quarta-feira, março 21, 2018

SOBRE TOURADAS E COMPADRIOS PARTIDÁRIOS

Os defensores do fim das corridas de touros não podiam ter ficado mais satisfeitos com a decisão dos estudantes de Coimbra de acabar com a garraiada na Queima das Fitas. 
O resultado do referendo, em que participaram cerca de cinco mil estudantes num universo de cerca de 24 mil, foi claramente no sentido de acabar com evento no programa oficial da Queima das Fitas. Mais de 70% manifestaram-se contra a tradicional garraiada.
“Tem um peso histórico”, diz ao i Rita Silva, presidente da Animal. O deputado do PAN, André Silva, considerou, numa declaração à agência Lusa, que o resultado desta consulta “vem reconfirmar que a esmagadora maioria dos portugueses rejeita a tortura de animais para divertimento e pede o fim da tauromaquia”. A decisão foi também saudada por alguns deputados socialistas e do Bloco de Esquerda. “De vez em quando a evolução acontece”, escreveu, nas redes sociais, o deputado bloquista Moisés Ferreira.
Vital Moreira, que há muito tempo defende o fim das corridas de touros, admite mesmo a hipótese de realizar um referendo a nível nacional. O constitucionalista diz que não é “fã de referendos”, mas neste caso “pode vir a concluir-se que a única maneira de pôr fim à barbárie é mesmo com recurso a um referendo”.
Num texto que publicou no blogue Causa Nossa sobre o referendo em Coimbra, Vital Moreira condena “a cobardia dos partidos políticos em enfrentar o poderoso lóbis das touradas – que vai desde os criadores de gado bravo até aos toureiros, passando pelos empresários do degradante espectáculo e demais interesses que rodam à volta dele”. Rita Silva, presidente da Associação Animal, rejeita a hipótese de uma consulta popular a nível nacional com o argumento de que não se referendam direitos fundamentais.
Os amantes da tourada também reagiram à decisão dos estudantes de Coimbra. A Federação Portuguesa das Associações Taurinas garante, em comunicado, que é “contra todo e qualquer fundamentalismo e não pode deixar de criticar a intolerância demonstrada por um pequeno grupo de estudantes que quer impor a sua vontade à dos outros e proibir um evento com 115 anos de história”. Ao contrário dos movimentos anti-taurinos, a Prótoiro argumenta que “o resultado de uma sondagem, levada a cabo pela Eurosondagem em 2011, demonstrou que 86,1 % dos portugueses não defende qualquer proibição das corridas de toiros”.
Menos corridas de toiros
Os dados da Inspecção-geral das Actividades Culturais revelam que, em 2017, realizaram-se em Portugal 181 espectáculos tauromáquicos. Um número que tem vindo a reduzir nos últimos dez anos. Em 2008, por exemplo, realizaram-se mais de 300 espectáculos. Assistiram a corridas de toiros quase 378 mil espectadores. Mais 15 mil do que em 2016, mas muito longe dos mais de 698 mil espectadores registados em 2008.
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Fonte: https://ionline.sapo.pt/604541

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Claro que o comuna «não é fã de referendos», olha quem, que essa gente afinal sempre teve medo da verdadeira opinião popular... e claro que, desta vez, tem razão na sua crítica à cobardia e compadrio dos partidos diante do lóbi tauricida. Quanto a realizar um referendo sobre o tema, aqui já a ideia, embora bem intencionada, não se aplica - um direito fundamental não se referenda, já está garantido na lei, uma lei contra os maus tratos a animais que deveria aplicar-se integralmente à tourada. Referendos servem para que as pessoas possam tomar decisões que as afectem na esfera pública, não para decidir sobre o bem-estar de terceiros, humanos ou não.