sexta-feira, maio 22, 2015

OCDE ALERTA - DESIGUALDADE ECONÓMICA É UM DOS PRINCIPAIS ENTRAVES AO CRESCIMENTO ECONÓMICO E PODE COMPROMETER SAÍDA DA CRISE

O aumento das desigualdades na distribuição dos rendimentos é um dos principais entraves ao crescimento económico e pode comprometer a saída da crise. O alerta é deixado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) num relatório publicado nesta quarta-feira e que tem como mote uma pergunta: por que razão menos desigualdade é benéfico para todos (In it Together: Why Less Inequality Benefits All).
Para a organização, dirigida por Angel Gurría, o crescimento económico dos países está muito condicionado pelo aumento das desigualdades, que atingiram o valor mais elevado dos últimos 30 anos. Os 10% mais ricos da população total da OCDE ganham agora 9,6 vezes mais do que os 10% mais pobres, quando nos anos 80 ganhavam 7,1 vezes mais.
"Atingimos um ponto crítico", resumiu o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, durante uma conferência de imprensa em Paris.
"Os dados mostram que as fortes desigualdades prejudicam o crescimento. A acção política deveria ser motivada tanto por razões económicas como por razões sociais. Ao não atacarem o problema da desigualdade, os governos enfraquecem o tecido social e comprometem o crescimento económico a longo prazo", acrescentou.
No relatório, os técnicos alertam que "o aumento das desigualdades de rendimentos levanta preocupações sociais e políticas, mas também económicas: a desigualdade tende a influenciar negativamente o crescimento do PIB e é a distância crescente dos 40% mais pobres em relação ao resto da sociedade que está a contribuir para esse efeito”, refere o documento.
A OCDE realça que, além da desigualdade dos rendimentos, há outro factor que está a ganhar dimensão: a concentração de património nos escalões mais ricos da população. Em 2012, exemplificam os técnicos no relatório, nos 18 países da OCDE para os quais dispunham de dados comparáveis, "os 40% mais pobres não tinham mais do que 3% do património total das famílias", enquanto "no outro extremo, os 10% mais ricos possuíam metade do património total e 1% dos mais ricos possuía 18%".
Perante esta realidade, a organização com sede em Paris defende que as políticas não se podem centrar apenas nos 10% mais pobres, mas devem abranger um universo mais alargado, nomeadamente a classe média baixa que está vulnerável e “arrisca não beneficiar da recuperação e do crescimento no futuro”.
Para reduzir as desigualdades e promover o crescimento, a OCDE sugere que os governos promovam a igualdade de género no emprego e o acesso a emprego de qualidade, e que tomem medidas que encorajem o investimento em educação e na formação ao longo da vida. Ao nível dos impostos, propõe-se que se agrave a carga fiscal sobre os mais ricos e que se crie apoios ao rendimento dos mais pobres, tanto trabalhadores, como desempregados.
A OCDE destaca que, nos anos mais recentes, entre 2007 e 2011, a desigualdade dos rendimentos das famílias e a pobreza “de facto aumentou” nos países mais afectados pela crise, embora o impacto tenha dependido em muito do sistema fiscal e das medidas específicas implementadas durante esse período. E, se olharmos mais de perto, acrescenta, concluímos que a crise alterou os factores que estão por detrás do aumento das desigualdades e da pobreza na maioria dos países 33 países que constituem a organização.
A OCDE identifica duas fases diferentes. Uma primeira em que os estabilizadores automáticos, os estímulos fiscais e o aumento dos benefícios sociais amorteceram o impacto nas famílias e noutros sectores da economia. Na segunda fase, e à medida que as dificuldades económicas se agravaram, os governos foram retirando esses apoios e introduziram programas de consolidação orçamental, reduzindo-se o efeito amortecedor.
Esta realidade sentiu-se em particular nos países mais afectados pela crise como a Grécia, a Irlanda ou Espanha (e também em Portugal).
Portugal é, de resto, o sétimo país mais desigual da OCDE (dados de 2013 apenas disponíveis para 30 países). O Coeficiente de Gini, que numa escala de zero a cem sintetiza a assimetria da distribuição de rendimentos, era em 2013 de 0,338. Acima da média da OCDE (0,315) e pior do que Espanha (0,335).
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram que em Portugal, a “forte desigualdade na distribuição dos rendimentos” manteve-se em 2013. Nesse ano, o rendimento dos 10% da população com mais recursos era 11,1 vezes superior ao rendimento dos 10% da população com menos recursos. Em 2012, esta diferença estava nos 10,7, tendo vindo a agravar-se de ano para ano (10 em 2011 e 9,4 em 2010).
A OCDE destaca ainda que em Portugal, assim como na Grécia e na Irlanda, o aumento da desigualdade nos rendimentos do trabalho foi fortemente influenciada pelos efeitos do desemprego, no entanto as diferenças salariais reduziram-se por causa dos cortes nos salários do sector público.
Este é o terceiro relatório da OCDE que trata o tema das desigualdades de rendimentos, depois de um publicado em 2008 e outro em 2011. O documento analisa os efeitos das desigualdades no crescimento económico, as consequências da crise nos rendimentos das famílias, o impacto das mudanças estruturais no mercado de trabalho, nomeadamente o aumento do trabalho atípico, a dualidade do mercado de trabalho, as mudanças no emprego feminino e analisa as políticas para enfrentar o problema.
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Fonte: Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/desigualdade-e-um-travao-ao-crescimento-economico-alerta-ocde-1696368

