quarta-feira, março 20, 2013

O ROSTO DOS BAIXOS SALÁRIOS OU A PONTA DO ICEBERGUE DA CLASSE ECONÓMICA QUE GOVERNA

Fonte: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=636722&tm=9&layout=121&visual=49 (texto do artigo a itálico, comentários do blogueiro a escrita normal)
 
Uma economia baseada em baixos salários é o que Belmiro de Azevedo prescreve para Portugal, considerando que uma tal política pode constituir uma “vantagem comparativa” do país face a “potências que têm muito maior produtividade”.

Para competir com os chineses, talvez... onde grande parte dos trabalhadores vive em dormitórios e trabalha de sol a sol. Não é nada que os belmirosdeazevedo rejeitassem em Portugal, ou onde quer que seja possível sacar ao máximo do povinho, simplesmente não costumam ter, publicamente, o topete que este teve.


Chamado a intervir, ontem à noite, na sessão do sétimo aniversário do Clube dos Pensadores, em Gaia, o empresário de 75 anos sustentou mesmo que, “se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém”.
 
Abstenho-me aqui de repetir em pormenor os contra-argumentos aduzidos por representantes sindicais, a respeito das empresas que, precisamente por estarem baseadas, cá, em mão-de-obra barata, facilmente passam para países mais pobres, deixando trabalhadores portugueses no desemprego ou do facto de que se os salários são baixos não há sequer mercado suficientemente desenvolvido para que os belmirosdeazevedo vendam os seus produtos - e os belmirosdeazevedo ralados, digo eu, tratam simplesmente de conquistar muitos mercados do terceiro-mundo e acabou, com o mal de toda essa gente podem eles bem...
 
 
Para o presidente do conselho de administração da Sonae, uma política de vencimentos reduzidos constituiria uma “vantagem comparativa” do país, numa perspectiva de concorrência com economias de “muito maior produtividade”.
Belmiro de Azevedo esteve há uma semana ao lado do filho e CEO da Sonae, Paulo Azevedo, na apresentação de resultados do grupo, que viu o seu lucro cair 69 por cento no ano passado.
O conglomerado empresarial atribuiu os números à quebra do consumo privado em Portugal e Espanha e à desvalorização dos centros comerciais da Sonae Sierra.
“Diz-se que não se deve ter economias baseadas em mão-de-obra barata. Eu não sei porque não. Porque se não for a mão-de-obra barata não há emprego para ninguém. Portanto, de facto é uma vantagem comparativa. Caso contrário, se a gente quer concorrer com potências que têm muito maior produtividade, é impossível pagar os salários de alta produtividade a trabalhadores com baixa produtividade”, argumentou Belmiro de Azevedo.
“Não há milagres”, rematou o empresário nortenho.

Pois claro, baixa produtividade é assim mesmo, quem não produz o suficiente não pode ganhar muito. Sucede entretanto que estes mesmos trabalhadores portugueses de alegada baixa produtividade, e portanto de baixo salário, auferem ordenados bem mais elevados quando vão trabalhar para países estrangeiros. O Luxemburgo tem uma considerável proporção de trabalhadores portugueses e por acaso é dos países do mundo com melhor nível de vida.
Não consta, em contrapartida, que a elite empresarial tuga tenha baixos rendimentos, antes pelo contrário, aqui há tempos até foi tornado público que os gestores públicos portugueses ganhavam tanto, senão mais, que os seus congéneres alemães. Ora a justificação para que os gestores públicos portugueses ganhem tanto costuma ser a alegada necessidade de competir com as empresas privadas pelos melhores cérebros, o que significa, obviamente, que nas empresas privadas portuguesas, pelo menos nas maiores, se calhar incluindo a Sonae, os ordenados dos gestores são equiparáveis aos dos seus homólogos públicos. Deduz-se portanto que os empresários portugueses têm uma produtividade ou eficiência comparável à dos empresários alemães... pois sim...
Ora os trabalhadores portugueses de mais baixa formação funcionam bem na engrenagem empresarial alemã, luxemburguesa, francesa, suíça, etc.. A imensa diferença salarial entre Porttugal e Alemanha terá porventura outra explicação que não a baixa produtividade dos trabalhadores portugueses, que não é tão mais baixa que a dos alemães como é mais baixo o seu salário.
Quando não se souber quem é que põe ovos, se a vaca se a pata, fecha-se a vaca num compartimento e a pata noutro - descobrir-se-á depois onde é que os ovos aparecem. Ora se a razão para a diferença salarial entre os trabalhadores em Portugal e os trabalhadores na Alemanha não está na baixa produtividade dos trabalhadores portugueses, então tal diferença só pode dever-se à elite empresarial portuguesa, que ou não é tão eficiente como a alemã, ou então, se o é, anda a explorar à tripa forra a classe trabalhadora portuguesa, pagando salários quase terceiro-mundistas para entretanto ir enchendo os bolsos e rodar em automóveis tão bons com os dos empresários dos países mais ricos.
 
 
Belmiro de Azevedo falou também das manifestações de contestação ao Governo de Passos Coelho, descrevendo-as como “um Carnaval mais ou menos permanente”, mas ainda assim preferíveis ao silêncio.
“Enquanto o povo se manifesta a gente pode dormir mais descansado.
 
Isso mesmo. Enquanto o povinho andar a gemer nas ruas, a queixar-se, e com cantorias caliméricas de «acordais» e Vilas-Morenas, estão os belmirosdeazevedo porreiros. Se as bombas começarem a explodir a sério ou se as greves bloquearem severamente as actividades empresariais da tubaragem, aí é que vai ser pior. Nessa altura até pode acontecer que os vítoresgaspares deixem de considerar os Portugueses como o melhor povo do mundo e lhes baixem a cotação para «povo bandalho e arruaceiro e vândalo» antes de se pirarem daqui para fora, em direcção ao Brasil ou a qualquer outro destino tropical lusófono onde o seu «know-how» ainda possa ser apreciado por povos submissos.