quarta-feira, junho 07, 2017

«REI ARTHUR - A LENDA DA ESPADA»


«Rei Arthur - A Lenda da Espada» é um filmezito jeitoso estreado há umas semanas. 
Mostra-se relativamente aceitável, dentro do género épico-fantástico esteticamente anacrónico - o romano-bretão Artur era um combatente do século V, se de facto existiu, enquanto em cena se vêem grandes castelos, vestimentas aristocráticas e armaduras completas de tipos vários, datadas de séculos posteriores. 
É também etno-historicamente anacrónico, dado que o Artur histórico era, recorde-se, um romano-bretão, ou um bretão, confrontando invasores germânicos oriundos do noroeste da actual Alemanha, mas este pormenor da coisa é frequentemente esquecido, talvez porque a história é sobretudo contada pelos Ingleses e eventualmente não lhes interessa lembrar que um dos heróis que reclamam como seus combateu sobretudo contra os Anglos e Saxões, antepassados formais dos próprios Ingleses... 
Um bom filme do monarca Artur ainda está para ser feito e será falado integralmente em Galês ou em Bretão... 
Enfim, dentro do género, repito, não está mau. Piora quando acaba por cair em estereótipos perfeitamente desnecessários e evitáveis, tais como a luta final em que o maior herói vence in extremis o grande mau da fita e pronto. Vencer in extremis é ganhar de repente depois de ter estado a gramar pesada dose de porrada e de se encontrar completamente nas lonas, torna-se maçadora a repetição à náusea do esquema. 
O pior do filme são os diálogos intencionalmente bem dispostos ou quase humorísticos que acabam por se inscrever no quadrante da futilidade adolescente quase ianque. 
A melhor parte do filme nem parece ter sido escrita por quem fez o resto do guião - o texto e as imagens dos encontros entre Vortigern e um monstro reptilíneo-aquático com o qual tem um pacto de sangue estão verdadeiramente magistrais e vale a pena ver a película só por causa disso. 
De resto, bem se pode esperar para que este Artur apareça na confortável, caseira e barata televisão em vez de se ir dar dinheiro a um filme que «mete» ali dois bonzinhos negros completamente a despropósito e, para ajudar à multiculturalice de entretenimento americana, enxerta-se ali uma escola inteira de Kung Fu, foda-se que é dose.