobre esta ideia. “A aliança polaco-italiana ou entre Roma e Varsóvia é um dos maiores desenvolvimentos que podiam ter acontecido neste início de ano”, afirmou o primeiro-ministro húngaro.
Orbán parece apostado em desferir um golpe mortal no Partido Popular Europeu (PPE), ao qual pertence o seu Fidesz, talvez como vingança porque o PPE permitiu que a 12 de Setembro o Parlamento Europeu aprovasse, com a necessária maioria de dois terços, a activação do artigo 7º. do Tratado de Lisboa contra a Hungria “por risco claro de violação grave do Estado de Direito”. Se o Conselho Europeu aprovasse esta recomendação do Parlamento, o direito de voto da Hungria poderia ser suspenso, por exemplo – mas é pouco provável que haja uma maioria no Conselho para que isso aconteça.
E isso não quer dizer que o PPE esteja disposto a expulsar o partido de Orbán. “Se excluísse o Fidesz, corria o risco que partidos da Croácia, da Eslovénia, da Eslováquia, da Bulgária, saíssem para engrossar as fileiras da extrema-direita”, escreveu numa análise no Le Monde Sylvain Kahn, professor no instituto Sciences-Po em Paris. “O argumento dos dirigentes [do PPE] tem sido que mais vale manter Orbán na família do que excluí-lo, pois é a melhor forma de conter as suas derivas”, explicou Kahn.
Mas Orbán sentiu-se traído pelos dirigentes do PPE, ao permitirem a activação do artigo 7º.. “Orbán começou a dizer ‘eu sou o novo PPE’. Até agora, achávamos que podíamos contê-lo, mas de facto, ele divide-nos cada vez mais”, comentou ao diário francês Ingeborg Grässle, eurodeputada alemã do PPE.
Grässle liderou em 2017 uma missão à Hungria para investigar usos duvidosos de fundos europeus. Vários milhões de euros foram desviados pelo genro do primeiro-ministro húngaro nos últimos anos, sem que a justiça de Budapeste investigue verdadeiramente o caso.
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Fonte: https://www.publico.pt/2019/01/10/mundo/noticia/hora-partidos-antiimigracao-tomarem-ue-orban-1857407?fbclid=IwAR0ofPYlZt10NwRkp-WWsT0HP7CYFPrS2TAqsbmGNQKTMO4XTZfZVoUG_4U
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Orbán e outros nacionalistas já perceberam há muito a mesmíssima coisa que ando aqui a dizer há anos, muitas vezes parecendo que falo para as paredes - que a UE promete um elevado potencial aos partidos nacionalistas porque permite implementar medidas que de uma só vez protegem a Europa toda contra a ameaça identitária - e potencialmente terrorista - da iminvasão... isto é especialmente relevante para o caso português, tão somente porque, neste momento, a UE, com o seu espaço Schengen, é a maior senão a única protecção efectiva de Portugal contra a invasão em massa.
1 Comments:
Bem dito.
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