quarta-feira, novembro 01, 2017

«O QUE EU QUERO É PROTEGER-ME A MIM, AOS MEUS E À MINHA FAMÍLIA»

O neurocientista António Damásio advertiu que “se não houver educação maciça, os seres humanos vão matar-se uns aos outros”. O neurocientista português falava no lançamento do seu novo livro A Estranha Ordem das Coisas, que decorreu esta Martes em Lisboa, na Escola Secundária António Damásio, e defendeu perante um auditório cheio que é preciso educarmo-nos para contrariar os nossos instintos mais básicos, que nos impelem a pensar primeiro na nossa sobrevivência.
O que eu quero é proteger-me a mim, aos meus e à minha família. E os outros que se tramem. [...] É preciso suplantar uma biologia muito forte”, disse o neurocientista, associando este comportamento a situações como as que têm levado a um discurso anti-imigração e à ascensão de partidos neonazis de nacionalismo xenófobo, como os casos recentes da Alemanha e da Áustria. Para António Damásio, a forma de combater estes fenómenos “é educar maciçamente as pessoas para que aceitem os outros”.
A Escola Secundária António Damásio foi o sítio escolhido pelo neurocientista português para lançar em Portugal a sua nova obra, que volta a falar da importância dos sentimentos, como a dor, o sofrimento ou o prazer antecipado.
“Este livro é uma continuação de O Erro de Descartes, 22 anos mais tarde. Em ‘O Erro de Descartes’ havia uma série de direcções que apontavam para este novo livro, mas não tinha dados para o suportar”, explicou António Damásio, referindo-se ao famoso livro que, nos finais da década de 90, veio demonstrar como a ausência de emoções pode prejudicar a racionalidade.
O autor referiu que aquilo que fomos sentindo ao longo de séculos fez de nós o que somos hoje, ou seja, os sentimentos definiram a nossa cultura. António Damásio disse que o que distingue os seres humanos dos restantes animais é a cultura: “Depois da linguagem verbal, há qualquer coisa muito maior que é a grande epopeia cultural que estamos a construir há cem mil anos.”
O neurocientista acredita que o sentimento – que trata como “o elefante que está no meio da sala e de quem ninguém fala” – tem um papel único no aparecimento das culturas. “Os grande motivadores das culturas actuais foram as condições que levaram à dor e ao sofrimento, que levaram as pessoas a ter que fazer alguma coisa que cancelasse a dor e o sofrimento”, acrescentou António Damásio.
“Os sentimentos, aquilo que sentimos, são o resultado de ver uma pessoa que se ama, ou ouvir uma peça musical ou ter um magnífico repasto num restaurante. Todas essas coisas nos provocam emoções e sentimentos. Essa vida emocional e sentimental que temos como pano de fundo da nossa vida são as provocadoras da nossa cultura.”
No novo livro o autor desce ao nível da célula para explicar que até os microrganismos mais básicos se organizam para sobreviverem. Perante uma plateia com centenas de alunos, o investigador lembrou que as bactérias não têm sistema nervoso nem mente mas “sabem que uma outra bactéria é prima, irmã ou que não faz parte da família”.
Perante uma ameaça, como um antibiótico, “as bactérias têm de trabalhar solidariamente”, explicou, acrescentando que, se a maioria das bactérias trabalha em prol do mesmo fim, também há bactérias que não trabalham. “Quando as bactérias (trabalhadoras) se apercebem que há bactérias vira-casaca, viram-lhes as costas”, concluiu o neurocientista, sublinhando que estas reacções são ao nível de algo que possui “uma só célula, não tem mente e não tem uma intenção”, ou seja, “nada disto tem a ver com consciência”. E é perante esta evidência que o investigador conclui que “há uma colecção de comportamentos – de conflito ou de cooperação – que é a base fundamental e estrutural de vida”.
Durante o lançamento do livro, o investigador usou o exemplo da Catalunha para criticar quem defende que o problema é uma abordagem emocional e não racional: “O problema é ter mais emoções negativas do que positivas, não é ter emoções.”
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Fonte: https://www.publico.pt/2017/10/31/ciencia/noticia/sem-educacao-os-homens-vao-matarse-uns-aos-outros-diz-antonio-damasio-1791034

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O que António Damásio diz pode dividir-se em duas partes - uma, a observação do cientista; outra, a sua opinião individual, particular, política, sobre a realidade que descreve: ou seja, primeiro, Damásio constata que o comportamento de auto-protecção do grupo é um facto da vida, nisso é estritamente científico, depois opina que se torna necessário convencer as pessoas de que devem «aceitar o outro», e nisto está simplesmente a reflectir a influência ideológico-moral dominante na elite político-cultural reinante no Ocidente, que é a mentalidade universalista, a do credo da Santa Madre Igreja Anti-Racista e Multiculturalista dos Últimos Dias do Ocidente. Tal como um cientista medieval que descobrisse que a Terra gira em torno do Sol e depois, como católico obediente à Igreja, argumentasse que era preciso convencer o povo do contrário, também Damásio está a afirmar que «a cultura», isto é, a sua concepção contemporânea ideológica de cultura, serve para contrabalançar o egoísmo natural dos grupos viventes, isto porque o convenceram, como à maioria dos seus congéneres das actuais elites ocidentais, que o universalismo é panaceia para haver paz.
O que acima se descreve é a confirmação de que ele sabe, tal como ao fim ao cabo o resto da classe dominante, mas ele em particular e se calhar melhor que a maioria, que nada é mais forte no seio de qualquer grupo do que a pulsão que afirma «Nós primeiro». Confirma-se, aqui, o que tenho dito ao longo dos anos quase diariamente: o Nacionalismo, forma moderna e sistematizada do espírito da Tribo, é a tendência política com mais potencial de crescimento no seio do Povo e por isso é que quanto mais uma sociedade for democrática mais poder de crescimento terá aí o ideal nacionalista. A Democracia é, com efeito, uma aliada natural do Nacionalismo.

3 Comments:

Blogger Titan said...

Ou seja, o tipo defende que se faça lavagem cerebral aos europeus para que estes aceitem a sua desgraça passivamente. Bacano!

2 de novembro de 2017 às 13:55:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Caturo, mesmo parecendo que não, e tendo consciência que está tudo cada vez mais multicultural e está, no nosso país e o resto da europa do ocidente, e eua, noto que cada vez mais gente tomou o comprimido vermelho, citando o exemplo do filme Matrix (1999), que se assemelha bastante á "realidade" paralela em que vivemos, o Neo toma o comprimido vermelho e acorda para a realidade.
O Trump venceu e a alt right cresceu bastante,levando consigo o crescimento de mais uma onda de nacionalismo. Inclusive em Portugal, o PNR cresce pouco e desilude, mas pelo menos cresce, mas vejo surgirem organizações com ideias claras como a associação portugueses primeiro e agora a NOS - nova ordem social e mais uma outra que é a escudo identitário, será que é desta que o combate cresce de vez no nosso país, é agora ou nunca.

3 de novembro de 2017 às 00:24:00 WET  
Blogger Caturo said...

É o que ando a dizer há anos - quanto mais tempo passa e mais os Nacionalistas falam em discurso directo ao povo, mais povo apoia as perspectivas nacionalistas. É natural - em cada população há muitos factores a influenciar as ideias das pessoas, mas a médio ou longo prazo o factor mais forte é sempre o mais profundo, o mais tribal, o espírito da Estirpe. Por isso é que a Democracia é potencialmente aliada do Nacionalismo.

3 de novembro de 2017 às 01:48:00 WET  

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