segunda-feira, agosto 21, 2017

QUEM GERE O CAMPO PEQUENO ESTÁ INCOMODADO COM AS MANIFESTAÇÕES ANTI-TOURADA...

Paula Resende, administradora da sociedade que gere o Campo Pequeno, pretende acabar com as manifestações contra as touradas nos dias das corridas. Hoje a Praça comemora 125 anos com uma corrida de luxo.
Uma corrida de toiros com três dos mais conceituados cavaleiros portugueses no activo, João Moura, António Ribeiro Telles e Luís Rouxinol, esta noite, é o ponto alto das comemorações dos 125 anos do Campo Pequeno. Um espaço, pertença da Casa Pia, que actualmente concilia a tauromaquia com espectáculos artísticos, culturais e negócios. É gerido há três anos e meio por Paula Resende, nomeada pelo Tribunal do Comércio de Lisboa para gerir todo o processo de insolvência da sociedade gestora do Campo Pequeno, com dívidas que ascendiam aos 90 milhões de euros. Hoje, garante a advogada, as contas de exploração são positivas. Acabar com as manifestações contra as touradas nos dias das corridas é um dos seus principais desafios.

O que representa hoje o Campo Pequeno para Lisboa?
Já não é visto como um local onde se fazem touradas. Desde há 11 anos que é um espaço multiusos, que acolhe todo o tipo de eventos, que vão dos concertos a mercados de produtos, o salão é alugado para festas de empresas, tem um centro comercial, salas de cinema de excelência e um parque de estacionamento que serve milhares de pessoas. Este edifício, com uma arquitectura neo-árabe, classificado como Monumento de Interesse Público, desperta curiosidade quer a nível nacional quer internacional.

A parte comercial é essencial para manter o Campo Pequeno?
Completamente. Temos orçamentos para as três áreas de negócio: a comercial, a de eventos e a da tauromaquia. É a conjugação destas áreas que torna possível a sobrevivência. E é necessário que todas funcionem e facturem...

Estamos a falar de que montantes?
Posso dizer que agora a situação financeira está equilibrada. Nos últimos dez anos houve períodos em que a empresa teve algumas dificuldades. Agora a conta de exploração é totalmente positiva. O centro comercial está no pleno, tem as lojas todas abertas, no ano passado tivemos a ocupação máxima de espectáculos: 196 dias de ocupação, é um recorde.

As contas com a Casa Pia, proprietária do imóvel, já estão em dia?
Têm de estar, a Casa Pia necessita deste dinheiro para fazer acção social, é vital para o orçamento deles. Pagamos uma renda mensal bastante avolumada, mais de meio milhão de euros por ano, e se me atraso a pagar a renda, é natural que a Casa Pia comece a ficar nervosa.

Que tipo de contrato existe?
Na altura das grandes obras, em 2004, foi feito um investimento enorme [não especificou quanto, mas na altura falou-se em cerca de 80 milhões de euros] e por isso foi assinado um contrato de exploração longo, por 50 anos. O contrato fala na realização de 20 corridas por ano, mas em Portugal não há público para tantas touradas. Temos feito na ordem das 12/13 e não sei se para o ano as consigo fazer, são demasiadas. Outra das obrigações era um museu, que já temos desde há dois anos, e com número de visitantes acima das expectativas, perto dos 42 mil.

Quanto custa uma tourada?
Depende muito do cartaz... O Campo Pequeno é conhecido internacionalmente por ser a capital do toureio a cavalo do mundo inteiro. Mas nós somos um país pequeno e é difícil contratar. Para ter mais audiência é necessário ir contratar ao estrangeiro, nomeadamente a Espanha, e alguns cobram cachês muito elevados, mas às vezes temos de os trazer para encher a praça. Podemos perder dinheiro nessa corrida, mas isso é preciso para satisfazer o público e ganhar dinheiro noutra corrida. Daí ser difícil dizer com clareza quanto custa uma corrida.

