domingo, outubro 02, 2016

JOGADORAS DE XADREZ RECUSAM USAR HIJAB NO CAMPEONATO MUNDIAL DE XADREZ NO IRÃO

Nazi Paikidze, xadrezista
Está lançada a polémica a cinco meses do Mundial de xadrez, que se vai desenrolar em Teerão, capital do Irão.
As praticantes, segundo a lei do Irão, têm de usar o hijab, o conhecido véu islâmico que cobre o cabelo das mulheres. É, precisamente, este facto que tem deixado algumas das xadrezistas indignadas, pois foram informadas de que só poderão disputar o Mundial caso estejam disponíveis para cobrir o cabelo com o hijab.
Naquele país asiático, a mulher que estiver num local público sem o hijab pode ser punida com uma multa ou até prisão efectiva.
A grande mestre campeã norte-americana, que também tem nacionalidade georgiana, Nazi Paikidze, já veio a público referir que ficará muito "frustrada" se tiver de abdicar do Mundial e atirou-se à Federação Internacional de Xadrez. "É absolutamente inaceitável que um dos mais importantes torneios de mulheres se realize num país em que, nos dias de hoje, as mulheres são obrigadas a cobrir-se com um hijab. Eu compreendo e respeito as diferenças culturais. Mas quando o não cumprimento pode levar à prisão os direitos das mulheres estão a ser severamente restringidos", disse a atleta de 22 anos.
E foi mais longe: "Nem eu nem nenhuma mulher vai sentir-se segura em disputar um Mundial no Irão. Se o local do Mundial não for alterado não irei participar. Estou profundamente chateada. Sinto-me honrada por estar qualificada para representar os Estados Unidos da América mas bastante decepcionada por não marcar presença devido a questões religiosas, sexistas e políticas."
A opinião de Paikidze é, de certa forma, partilhada pela equatoriana Carla Heredia, ex-campeã pan-americana. "Nenhum organismo, nenhum governo, nem qualquer torneio deve impor que as mulheres usem o hijab", explicou a sul-americana sem no entanto concretizar se estará presente em Teerão no próximo ano.
Menos contestatária e nos antípodas de Paikidze e Heredia parece estar a grande mestre de xadrez, a húngara Susan Polgar. "Não tenho qualquer problema em usar um vestido ou um véu, desde que todas as jogadoras tenham de o fazer. Já visitei mais de 60 países, de diferentes culturas, e tive gosto em mostrar o meu respeito pelas suas tradições. Ninguém me pediu para fazê-lo. Só o fiz por respeito. Eu, pessoalmente, não tenho qualquer objecção em cobrir-me com o hijab", esclareceu.
De encontro à posição de Polgar está a grande mestre iraniana Mitra Hejazipour. A atleta, interpelada pelo The Guardian, vê neste Mundial um momento único para as mulheres do Irão.
"Este vai ser o maior evento desportivo feminino de que tenho memória no Irão. Não conseguimos mostrar capacidade de realizar um campeonato mundial feminino noutras modalidades no passado. Ninguém tem o direito a apelar a um boicote. Este Mundial é de extrema importância para as mulheres do Irão. É uma oportunidade para mostrarmos a nossa força", realçou Mitra Hejazipour, vencedora em 2015 do campeonato asiático.
Ghoncheh Ghavami, uma britânica que também tem nacionalidade iraniana, tem sido o exemplo utilizado pelas atletas que não vêem com bons olhos o Mundial de xadrez em Teerão. A mulher de 27 anos foi detida em Junho de 2014, integrada num grupo de mulheres que queria assistir ao jogo de voleibol masculino entre o Irão e a Itália.
Ghavami esteve presa durante 126 dias e as autoridades alegaram que a detiveram por razões de segurança. "O mundo deve estar disponível para ouvir as vozes de quem quer terminar com esta descriminação e não ignorar estes apelos, que só isolam o país", disse, perante a atenção da imprensa internacional depois de ser libertada.
Nem só as mulheres se fizeram ouvir. O xadrezista inglês Nigel Short fez um apelo à Federação Internacional de Xadrez: "Têm de alterar o país que vai organizar o torneio. O hijab é um símbolo de repressão."
A Federação Internacional não só não mostra vontade em fazer sair o Mundial do Irão como recomendou às atletas que aceitassem "as leis e as diferenças culturais".
*
Fonte: http://www.dn.pt/desporto/interior/mulheres-ponderam-boicote-do-mundial-devido-ao-hijab-5419247.html

* * *

Quanto mais contacto com o mundo islâmico, e quanto mais houver países muçulmanos a ter algum tipo de relevância a nível internacional, mais embates destes e doutros haverá. Uma saudação é devida às jogadoras que não aceitaram a imposição do hijab.