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Pode ser que a elite liberal cá do burgo, que gosta muito do «elevador social» (sic, conversa do CDS) mude de ideias e passe a tratar melhor o povinho... pode pode...
De resto, quanto maior for a abertura da Europa ao terceiro-mundo mais se intensificará a influência terceiro-mundista - da China e afins - que cria desigualdade sócio-económica devido à fragilização económico-laboral das classes mais baixas. Só com um controlo rigoroso sobre os plutocratas no espaço europeu, tendo por guia o princípio da sobreposição da Política à Economia, é que se consegue dignificar a vida das classes média e baixa europeias. E só o Nacionalismo afirma esse primado de uma forma inequívoca, porque é anti-economicista, ao contrário da Esquerda militante.


4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Pode ser que a elite liberal cá do burgo"


Se as desigualdades em Portugal são provocadas pela "elite liberal", nem quero imaginar como são as desigualdades dos países anglo-saxónicos e restantes países germânicos, que possuem as economias mais liberais do planeta. Deve ser só atraso e miséria.

22 de maio de 2015 às 22:09:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Podia ser, se a população lá fosse tão passiva como cá e não exigisse os seus direitos. Por alguma razão Portugal é o país da União Europeia com mais desigualdade, como aqui se lê:

http://www.pressreader.com/portugal/jornal-de-noticias/20150522/281513634741862/TextView

De resto nunca ouvi dizer que as desigualdades em Portugal fossem causadas pela elite neo-liberal. Mas que esta a tem agravado, isso está à vista, a menos que o aumento da quantidade salários mínimos em Portugal seja decidido por, deixa cá ver,

1) Os comunas
2) O aquecimento global
3) Os «mercados»...




22 de maio de 2015 às 23:33:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

"Podia ser, se a população lá fosse tão passiva como cá e não exigisse os seus direitos"


Essa mentalidade populista, a de dividir a população em categorias discretas, em castas, e opondo-as em conflito umas contra as outras, numa das quaisquer seguintes variantes - trabalhadores/pobres/minorias/etc versus patões/ricos/elites/brancos, como se fosse com conflito que se alcançasse a prosperidade em sociedade, é um dos pilares de todas as ideologias de esquerda e também de certas correntes fascistas.

Mas até Hitler, radical como era, percebeu que este tipo de nacionalismo só trás clivagens e conflitos na sociedade, em pouco ou nada se diferenciando nesse aspecto do comunismo, resolveu ver-se livre dos que, dentro do Partido Nazi, perfilhavam esse tipo de pensamento, na Noite das Facas Longas.
Hitler, o supremo fascista, percebeu isto, muitos nacionalistas modernos e autoproclamados defensores da democracia e liberdade não percebem.

23 de maio de 2015 às 23:32:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Não se trata de criar qualquer clivagem social mas sim de perceber que é preciso dignificar a maior parte da população, o que «parece» coisa de somenos importância para quem até já fala em reduzir salários. O que acima está escrito como factor de manutenção de um estado de coisas aviltante é «elite neo-liberal». A partir daí só enfia a carapuça quem quiser, mas já agora tendo a elegância de não distorcer o discurso do interlocutor.

25 de maio de 2015 às 05:32:00 WEST  

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