NOVAS DESCOBERTAS INDICAM QUE A MULHER ERA MAIS RESPEITADA NA GRÉCIA ARCAICA DO QUE SE PENSAVA

Fonte: http://www.theguardian.com/science/2008/jun/01/genetics.sciencenews

As mulheres na Grécia Antiga eram afinal muito mais poderosas do que se supunha, segundo novas pesquisas arqueológicas parecem indicar. Até agora pensava-se que teriam sido nessa época tratadas como pouco mais que servas, mas a investigação actual sugere que tal noção estava errada, conforme diz o professor Terry Brown, da faculdade de ciências da vida na Universidade de Manchester.

A descoberta insere-se numa investigação que está a ser levada a cabo por investigadores de Manchester que estudam a fundação de Micenas, a primeira grande cidade-estado da Europa, capital do lendário rei Agamémnon, e considerada, até há pouco tempo pelo menos, como a primeira civilização indo-europeia da Grécia. Lendariamente, foi de lá que Agamémnon partiu com os seus exércitos para atacar Tróia e daí levar Helena, que tinha fugido com o príncipe troiano Páris mas era esposa do irmão e aliado de Agamémnon, Menelau.

A cidade ou cidadela foi primeiramente escavada por Heinrich Schliemann, por volta de 1870, que aí descobriu tumbas contendo ossos envoltos em jóias e máscaras faciais de ouro. Famoso amador, comerciante de profissão mas com vivo interesse pela Antiguidade Clássica, declarou ao rei da Grécia na altura «Descobri as sepulturas de Agamémnon, Eurímedon e seus companheiros, todos assassinados num banquete por Clitmenestra e o seu amante Aegisthos.»

Na actualidade, os investigadores da Universidade de Manchester conseguiram, através da actual tecnologia, reconstituir o rosto de sete dos esqueletos encontrados num círculo de sepulturas dentro da cidadela. Mais recentemente, especialistas na área da genética puderam extrair ADN de vinte e dois dos trinta e cinco corpos encontrados nesse círculo de sepulturas. O material genético extraído é o mitocondrial, que é herdado exclusivamente pelo lado feminino. Dos vinte e dois esqueletos, apenas quatro têm suficiente ADN para ser inteiramente testado. E, destes, dois são homens sem relação de parentesco; o outro par, um homem e uma mulher, são irmão e irmã, ou pelo menos primos, enquanto anteriormente se pensava que teriam sido marido e mulher. As suas feições são muito semelhantes entre si.

Ora o facto de a mulher estar ricamente ornamentada na sua sepultura tinha levado a crer que se tratava da esposa de um homem poderoso e que só por isso teria tido acesso à distinção com que o seu cadáver foi tratado, o que batia certo com a ideia de que as mulheres nesse tempo e espaço só poderiam exercer influência por meio dos seus maridos. Esta descoberta sugere porém que o homem e a mulher tinham o mesmo estatuto e o mesmo poder. As mulheres em Micenas também tinham afinal posições de poder em virtude do seu nascimento.

As gerações de arqueólogos anteriores teriam pois sido influenciadas pela sua própria formação patriarcal, androcrática, o que influenciou as suas interpretações dos achados.

O que agora vem à luz constitui assim mais um testemunho do tratamento relativamente igualitário da mulher no seio de arcaicas gentes indo-europeias, a somar ao que já se sabia do mundo céltico e ainda mais do germânico, e que, de resto, bate certo com o facto de, actualmente, ser genericamente na Europa que mais se respeitam os direitos das mulheres...