NEGROS POSTOS FORA DE UMA NAÇÃO

Fonte: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/sep/17/cherokee-nation-black-freedmen

Nos EUA, a Nação Cherokee, segunda maior comunidade índia do país, decidiu pôr fora do seu território toda a população de origem negra. O governo norte-americano condenou a atitude.

Como alguns saberão, os Cherokee são um Povo índio que alcançou no século XIX um estatuto autonómico. Contava nessa altura com escravos negros que tinham sido propriedade de chefes índios. A Constituição Cherokee de 1866 dizia o seguinte: «Todos os nativos cherokee, todos os outros índios e todos os brancos que sejam legalmente membros da nação por adopção e todos os libertos que foram libertados pelos seus proprietários [...] serão considerados como cidadãos da nação Cherokee.»

Todavia, mais de um século depois dois chefes criaram mais um requisito: todo o membro da Nação Cherokee tem de ter um certificado a garantir o seu sangue índio. Esta medida tirou a cidadania aos libertos e foi declarada inconstitucional pelo supremo tribunal cherokee em 2006. Mas, em 2007, realizou-se um referendo no seio dos Cherokees que voltou a dar força à exigência de se ter sangue índio para se poder ser parte da Nação. Em Agosto passado, o resultado do referendo foi aprovado pelo supremo tribunal cheroqui, o que fez com que dois mil e oitocentos descendentes de libertos perderam o seu estatuto como cidadãos, perdendo entre outras coisas o direito ao auxílio alimentar e aos serviços médicos.

Alguns activistas «libertos» denunciam o racismo e a recusa de partilhar o financiamento estatal e os lucros decorrentes do estatuto tribal reconhecido. Entretanto, o secretário assistente para os assuntos índios do departamento do Interior dos EUA, Larry Echo Hawk, afirma que se o governo federal não reconhecer esta decisão da Nação Cheroqui, arrisca a que se dê uma nova crise constitucional. A última registou-se em 1997 e inclui quase um golpe de Estado, que obrigou à intervenção militar federal.

De notar que neste momento o governo federal norte-americano já congelou cerca de trinta e três milhões de dólares (quase trinta e três milhões de euros, mais coisa menos coisa) de apoio ao desenvolvimento urbano destinado à tribo devido a esta recusa tribal em aceitar de volta os «seus membros» afro-americanos.

Ora esta notícia encontrei-a, por via do blogue «Islam Versus Europe», no jornal esquerdista britânico «The Guardian». O autor do texto dá a informação que acima se lê, com mais pormenores, e estende-se a seguir sobre a história da opressão e alegada tentativa de genocídio que as autoridades norte-americanas terão tentado levar a cabo contra os Cheroquis, no sentido de lhe anular a identidade e de os absorver como indivíduos no seio da pátria norte-americana. O autor diz também que os Cheroquis nem são dos índios mais exigentes em matéria racial, uma vez que há muitas outras tribos índias que exigem como critério de pertença que o indivíduo tenha pelo menos um quarto de sangue índio. A descendência linear agora adoptada pelos Cheroqui faz com que haja cidadãos cheroqui que são apenas 1/2048 de sangue nacional, adianta o autor do texto, o qual acusa a governo federal de estar a pôr em causa a auto-determinação desta nação índia e de estar também a ser hipócrita, ao tolerar os critérios mais estritamente raciais de outras nações índias. Diz até, o cronista britânico, que a auto-determinação inclui tanto o direito de tomar boas decisões como o direito de tomar más decisões.

A seguir critica por outro lado esta decisão, afirmando que os afro-americanos que ajudaram a construir a (relativa) independência cheroqui merecem ser considerados membros da nação índia, e que se o grupo se tornar num «grupo étnico de interesse étnico», deixa de merecer o título de «nação».

Claro que quem assim fala parte do repulsivamente errado princípio de que uma nação tem obrigatoriamente de incluir gente de várias etnias, quando na verdade uma nação é uma etnia, ou talvez uma parte de uma etnia, mas nunca, em caso algum, um aglomerado de etnias. Caso contrário, não é uma nação, será, quando muito, apenas uma pátria.

De qualquer modo, não deixa de ser engraçado ver um escriba de um jornal de Esquerda a defender o direito à auto-determinação étnica de um Povo...  tem graça quando se sabe que é precisamente este o quadrante ideológico que mais ataca a primazia da identidade nacional como princípio político. Não é crível que o mesmo escriba falasse como agora fala se em vez dos Cheroquis fosse um qualquer país europeu a aplicar a mesma decisão - que é, diga-se, muitíssimo justa, legítima e essencial à sobrevivência da Estirpe - excluindo da sua cidadania os indivíduos de raça negra. Porque o branco, já se sabe, é sempre racista, culpado de tudo e mais alguma coisa e, por isso mesmo, não tem legitimidade para defender a sua própria estirpe na sua própria terra...