sexta-feira, dezembro 21, 2012

«HISTÓRIAS DE UM PORTUGAL ASSOMBRADO»

Em noites de lua cheia, garantem que a terra deita lágrimas na vila de Nordeste, na ilha de São Miguel; queixumes salgados de uma princesa do reino perdido da Atlântida. Na serra de Sintra, espectros vagueiam entre ruínas e alimentam curtas-metragens que correm mundo. Gemidos e som de correntes que se arrastam pelo chão dão sinal de si quando o sol se encosta na almofada na Câmara Municipal de Loulé. Em Rio de Moinhos, Penafiel, os caseiros da Quinta da Junquosa partilham o sono com o Barão das Lajes, que lavou a honra com sangue. Na Quinta das Conchas, no Lumiar, onde em tempos esteve aprisionada a “louca”, ainda se escutam gritos que puseram em sentido um grupo de homens de barba rija da obra contígua ao palácio.
“A partir de uma certa hora não iam para lá, e usavam t-shirts viradas do avesso para o espírito não se agarrar. O capataz tinha uma cadela e sempre que o animal punha o rabo entre as pernas encerravam-se os trabalhos”, conta Vanessa Fidalgo, autora de “Histórias de um Portugal Assombrado”.
Fantasmas, espíritos, almas penadas com assuntos pendentes. Seja qual for o nome das entidades que baralham a razão dos vivos, gozam de estatuto em tudo semelhante com as passageiras de vassouras e suas verrugas. Que os há, há, digamos assim, mais que não seja pela sobrevivência que foram granjeando gerações atrás de gerações por via da memória oral. São histórias que saltam de boca em boca, lendas com firmes raízes nas terras de norte a sul do país, ao ponto de funcionarem em alguns casos como cartão-de-visita local para forasteiros curiosos, que não podendo vencê--lo se juntam a ele.
“A crendice acontece um bocadinho por todo o lado, mas o cepticismo é mais visível na cidade. Penso que tem a ver com o preconceito. São coisas que mexem com uma parte muito íntima, com medos que não admitimos. No meio rural talvez vejam as histórias de uma forma mais verdadeira, valorizando mais os mistérios da sua terra.”
(... Ler o resto no link acima, e há muito que ler ...)

É um livro apropriado à presente quadra, imbuída de magia, também devido ao facto de as noites serem agora mais longas (e hoje é a mais longa do ano, parece) e os dias mais frios, o que ajuda a compôr um ambiente propício a este tipo de leituras. Vanessa Fidalgo aborda o assunto com uma escrita leve e um estilo algo sintético, seleccionando parte do amplo e complexo espólio do folclore popular, antigo e moderno, (o dos chamados «mitos urbanos», lembrando, logo no início da obra, que a própria concepção de «mito urbano» vai perdendo acuidade. Na mesma obra, de escassas duzentas e tal páginas, pode sorver-se um apanhado de crenças milenares, cuja raiz mergulha na noite dos tempos, juntamente com um acervo de vivências actuais, tendo tudo isto em comum a pertença à dimensão feérica desta brumosa faixa do extremo ocidente europeu.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caturo:

http://www.alertadigital.com/2012/12/23/grecia-quiere-eliminar-la-ley-que-otorga-la-ciudadania-a-los-inmigrantes/

23 de dezembro de 2012 às 01:01:00 WET  

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