SOBRE A ASCENSÃO DOS MAIS DEVOTOS...
Deram-me a conhecer, aqui há tempos, este interessante tópico
, tradução para Português do Brasil de um artigo do norte-americano Philip Longman a respeito da lenta mas progressiva marcha demográfico-ideológica das religiões um pouco por todo o mundo. Baseia-se no argumento, já enunciado antes, de que as pessoas mais religiosas têm mais filhos, mas vai mais longe, indicando que os filhos de pessoas religiosas tendem a ser, também eles, religiosos. São particularmente pertinentes os seguintes trechos (texto a itálico), nos quais saliento a negrito o que me parece mais significativo:
(...)
Para os secularistas, a explicação menos perturbadora depende da conhecida desculpa das "forças da reacção". Mudanças demais, liberdade demais e as ofuscantes luzes de neon da razão afectam algumas pessoas como um vírus, fazendo-as regredirem a um "pensamento mágico" e/ou "se agarrem" a outras formas de primitivismo. No Médio Oriente, insiste esta narrativa, a rápida urbanização, a modernização e a alienação criaram um ressurgimento do fundamentalismo religioso. Para as fileiras crescentes da Direita Cristã, continua este raciocínio, a "revolução nos valores" desencadeada nos anos 60 — feminismo, direitos dos gays, auto-realização, multiculturalismo — foi simplesmente demais para eles. Vão superar isto com o tempo, dizem eles, tentando tranquilizar-se; se não, a maioria dos seus filhos vai.
Eis aqui um sério problema com esta teoria: as pessoas muito religiosas de hoje tendem a ter um número relativamente grande de filhos, enquanto que os secularistas têm cada vez menos, quando os têm. Se acredita na evolução (e qual o secularista que não acredita?), então tem que levar em consideração esta explicação totalmente naturalista para o retorno de Deus.
Claro: tanto nos países pobres como nos ricos, sob todas as formas de governo, as taxas de natalidade estão declinando, por todo o globo. Mas estão declinando menos entre os que seguem leis religiosas estritas e possuem uma fé literal na Bíblia, na Torá ou no Corão. Na verdade, o padrão da fertilidade humana agora encaixa-se neste padrão: os que têm menos probabilidade de procriar são os que não professam nenhuma fé em Deus; aqueles que se descrevem como agnósticos ou simplesmente espiritualistas têm apenas um pouco mais de probabilidade de permanecerem sem filhos. Subindo no espectro, os tamanhos das famílias crescem entre os unitaristas, judeus reformados, evangélicos convencionais e católicos relaxados, mas as taxas de natalidade encontradas nestas populações ainda estão muito abaixo dos níveis de reposição. Apenas à medida que nos vamos aproximando da esfera da prática e da fé religiosa marcadas por uma intensidade que poderíamos chamar, por falta de palavra melhor, de "fundamentalismo", é que encontramos bolsões de elevada fertilidade e, consequentemente, rápido crescimento populacional.
(...) os Amish da linha conhecida como Andy Weaver, que são, talvez, os mais severos de todos na sua rejeição à modernidade, têm uma taxa de fertilidade mais alta (em média 6.2 filhos por família) do que os Amish da linha conhecida como Nova Ordem (4.8 filhos), que, tendo começado nos anos 60, fizeram concessões ao progresso, como permitir electricidade em suas casas. Da mesma forma, em Israel, os judeus ultra-ortodoxos, ou Haredim, com uma média de quase sete filhos por família, estão a reproduzir-se muito mais do que os judeus simplesmente ortodoxos, para não falar dos israelitas mais seculares. (...)
Quando têm que se haver com o facto de que estão a ser ultrapassados demograficamente, os secularistas frequentemente respondem que muitos, se não a maioria dos filhos nascidos em famílias muito religiosas, irão rejeitar a fé dos seus pais — tamanha é a suposta sedução da liberdade e da individualidade. Este raciocínio encaixa-se na experiência de vida de muitos da geração Baby Boom que atiraram longe as cadeias da autoridade tradicional, nos anos 60 e 70, e não conseguem imaginar por que a humanidade não terminaria por alcançá-los e mesmo ultrapassá-los.
Testemunhando contra este raciocínio, entretanto, estão alguns obstinados factos demograficos. Ocorre que nas famílias fundamentalistas, a coisa funciona mesmo. E quanto mais exigente a fé, mais esta regra se aplica.
Apenas cinco por cento das crianças nascidas entre os amish mais conservadores, por exemplo, migra para outra fé ou outros estilos de vida. A taxa de deserção é maior entre os amish da Nova Ordem, os mórmons e outras comunidades fundamentalistas comparativamente menos exigentes. Além disto, as deserções que eles possam experimentar são mais do que compensadas pelas conversões, com o saldo final líquido favorecendo as doutrinas mais conservadoras,(...) Desta forma, observa-se que 21 por cento dos convertidos abandonam denominações mais moderadas e liberais em favor de outras mais fundamentalistas e só 15 por cento fazem o caminho inverso. (....) a fertilidade, com o tempo, funciona como os juros compostos. Ou seja, mesmo que as famílias fundamentalistas tenham apenas uns poucos filhos a mais do que as seculares ou moderadamente religiosas, se elas conseguirem fazer seus filhos manter firmes sua fé e seus valores fundamentalistas (sobretudo com relação à reprodução), a passagem das gerações vai multiplicar seu número e influência. Da mesma forma, os secularistas e os outros que escolhem ter apenas um ou dois filhos e que passam adiante estes valores para eles verão, com o tempo, sua população declinar rapidamente.(...)
