NOVAS DO RETORNO DA IDENTIDADE ANCESTRAL AO CENTRO DA NAÇÃO...
Agradecimentos ao leitor Beto por ter aqui trazido dois artigos sobre o retorno da Celticidade, que são de há uns dias e se referem ao que sucedeu na zona de Aveiro neste fim de semana passado:
A Associação Etnográfica Os Serranos concluiu uma pesquisa das raízes célticas que se encontram presentes em muitas das manifestações etnográficas da nossa região.
A generalidade destas manifestações atravessou o período da cristianização, nos últimos 1500 anos e foram sujeitas ao estigma do paganismo ou noutros casos foram adoptadas e reorientadas para rituais e práticas religiosas, tal como na festividade da Santa Cruz e na celebração do S. João. Entre outras, identificamos as seguintes práticas:
- Maias e Coroas de Maio;
- Fogueiras e sortilégio do fogo para esconjurar forças malignas e evocar a energia criativa;
- Totens e mastros revestidos com vegetação e queimados;
- Rituais de fertilidade com sacrifícios de animais e de colheitas;
- Rituais de sexualidade e enfeite generalizado das mulheres com flores;
- Danças com fitas em torno de árvores consideradas sagradas pelos druidas;
- Animação musical intensa, enfatizada pela abundância de bebida e comida;
- Inversão de usos, com perturbação das rotinas nos povoados.
Na nossa região, ainda se podem observar:
- Colocação de ramos de maias e de coroas de flores silvestres nos portais de entrada, trocados entre vizinhos ou aplicados pelos próprios;
- Fogueiras do S. João e esconjuros nos currais dos animais, com recurso frequente a brasas e a enxofre;
- Levantamento do pau em Assequins, revestido com arbustivos e queimado na noite de S. João;
- Festa da espiga;
- O enfeite com flores foi desviado da mulher para a Santa Cruz, por acção da cristianização;
- Alguns grupos de folclore da região ainda realizam danças com fitas entrançadas num mastro;
- As gaitas de foles ainda se preservam na região, apesar de terem sido destronadas nos últimos 80 anos pelos instrumentos de fole, sempre associadas a festa e animação de rua;
- Na noite do 1º de Maio (nuns locais) ou na noite de S. João (em outros), a rapaziada desvia carros de bois, alfaias agrícolas e outros objectos e amontoa-os num largo ou cruzeiro, obrigando os seus proprietários a recolhê-los no dia seguinte.
Com estas conexões, Os Serranos estruturaram a celebração do BELTANE (que os celtas dirigiam a Bellenos, deus do fogo e da energia fertilizadora), que congrega e demonstra a evocação da generalidades das manifestações etnográficas atrás descritas, posicionando-a em 30 de Abril e 1 de Maio, exactamente no tempo em que os celtas celebravam esta festividade, na passagem do Inverno para o Verão.
Trata-se de uma acção experimental que gostaríamos de ser mais extensa e participada nos anos seguintes, pelo que, desde já, abrimos a nossa disponibilidade para fazer realizações conjuntas ou em parceria nos anos seguintes. Para já, convidamos os amigos e companheiros de defesa da nossa cultura nativa para se deslocarem a Belazaima do Chão nestes dias.
Finalmente, lembramos que o formato desta iniciativa está estabelecido para ser uma acção geradora de receitas, de modo a constituir um produto cultural inovador e atractivo para novos públicos.
Mais informação do programa aqui
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E, de facto, neste site há muito que ler de interesse, do qual saliento a seguinte passagem:
(...)
Os lusitanos eram clãs ou tribos celtas, com a coesão e a força proporcionada pela sua identidade e pela cultura. As suas tradições lançadas e vividas entre nós há mais de 2500 anos, foram objecto de sucessivos ataques e aculturações, em particular pela romanização e, posteriormente de modo mais intenso e continuado, pela cristianização durante cerca de 1500 anos. Todavia, muitas das suas tradições e expressões culturais perduraram e permanecem identificáveis nos dias de hoje, com algumas evidências na nossa região: levantar totens e queimá-los (festa do pau), danças em volta de mastros com fitas que entrançam, celebração das maias, uso do fogo como sortilégio, gaita-de-foles, celebrações ligadas às forças da natureza, ainda que muitas destas tenham sido cristianizadas e reorientadas, tal como acontece com a festividade da Santa Cruz, no início de Maio, que é uma adaptação do Beltane céltico, deslocando a centralidade na mulher celta para o símbolo maior do cristianismo.
Os celtas apenas consideravam duas estações no ano (Inverno e Verão) e associavam-lhes respectivamente o espírito da noite e do dia, bem como o das forças da morte e da vida. Na entrada do Inverno (finais de Outubro) celebravam o Samhaim, convocando a presença dos familiares e vizinhos mortos e celebrando a sua presença espiritual, através de um ritual que viria a ser adaptado pelo cristianismo através do Dia dos Fieis Defuntos e pelo mercantilismo americano como dia das bruxas ou haloween. Na passagem para o Verão celebravam o Beltane, a festa da fertilidade e da sagração das forças enérgicas que a produzem: virilidade, fogo, alegria e floração.
(...)
O outro artigo trazido pelo Beto e diz respeito à parte mais propriamente musical do evento, mas não só: (...)
O programa tem dois períodos de espectáculo de palco
- sábado, 30, das 22 às 24 horas, e domingo, 1 de Maio, das 15 às 17. A primeira edição desta celebração recuperada na bruma do tempo, terá seis grupos de música céltica - três da Galiza e outros tantos de Portugal. De As Pontes (Ferrol), virá a banda “Muxarega” e, da Corunha, o grupo de pandereteiras e mestres de dança Mesturaxes. De Xinzio de Limia (Ourense) , os enérgicos Jalos d’Antioquia, que há vários anos convivem com Os Serranos na Romaria Etnográfica Raigame, em Vila Nova dos Infantes (Celanova).
O programa tem dois períodos de espectáculo de palco
- sábado, 30, das 22 às 24 horas, e domingo, 1 de Maio, das 15 às 17. A primeira edição desta celebração recuperada na bruma do tempo, terá seis grupos de música céltica - três da Galiza e outros tantos de Portugal. De As Pontes (Ferrol), virá a banda “Muxarega” e, da Corunha, o grupo de pandereteiras e mestres de dança Mesturaxes. De Xinzio de Limia (Ourense) , os enérgicos Jalos d’Antioquia, que há vários anos convivem com Os Serranos na Romaria Etnográfica Raigame, em Vila Nova dos Infantes (Celanova).
A armada lusitana de gaitas é encabeçada pelo excelente grupo “Sons da Suévia” (Braga) e inclui Roncos de Curiscos (Coimbra), para além da revelação António Gaiteiro de Portugal, semi-finalista no concurso "Portugal Tem Talento", da SIC.
Além dos espectáculos de palco, é garantido o roncar permanente de gaitas sob o arvoredo do parque do Moinho de Vento, misturado com todo o género de acompanhamentos e puxando pelo cancioneiro popular galaico-português. Tudo sentido e emocionado, gastando energia que passa para a criação da natureza e entusiasma a paixão. Os Serranos garantem comida e bebida, no melhor espírito da cultura celta.
Além de ateliers de coroas de flores e de dança, o programa terá um interessante ritual de evocação da fertilidade, no encerramento e as condições incluem espaço amplo para acampar, com banho e sanitárias ou auto-caravana. Na passagem de Abril para Maio, quando os celtas se despediam da longa noite do inverno e saudavam a chegada do verão, Belazaima proporcionará aconchego e alimento cultural místico, em nome do passado, mas com olhos postos no futuro.
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