domingo, abril 01, 2018

PRIMEIRO DE ABRIL - VENERÁLIA E «DIA DAS MENTIRAS»...




O Primeiro de Abril é das datas tradicionais mais disseminadas no Ocidente - um pouco por toda a Europa e seus derivados se «festeja» hoje o chamado «Dia das Mentiras».
A festividade tem, como quase todas as outras, uma origem arcaica, remontando aos tempos da Paganidade romana: já na Antiga Roma se vivia nesta data um ambiente de folia, deboche, comicidade, fazendo-se tudo ao contrário (andava-se de trás para a frente, etc.), dançando-se nas ruas, assumindo-se comportamentos absurdos e zombeteiros.

Ora este festival deriva provavelmente do espírito de uma grande celebração da religião tradicional romana: a Venerália.

A Venerália é, como o próprio nome indica, a Festa de Vénus, Deusa do Amor e da Beleza, padroeira do mês que ora começa - «Abril» vem de «Aprire», mês em que a terra «abre», ficando mais fértil. Nesta data realizavam-se jogos públicos («ludi») em honra da Deusa. O grande protagonismo era das mulheres, que neste dia tomavam banho nos locais de banho público dos homens, vestindo grinaldas de mirtilo, e veneravam especialmente o poder da Deusa de alterar «corações», isto é, de dispôr para o amor quem a isso resistisse: veneravam pois Venus Verticordia («Vénus que altera corações»), pedindo-Lhe auxílio nas suas vidas amorosas. Esperavam também que a Deusa as dispusesse para serem fiéis.


Neste dia também Se honra a Fortuna Virilis (de algum modo associada a Vénus). Na Antiguidade romana, as jóias eram removidas da Sua estátua, a qual era ritualmente lavada, e depois ofereciam-se-Lhe sacrifícios de flores. Também se Lhe dedicava algum incenso a troco de que os defeitos físicos das mulheres não fossem visíveis nos banhos públicos.


Templo de Fortuna Virilis


Talvez houvesse aqui uma diferenciação social, no que respeita ao culto: as classes mais elevadas honrariam Vénus, e as mais baixas virar-se-iam para a Fortuna Virilis.

O primeiro de Abril, eminentemente consagrado à fertilidade, também é religiosamente dedicado a Ceres, Cujo festival de oito dias começa dez dias depois, a 11 de Abril, culminando na Cerealia.






«Vem a nós Vénus,
Ó Rainha de Cnidos e Paphos,
Deixa Chipre, mesmo que a ilha Te seja querida,

Vem em vez disso para onde o incenso é espesso e Glícera canta para Ti,

Que possas transferir a Tua casa para o Teu novo santuário entre nós.

Trás contigo, para Tua companhia,

O desejoso Cupido, com as liberais Graças e as ridentes Ninfas,

A jovem Juventus e Mercúrio,

Os quais sem Ti não têm encanto.»


Horácio, «Carminum Liber I: xxx.1-8»