GOVERNO FRANCÊS LIMITA AQUISIÇÃO DA CIDADANIA

Fonte: http://www.france24.com/en/20111229-france-tightens-screws-immigration-election-looms-sarkozy-gueant-citizenship

Em França, o Ministério do Interior, dirigido por Claude Guéant, irá agora tornar mais difícil a aquisição de cidadania francesa, cujos novos critérios serão severamente endurecidos, incluindo testes de idioma (cujo domínio terá de ser equivalente ao dos falantes da língua com quinze anos de idade), de História francesa e de aderências aos «valores franceses». Os críticos desta nova medida alegam que se trata de uma maneira, da parte do partido no poder, UMP, de apelar ao eleitorado da Extrema-Direita.

Diz o novo documento estatal relativo à cidadania, elaborado pelo Alto Conselho para a Integração (HCI), que «tornar-se francês não é um passo meramente administrativo. É uma decisão que requer muita reflexão.» Numa passagem mais obscura, afirma que, ao tomar a cidadania francesa, «os aplicantes não mais poderão clamar lealdade a qualquer outro país enquanto estiverem em solo francês», ainda que a dupla nacionalidade continue a ser permitida.

Segundo o supracitado Guéant, o processo em questão é «uma ocasião solene entre a nação receptora e o aplicante». O ministro salienta a importância da aceitação, por parte do candidato à cidadania, de valores como a Democracia, o Estado laico e a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o que alguns consideram como indirectas dirigidas aos muçulmanos, que constituem a imensa maioria dos cem mil alógenos que todos os anos são aceites como cidadãos franceses. E deixou claro que os imigrantes que se recusem a deixar-se «assimilar» na sociedade francesa, devem ver-lhes negada a cidadania francesa. No início do ano passado, Guéant interveio pessoalmente para garantir que um argelino a viver em França não iria adquirir a nacionalidade francesa devido à sua «atitude degradante« para com a sua esposa francesa. Tal actuação seguiu-se a um movimento prévio, da parte do anterior ministro da Imigração (Eric Besson) para emitir leis no sentido de tirar aos polígamos a cidadania francesa que tivessem adquirido.

De lembrar que Marine Le Pen, dirigente da Frente Nacional (FN), partido da Extrema-Direita, tem andado a fazer campanha para acabar com a dupla cidadania em França, que, segundo a líder, encoraja a imigração e enfraquece os valores franceses. Apesar de vários membros do UMP apoiarem este ponto de vista, Guéant não chegou a proibir a dupla cidadania, devido em parte ao facto de haver grandes dificuldades legais a impedir que tal movimento se efectue.

Guéant anuncia, entretanto, que quer reduzir o número de imigrantes legais a chegar a França - de duzentos mil por ano para cento e oitenta mil em igual período de tempo. Diz também querer que os condenados por crimes graves sejam postos fora do país.

François Hollande, o candidato do Partido Socialista para as eleições presidenciais que se avizinham, descreve a actuação de Guéant como «a estratégia eleitoral de uma Direita pronta para fazer tudo de modo a agarrar-se ao poder». Afirma que, em contraste, o seu partido (Partido Socialista) irá lidar com os criminosos «independentemente da sua nacionalidade».

Outras propostas do UMP vão no sentido de exigir que as crianças não francesas que em princípio são naturalizadas aos dezoito anos de idade, se tiverem nascido em França e aí vivido a maior parte da sua vida, passem em vez disso a terem de se candidatrem formalmente para serem aceites como cidadãos franceses.

Os analistas prevêm que se o UMP continuar no poder, estará em vias de retornar a uma postura diante da imigração que já não se via em França desde 1993, quando Charles Pasqua, o então ministro do Interior, cunhou o termo «imigração zero» e criou uma lei que tornou virtualmente impossível a naturalização dos nascidos em solo francês filhos de pais não franceses.

Já aqui se tinha dito, há relativamente pouco tempo, que o UMP está, nomeadamente na pessoa de Guéant, a ostensivamente mostrar ao Povo que pretende travar a iminvasão, embora as suas medidas, apesar do fogo de vista, acabarem por parecer francamente insuficientes para que qualquer identidade nacional europeia se mantenha europeia. Diminuir, por exemplo, o número de imigrantes aceites por ano dos actuais duzentos mil para os cento e oitenta mil, não se afigura como alteração de peso...

A ideia que transmite é, mais uma vez, a de querer fazer crer que se torna «radical de Direita» para desse modo dissuadir o eleitorado francês de dar força à FN - como representante da «Direita» conservadora junto do povo, faz o seu papel nesse teatro «para inglês ver», tentando servir de «dique» que trave a votação nacionalista, enquanto por outro lado vai deixando que a imigração maciça continue a ter lugar, embora mais «moderadamente», que é como quem diz - sonsamente.

Acontece pois em França o mesmo que nos outros países europeus - as forças nacionalistas têm de mostrar ao povo que, além dos partidos de Extrema-Direita, não há absolutamente mais nenhum vector político honestamente apostado no combate à iminvasão.