GOVERNO TUGA FORÇADO A ACEITAR GUINÉ EQUATORIAL NA CPLP
Fonte:
http://www.publico.pt/mundo/noticia/obiang-isolou-portugal-e-fez-xequemate-em-fevereiro-1661688#/0
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Os países africanos da CPLP fizeram a
pressão decisiva ao longo do tempo para que a Guiné Equatorial
fizesse parte da organização de países lusófonos. O Brasil foi
mais discreto mas apoiou sempre a entrada. O PÚBLICO reconstitui
momentos cruciais do processo.
A 20 de Fevereiro, em Maputo, no Centro
Internacional de Conferências Joaquim Chissano, houve um momento
histórico. Na capital moçambicana, os ministros dos Negócios
Estrangeiros dos oito Estados membros da Comunidade de Países de
Língua Portuguesa (CPLP) — Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste — recomendaram aos seus chefes de Estado que, na
cimeira de Díli de 23 de Julho próximo, a Guiné Equatorial fosse
aceite como membro de pleno direito da organização.
A transcendência da decisão atinge
vários níveis. Entre os quais aceitar a entrada de um país que só
agora dá os primeiros passos no ensino do Português, assumira 72
horas antes uma moratória para a pena de morte e é um potentado
económico. No entanto, o que surpreendeu foi a presença do chefe da
diplomacia de Malabo, Agapito Mba Mikuy, na fotografia de família.
Numa família à qual formalmente — e a diplomacia é feita de
gestos formais — ainda não pertencia e na qual só entrará, de
pleno direito, no próximo dia 23.
À esquerda do ministro português dos
Negócios Estrangeiros Rui Machete, e à distância de um homem, lá
está o chanceler Agapito: estatura média, barba rala e óculos. Nas
escadarias do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano,
transformado num tabuleiro de xadrez, o instantâneo é de xeque-mate
a Portugal.
A
foto foi o último episódio de uma reunião tensa. Fora concebida a
priori para
adoptar a resolução da franquia do regime de Teodoro Obiang, há 35
anos no poder em Malabo, a uma organização internacional, com
países africanos, um sul-americano, um asiático, e um europeu
do Sul, respectivamente Brasil, Timor-Leste e Portugal.
Seis Estados membros da CPLP, da
influente Angola ao anfitrião Moçambique, mostraram-se, desde o
início, entusiastas da entrada. Sem qualquer observação crítica
ou juízo de mera ponderação. O Brasil de Dilma Roussef foi mais
discreto no apoio mas, na hora decisiva, esteve a favor. As
resistências de Portugal, se fossem submetidas à terrível
aritmética do voto, seriam “goleadas” por sete a um. A outra
alternativa seria a ruptura, porque a entrada de novos membros exige
unanimidade.
Mas este cenário nunca se pôs. Os
custos do “não” eram demasiado elevados para Lisboa. No imediato
e nas contas do futuro. Portugal não tinha ilusões da correlação
de forças. Reconhecia progressos no cumprimento no guião aprovado
na cimeira de Luanda de 2010, do ensino do Português ao cumprimento
dos Direitos Humanos, visando o fim da pena de morte. Pretendia,
apenas, ao que o PÚBLICO soube, protelar a recomendação para a
reunião dos ministros de Negócios Estrangeiros de 22 deste mês,
que antecede a cimeira de chefes de Estado de Díli. Seria um gesto
para a opinião pública portuguesa, a única dos países de CPLP que
olha de soslaio para a estranha perenidade da presidência de Obiang.
No espaço com o nome de Chissano, o
ministro dos Estrangeiros da Guiné Equatorial fez uma proclamação
vaga. Anunciou que 72 horas antes tinha passado a vigorar no seu país
um “dispositivo legal” que respondia à exigência da CPLP de uma
moratória sobre a pena de morte. O anfitrião, Oldemiro Balói,
chefe da diplomacia moçambicana, comunicaria aos jornalistas que, na
prática, se tratava da suspensão da aplicação da pena de morte.
“Aprovado”,
disseram eles
Quando
Agapito Mba Mikuy abandonou a sala, as suas declarações tiveram a
chancela de “aprovado” de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São
Tomé. Não foram palavras meramente protocolares. Os delegados de
Luanda puseram em causa as verdadeiras razões da prudência da
delegação liderada por Rui Machete. Lisboa temeria a força do
“quarto poder”, da imprensa, referiram o semanário Expresso e
a SIC. Uma observação que recorda os editoriais doJornal
de Angola de
Outubro de 2013, na crise que enterrou a visão da parceria
estratégica de Portugal com Angola anteriormente admitida pelo
Presidente José Eduardo dos Santos.
Nos dias seguintes, no Palácio das
Necessidades vivia-se a ressaca. Contas feitas, não havia documento
que selasse, como mandam as normas diplomáticas das boas relações
entre as nações, o cumprimento por Malabo dos Direitos Humanos. Em
suma: não havia papel. Não existiam declarações e compromissos.
Apenas palavras.
As notícias de organizações
não-governamentais de que, dias antes da entrada em vigor da
moratória da pena de morte, o Governo da Guiné Equatorial executara
nove oposicionistas, tinham o perigo de uma lâmina de cutelo. Até
porque a confirmação dependia do regime do país, considerada fonte
pouco segura. Em Genebra, a 4 de Março, durante o Conselho de
Direitos Humanos da ONU, Alfonso Nsue Mokuy, vice-primeiro-ministro
do Governo de Obiang, diz que a pena de morte foi suspensa no seu
país e que, desde 13 de Fevereiro, está em vigor a moratória. A
delegação portuguesa toma nota da posição reiterada. Não tanto
pelas palavras mas pelo fórum selecto e solene em que foram
pronunciadas.
Saliento uma das passagens que assinalei a cor: Lisboa temeria a força do “quarto poder”, da imprensa. Algo que só acontece em democracia, algo que, como se vê neste contexto, só acontece no país europeu, e que demonstra, mais uma vez, que quanto mais democrática é a sociedade mais respeita os direitos e a voz do povo.
De qualquer modo, o que aqui está em causa é a confirmação da invertebradice da elite tuga: mais uma vez, e mais outra, a tugalhada que manda em Portugal baixa a cerviz diante das exigências do terceiro-mundo «lusíada» e chega ao ponto de ter de ignorar os tão amados direitos humanos, só porque o Brasil e os outros querem a Guiné Equatorial na CPLP. Fica-se assim com mais uma demonstração do que seria Portugal fora da União Europeia e inteiramente dependente da CPLP...
Fora da Europa a tugaria governativa teria a moralidade de um mísero recluso nas mãos de um gangue prisional. Outro exemplo desta tibieza foi o caso em que o governo de Sócrates obedeceu ao governo chinês no sentido de, ao contrário do que fizeram outros países europeus, não receber o líder do Tibete, Dalai Lama, e depois quando questionado sobre a atitude o ministro português responsável respondeu «ai, os governos anteriores também agiram assim».
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