quarta-feira, novembro 18, 2015

EVENTO PAGÃO NA ESCÓCIA E REACÇÃO CRISTÃ FUNDAMENTALISTA LOCAL - MICRO-REFLEXO DO QUE É O OCIDENTE

Fontes:
 - http://www.secularism.org.uk/blog/2015/11/scottish-evangelists-identify-paganism-as-one-of-the-biggest-threats-to-western-civilisation
 - http://www.heraldscotland.com/news/14032559.How_Paganism_is_casting_its_spell_on_Scots__according_organisers_of_world_s_largest_witchcraft_festival/?ref=fbshr
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Em Croydon, Escócia, realizou-se a 14 de Novembro, Saturnes, o festival do Witchfest - http://witchfest.net/ - organizado pelo grupo «Children of Artemis» (Filhos de Ártemis, a Deusa grega da Lua e da Floresta), que terá contado com mais de três mil participantes. 
A organização afirmou que o Paganismo se está a disseminar por toda a Grã-Bretanha. Segundo o «Children of Artemis», dezenas de milhares de britânicos dão-se a práticas pagãs, que incluem por exemplo culto religioso à Lua e outro tipo de ritos, e que a venda de bilhetes subiu cento e cinquenta por cento, enquanto já estão esgotadas as entradas para o evento do grupo no próximo Verão, em Glastonbury. O «Children of Artemis» declarou ainda, por Merlyn Hern, que enquanto há cada vez mais gente a rejeitar as crenças ditas tradicionais  - os censos demonstram-no, bem como vários outros estudos de opinião pública - há ao mesmo tempo a busca por uma dimensão espiritual e uma atracção pela natureza igualitária do Paganismo e pelo ideal de coexistência pacífica e tolerante: «É um interesse espiritual genuíno. É democratizado e aberto. Penso que a ideia de que também há Deidade feminina é muito mais igualitária - é algo que tivemos nas antigas religiões dos tempos gregos e romanos mas que não se encontra nas religiões monolíticas. Também se relaciona com uma uma compreensão mais moderna da sexualidade (...). Também estamos a assistir a um crescente respeito pelo mundo natural, a ideia de adorar o mundo natural é muito antiga. Creio que há uma ligação entre o interesse crescente pelo Paganismo e a Ecologia. Trata-se de um sistema muito amigo do ambiente.» Fez notar, além disso, que o elemento mágico desperta o interesse das pessoas e desempenha a mesma função que a oração nas religiões ditas tradicionais: «Tem o aspecto feérico da oração mas também é mais igualitário. Não há apenas um Poder aqui.»

Ao ler isto, os responsáveis do Centro Solas pelo Cristianismo Público reagiram, no Facebook - https://www.facebook.com/solascpc/?fref=ts - espernearam, como seria de esperar. Os números acima referidos estão talvez a assustar esta malta de Cristo que resolveu considerar o ressurgimento pagão contemporâneo como «uma das maiores ameaças à civilização ocidental e aos valores cristãos que sustentam a nossa sociedade. Está muito mais disseminado do que as pessoas pensam e esconde-se sob o secularismo, o Cristianismo liberal e o movimento interfé».
No diálogo subsequente, quem fala em nome do centro opina que o Paganismo nunca foi verdadeiramente tolerante porque quando os cristãos afirmaram publicamente a sua crença num «Senhor» como alternativa aos Deuses pagãos, foram perseguidos, e o mesmo acontece hoje. 

Isto é evidentemente esquecer o detalhezito de que os cristãos só foram perseguidos porque a sua afirmação da crença continha, na doutrina e na prática concreta, a demonização das outras Divindades todas e a subversão constante contra o Império pagão, e que os adoradores das outras Divindades pagãs que não se apresentavam contra o culto oficial eram de facto tolerados e que, de resto, em toda a parte do planeta e da História onde os cristãos vieram a ter poder político-militar, o culto cristão foi imposto pela força e incluiu a destruição e/ou usurpação das práticas pagãs...

Quanto aos valores da sociedade actual, estes têm incomparavelmente mais a ver com a tolerância dos tempos pagãos - e não admira que os cristãos fundamentalistas lamentem tanto o Concílio do Vaticano II... - do que com as atitudes cristãs de proibir outras religiões e promulgar proibições de diferentes modos de interpretar a Bíblia, raiz dos banhos de sangue pós-medievais entre católicos e protestantes, bem como das matanças em larga escala ocorridas durante os confrontos entre ortodoxos da Igreja e arianistas, no dealbar da Idade Média. A Cruzada do Norte, contra os pagãos do Báltico, não pode também ser esquecida, nem a guerra de conversão que Carlos Magno moveu contra os Saxões pagãos: em ambos os casos, quem dirigia as operações - respectivamente Bernardo de Claraval e o já citado rei franco - declarou, a respeito dos povos pagãos, que «ou se convertem ou serão eliminados», no que configura um pensamento formalmente genocida, herdado da Bíblia (ver por exemplo Primeiro Livro de Samuel, 15.1, no Antigo Testamento). 

Interessa salientar que surgem já, aqui e ali, indícios de radicalização cristã no Ocidente, em reacção ou a pretexto da violência islamista. O aspecto mais significativo do fenómeno é que ambos os credos filhos de Abraão são inimigos da Liberdade europeia pelas mesmas razões, o que não surpreende, uma vez que partem em grande medida de uma mesma mentalidade militantemente universalista, dogmática e por isso mesmo inevitavelmente totalitária. Que, em contrapartida, as opiniões públicas ocidentais se revelem cada vez mais liberais e tolerantes para com a diversidade de ideias, valores e formas de vida, revela só por si que as posições se estão naturalmente a extremar. 

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Deturpações wiccanas do Paganismo a sério com fins "igualitários", somente isto.

20 de novembro de 2015 às 03:13:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

é preciso ser-se muito hipocrita.

Aos muçulmanos, porque é uma religiao estrangeira, ja nao tem problema disseminar-se, até oferecem as igrejas para eles, para que o estrangeiro se sinta bem. Temos de fazer todas as suas vontadinhas, porque o estrangeiro é o santo deus e temos de agrada-lo muito bem.

Como o paganismo neste caso é europeu, ja ficam furiosos e nao aceitam a liberdade de escolha. Ao europeu ja nao se pode deixar que ele pratique uma outra religiao, ficam furiosos. O europeu nao tem escolhas, nao pode escolher. Tem de ser a nossa e pronto.


"resolveu considerar o ressurgimento pagão contemporâneo como «uma das maiores ameaças à civilização ocidental e aos valores cristãos que sustentam a nossa sociedade."

A hipocrisia nao tem limites. Os muçulmanos ja fizeram uma carrada de atentados e muitos outros foram evitados a ultima da hora. E temos de gastar imenso dinheiro em evita-los com escutas permanentes e policia constantemente alerta. E a igreja nao diz nada. Mas a uns simples pagãos que nao fazem mal a ninguem, ai ja dizem que é uma ameaça à civilização ocidental. Esta gente esta cega.

20 de novembro de 2015 às 04:02:00 WET  

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