Há grande diferença entre o que cobra o toureiro espanhol e o português?
Há uma grande diferença no que ganham... Há uns anos, os espanhóis eram discípulos e inspirados nos portugueses, em João Moura, por exemplo. Agora têm eles os grandes toureiros e nós temos poucos com aquela entrega necessária para cativar aficionados. Os nossos toureiam bem tecnicamente, mas são poucos os que transmitem a emoção que faz vibrar o público, este tem de sair da praça satisfeito e com vontade de ir conviver/consumir aos nossos restaurantes, de ir fazer compras e voltar. Temos de olhar para esta empresa como um todo. Há que ter eventos que encham o centro comercial, a área de restauração... E este é o meu desafio, agrada-me, é uma função motivadora...

Isto leva-me a perguntar se foi pelo desafio que uma advogada foi parar a uma praça de touros?
Sou uma advogada especializada em gestão de empresas e estou aqui a gerir esta empresa.

O mundo taurino já a cativava?
Fascinava-me. Fui a algumas corridas com o meu pai, mas nunca estive ligada aos touros. Apaixonei-me pela tauromaquia quando vim para aqui .

E o que é que a desagrada mais?
Creio que é mesmo as manifestações que aqui se fazem contra as touradas nos dias das corridas.

Mas as pessoas têm o direito à manifestação.
Sim, têm. Vivemos num país livre, numa democracia, o direito à manifestação é legítimo, mas quer se goste ou não de touradas não se pode é agredir as pessoas que gostam, que estão aqui a passear. O que estes senhores fazem é gritar palavras de ordem, ofensivas, difamatórias, de forma muito ruidosa, com decibéis acima da lei, manifestações que não cumprem com os requisitos legais. Estas contestações são ilegais. Neste momento tenho duas acções judiciais para delimitar o direito a este tipo de manifestações. Também já contactei o presidente da Câmara de Lisboa para falar sobre este assunto. Estou à espera que alguém faça alguma coisa.

Esta situação acontece há quanto tempo?
Há anos, mas piorou nos últimos dois. Há aí uns movimentos criados especificamente para isto. É uma manifestação organizada, encomendada, com um cunho muito político. São uns 15. Não vou descansar enquanto não se fizer alguma coisa.

Qual a expectativa para a corrida do 125.º aniversário?
Que a praça esteja cheia. É uma corrida histórica e merece ter muito público. Decidimos contratar portugueses, os três mestres do toureio a cavalo que estão no activo neste momento: o João Moura, que continua a ser único - ainda agora saiu em ombros em Espanha, o que é coisa rara -, o António Ribeiro Teles e o Luís Rouxinol, que é de outra dinastia. O Campo Pequeno merece-os ter e eles já deram tanto a esta praça. Seria uma ingratidão se tivéssemos ido contratar espanhóis. Também vão estar os forcados amadores de Montemor e de Lisboa. E em termos de touros, em vez de contratarmos uma ganadaria, escolhemos seis históricas, a mais antiga, Palha, que tem quase tantos anos como o Campo Pequeno. Vai ser uma festa .

E vai contar com a presença do Presidente da República?
Infelizmente vamos ter poucas individualidades. É uma altura de férias da nossa classe política. Gostaríamos muito de ter cá o Presidente, foi convidado, mas não pode vir, temos só a promessa de que virá na corrida de gala que encerra a nossa temporada, a 12 de Outubro.

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Fonte: http://www.dn.pt/sociedade/interior/estas-manifestacoes-contra-as-touradas-sao-ilegais-8712239.html

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É bom saber que as manifestações anti-tourada servem mesmo para alguma coisa - incomodam esta gente, que está mesmo a tentar silenciar quem lhes denuncia o crime que cometem semanalmente contra os animais. Quanto às acusações da senhora, são infundadas: nas palavras de ordem nem há ofensas nem há calúnias; os decibéis da manifestação estão bem dentro da lei.