«PIRATAS DAS CARAÍBAS - POR ESTRANHAS MARÉS»

Um filme que, não sendo dos melhores que tem por aí aparecido, vê-se todavia bem visto numa despreocupada noite em que se esteja de boa vontade e sem grandes exigências. Com uma dose de fantástico razoável, e algumas beldades que compõem o cenário ainda que com alguma brevidade, peca, a meu ver, pelo excesso, algo gratuito, das cenas de acção, que podem tornar-se algo soporíferas. Há evidentemente coisas piores do que dormir - uma coisa que deprima, por exemplo, não ajuda especialmente a passar pelas brasas, mas a verdade é que, dada a magnificência inicial do ambiente, a Inglaterra do século XVII, havia perfeito espaço e tempo para diálogos de maior conteúdo e menos pretextos da treta para dar umas espadeiradas.

Mas Johnny Depp, no papel de capitão Jack Sparrow, consegue não parecer pretensioso, e, com isso, evitar que o filme pareça uma americanada completa.

Ponto positivo, que merecia mais desenvolvimento, é a verosimilhança com que se traça o retrato dos católicos de Espanha, que, ao saberem da existência de uma Fonte da Juventude, optam por destruí-la porque a consideram pagã... Poder-se-ia, contudo, apresentar diferentes reacções das «partes» em confronto: na verdade, os católicos não raras vezes se aproveitaram do que era pagão cristianizando-o e reclamando-o assim para Cristandade, enquanto os protestantes do Norte, nomeadamente os Ingleses, também os Alemães, repudiavam muito mais vigorosamente tudo o que fosse sequer suspeito de derivar do Paganismo.

É, quase em nota de rodapé, interessante a evolução de uma das personagens, o missionário cristão que seguia no navio inglês - acaba por se deixar seduzir por uma sereia, elemento do Paganismo, rompendo assim com o que lhe tinham ensinado a respeito do alegado diabolismo de tais criaturas...