quarta-feira, outubro 26, 2016

UM DOS LÍDERES DE UM DOS MAIORES PARTIDOS NACIONALISTAS EUROPEUS DECLARA: «NÃO SOMOS NENHUM PARTIDO CRISTÃO»

A notícia é de há uns meses, mas eventualmente terá cada vez mais relevância. Na Alemanha, um dos líderes do partido anti-imigração e já nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD, no acrónimo em Alemão), Alexander Gauland, teve a coragem de declarar que o seu partido não é cristão: «Wir sind keine christliche Partei.»
Claro que a seguir reconheceu a relevância da dita tradição cristã na Alemanha. O seu partido ergue-a contra o Islão, como seria de esperar. Gauland diz que é culturalmente cristão, mas não defende a religião cristã propriamente dita, separa em vez disso a religião da cultura, tanto quanto pode. E confessa: «há um canto confuso na minha alma que eu provavelmente vou tratar pouco antes da minha morte.»
De notar que a AfD foi o único partido que a Igreja Católica não convidou para um determinado evento anual, como aqui se leu: http://gladio.blogspot.pt/2016/06/na-alemanha-partido-nacionalista-e-o.html
Ao contrário do que se pudesse pensar, isto não é particularmente nocivo para a AfD, cujo público eleitor é eventualmente menos dado às igrejas cristãs do que a média da população alemã...
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Fontes:
 - http://www.pro-medienmagazin.de/politik/detailansicht/aktuell/afd-vize-gauland-wir-sind-keine-christliche-partei-96208/
 - http://archyworldys.com/afd-and-christianity-looking-to-the-west/

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É um progresso notável, apesar de tudo. Um acto de coragem, visto no seu todo. Claro que ainda há aqui alguma fragilidade doutrinal, derivada precisamente da ideia puramente «abstracta», para não dizer outra coisa, de «cristão cultural», como se tal coisa tivesse algum cabimento. O Cristianismo é uma religião, não é uma «cultura». Influencia a cultura, é por ela influenciado (e de que maneira o foi, no Ocidente), mas não é, de modo algum, redutível a uma cultura. Ou se acredita que JC é o salvador ou não. JC não pode ser o salvador «mas só culturalmente». Quem fala em ser «cristão cultural» não é cristão de todo e não consegue lidar com o papel preponderante que o Cristianismo assumiu, pela força, no Ocidente, e então tenta contornar essa contradição com palavras umas em cima das outras, todas vazias, a compor com cuspo um arranjinho insustentável. Uma religião como o Cristianismo, religião de doutrina, de conversão individual, não se coaduna doutrinalmente com uma situação em que se assume a meia-tintice; só quem pense que a Religião pode ser politicamente manipulada é que acredita que se pode defender esse tal «Cristianismo cultural». Os Nazis tentaram-no, com o seu «Cristianismo Positivo» - que adorava um «Cristo Ariano»... - e fizeram uma barracada de todo o tamanho. Aliás, o próprio Gauland confessa que ele próprio é «confuso» nesse aspecto.
Não fosse o totalitarismo cristão ter-se imposto pela lei e pelo fogo em toda a Europa, os actuais defensores da Europa não estavam agora com esse espinho cravado no flanco. Mas tudo se ajeita, a seu tempo. Que as hostes nacionalistas sejam cada vez menos cristãs é um bom sinal - e que o culto cristão diminua em solo ocidental enquanto o Nacionalismo ganha votos parece, até ver, um valioso augúrio.


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