sexta-feira, novembro 09, 2012

ENTREVISTA A ALAIN DE BENOIST - EM PORTUGAL


Convidado programa do Sociedade das Nações(Sic Notícias) Alain de Benoist, tem sido, nos últimos 40 anos, um dos mais controversos e importantes filósofos do Ocidente. Fundador, contra a sua própria vontade, da chamada "Nova Direita" francesa, tem sido acusado de fascismo e paganismo, anti-americanismo e radicalismo terceiro-mundista. Alain de Benoist esteve em Portugal lançar a revista "Finis Mundi" e para visitar algumas raízes da cultura europeia e mundial. A construção europeia eo futuro da UE, o processo de adesão da Turquia, o imperialismo dos Estados Unidos da América ea actual crise de valores são os principais temas discutidos por Alain de Benoist, na tentativa de traçar o chamado destino do Ocidente. Escritor, jornalista, conferencista, filósofo, Benoist tem mais de 50 livros publicados. A filosofia política e a história das ideias são duas das áreas a que tem votado particular interesse.
 
Constituiu para mim uma imensa surpresa quando numa página do Facebook dei de caras com esta entrevista - seria possível que um canal cá do burgo, controlado, obviamente, pela elite tuga, tão internacionalista e antirra como as outras, apresentasse, num programa tido como sério, um ideólogo de Extrema-Direita a falar em discurso directo, sem interrupções nem «julgamentos em tribunal»?...
 
Rapidamente comecei a perceber os cambiantes da coisa... efectivamente, o autor da entrevista, Nuno Rogeiro, é um sujeito que já esteve na Direita patriótica, ou até patrioteira, que, embora de fundo minho-timorista, lá abriu de quando em vez os olhos para o horizonte da chamada Nova Direita, que é usualmente considerada como uma das Extremas-Direitas e que, de certo modo, está, julgo eu, na raiz da Direita Identitária, da qual Guillaume Faye constitui talvez o expoente máximo. Rogeiro colaborou em Portugal, se é que não dirigiu, ou co-dirigiu (juntamente com Jaime Nogueira Pinto) não estou de momento lembrado, a revista «Futuro Presente», que durante décadas veiculou artigos cujo teor se situou no especto político mais à Direita, incluindo o da Nova Direita, identitária e etnicista. Rogeiro já não será talvez o militante «direitista» de outrora, mas, como sói dizer-se, velhos hábitos morrem tarde.
 
Outro cambiante é o afinal de contas expectável facto de que Benoist se distancia de algum modo da Direita, além de se demarcar nominalmente do Nacionalismo... e, para de início ajudar a «limar» a coisa diante do público bem-pensante do seu programa, o locutor que introduz a entrevista tem o cuidado de dizer que Benoist só «contra a sua vontade» foi fundador da Nova Direita... o que, enfim, está longe de ser bem assim, uma vez que este ideólogo francês foi, durante décadas, uma das principais senão a principal referência intelectual da Direita nacionalista europeia e nessa altura não se chateava nada com isso...
 
Pormenor curioso foi a referência relativamente insistente da dupla de jornalistas portugueses ao alegado Paganismo de Benoist. O texto acima transcrito até diz que o dito foi «acusado de Fascismo e de Paganismo», quase como se Paganismo fosse à partida algo de tão unanimemente condenado pela elite reinante como é o Fascismo... E depois Rogeiro, com um sorriso «divertido» estampadíssimo na face ainda questiona Benoist sobre o seu Paganismo, como se este aspecto do pensamento do autor fosse especialmente relevante... pelos vistos é, e, em calhando, até faz fornicoques a alguns observadores... não me esqueço de ter lido, da pena de Nogueira Pinto, a afirmação de que se afastou um pouco de Benoist devido ao seu pensamento anti-cristão e pagão...
 
Não concordo inteiramente com o que diz Benoist nesta entrevista a respeito do Paganismo. Esquece, a meu ver, que o Paganismo não é em primeiro lugar uma mundivisão teórica mas sim, desde a raiz, uma prática. E uma prática concreta, cultual, o que, evidentemente, assusta tanto os mais agarrados ao culto cristão como os pensadores e sub-pensadores mais modernaços, um pouco neo-cristãmente avessos a tudo o que seja religião formal e definida - já o judeu crucificado dizia que o que era preciso era amar e fazer o bem, enquanto os seus inimigos, os Fariseus, pregavam a fidelidade escrupulosa aos preceitos do credo... Não é pois de admirar que algumas das actuais vozes anti-cristãs critiquem na Igreja Católica, não o cerne da sua mensagem cristã, mas precisamente o que ela tem de mais pagão, a saber, a formalidade, a pompa grandiosa do rito e dos augustos paramentos, porque «Cristo era pobre!» e não usava veludos, nem grande ostentação e tal... entre um rígido, altivo, frio pontifex romano e um carpinteiro judeu inimigo do «lóbi sacerdotal» fariseu, tais contestários modernos prefeririam muito provavelmente o segundo...
Voltando ao assunto em epígrafe - o Paganismo é realmente o culto aos Deuses, puro e simples. Erguer as mãos ao céu, proferir os nomes das Divindades, libar vinho ou cerveja, festejar em torno de uma fogueira, isto sim, é o verdadeiro Paganismo, vivo, vibrante, luminoso, tanto há três mil anos como agora. Dificilmente se identificaria com tal cenário um racional, urbano e céptico intelectual contemporâneo, mas isso é outra história. De qualquer modo, Benoist não deixa de ter tido o mérito de abordar de um modo construtivo e inteligente o valor da herança etno-religiosa da Europa autêntica. Isto e a sua persistência na oposição ao mundialismo e ao esboroamento de fronteiras tornam genericamente positivo o seu contributo para o combate ideológico nacionalista, quer ele o deseje quer não.