, tradução para Português do Brasil de um artigo do norte-americano Philip Longman a respeito da lenta mas progressiva marcha demográfico-ideológica das religiões um pouco por todo o mundo. Baseia-se no argumento, já enunciado antes, de que as pessoas mais religiosas têm mais filhos, mas vai mais longe, indicando que os filhos de pessoas religiosas tendem a ser, também eles, religiosos. São particularmente pertinentes os seguintes trechos (texto a itálico), nos quais saliento a negrito o que me parece mais significativo:
(...)
Para os secularistas, a explicação menos perturbadora depende da conhecida desculpa das "forças da reacção". Mudanças demais, liberdade demais e as ofuscantes luzes de neon da razão afectam algumas pessoas como um vírus, fazendo-as regredirem a um "pensamento mágico" e/ou "se agarrem" a outras formas de primitivismo. No Médio Oriente, insiste esta narrativa, a rápida urbanização, a modernização e a alienação criaram um ressurgimento do fundamentalismo religioso. Para as fileiras crescentes da Direita Cristã, continua este raciocínio, a "revolução nos valores" desencadeada nos anos 60 — feminismo, direitos dos gays, auto-realização, multiculturalismo — foi simplesmente demais para eles. Vão superar isto com o tempo, dizem eles, tentando tranquilizar-se; se não, a maioria dos seus filhos vai.
Eis aqui um sério problema com esta teoria: as pessoas muito religiosas de hoje tendem a ter um número relativamente grande de filhos, enquanto que os secularistas têm cada vez menos, quando os têm. Se acredita na evolução (e qual o secularista que não acredita?), então tem que levar em consideração esta explicação totalmente naturalista para o retorno de Deus.
Claro: tanto nos países pobres como nos ricos, sob todas as formas de governo, as taxas de natalidade estão declinando, por todo o globo. Mas estão declinando menos entre os que seguem leis religiosas estritas e possuem uma fé literal na Bíblia, na Torá ou no Corão. Na verdade, o padrão da fertilidade humana agora encaixa-se neste padrão: os que têm menos probabilidade de procriar são os que não professam nenhuma fé em Deus; aqueles que se descrevem como agnósticos ou simplesmente espiritualistas têm apenas um pouco mais de probabilidade de permanecerem sem filhos. Subindo no espectro, os tamanhos das famílias crescem entre os unitaristas, judeus reformados, evangélicos convencionais e católicos relaxados, mas as taxas de natalidade encontradas nestas populações ainda estão muito abaixo dos níveis de reposição. Apenas à medida que nos vamos aproximando da esfera da prática e da fé religiosa marcadas por uma intensidade que poderíamos chamar, por falta de palavra melhor, de "fundamentalismo", é que encontramos bolsões de elevada fertilidade e, consequentemente, rápido crescimento populacional.
(...) os Amish da linha conhecida como Andy Weaver, que são, talvez, os mais severos de todos na sua rejeição à modernidade, têm uma taxa de fertilidade mais alta (em média 6.2 filhos por família) do que os Amish da linha conhecida como Nova Ordem (4.8 filhos), que, tendo começado nos anos 60, fizeram concessões ao progresso, como permitir electricidade em suas casas. Da mesma forma, em Israel, os judeus ultra-ortodoxos, ou Haredim, com uma média de quase sete filhos por família, estão a reproduzir-se muito mais do que os judeus simplesmente ortodoxos, para não falar dos israelitas mais seculares. (...)
Quando têm que se haver com o facto de que estão a ser ultrapassados demograficamente, os secularistas frequentemente respondem que muitos, se não a maioria dos filhos nascidos em famílias muito religiosas, irão rejeitar a fé dos seus pais — tamanha é a suposta sedução da liberdade e da individualidade. Este raciocínio encaixa-se na experiência de vida de muitos da geração Baby Boom que atiraram longe as cadeias da autoridade tradicional, nos anos 60 e 70, e não conseguem imaginar por que a humanidade não terminaria por alcançá-los e mesmo ultrapassá-los.
Testemunhando contra este raciocínio, entretanto, estão alguns obstinados factos demograficos. Ocorre que nas famílias fundamentalistas, a coisa funciona mesmo. E quanto mais exigente a fé, mais esta regra se aplica.
Apenas cinco por cento das crianças nascidas entre os amish mais conservadores, por exemplo, migra para outra fé ou outros estilos de vida. A taxa de deserção é maior entre os amish da Nova Ordem, os mórmons e outras comunidades fundamentalistas comparativamente menos exigentes. Além disto, as deserções que eles possam experimentar são mais do que compensadas pelas conversões, com o saldo final líquido favorecendo as doutrinas mais conservadoras,(...) Desta forma, observa-se que 21 por cento dos convertidos abandonam denominações mais moderadas e liberais em favor de outras mais fundamentalistas e só 15 por cento fazem o caminho inverso. (....) a fertilidade, com o tempo, funciona como os juros compostos. Ou seja, mesmo que as famílias fundamentalistas tenham apenas uns poucos filhos a mais do que as seculares ou moderadamente religiosas, se elas conseguirem fazer seus filhos manter firmes sua fé e seus valores fundamentalistas (sobretudo com relação à reprodução), a passagem das gerações vai multiplicar seu número e influência. Da mesma forma, os secularistas e os outros que escolhem ter apenas um ou dois filhos e que passam adiante estes valores para eles verão, com o tempo, sua população declinar rapidamente.(...)
E na Europa, perguntará o Europeu? Bem, a Europa é, de momento, o continente menos religioso do planeta e, de facto, não se encontra em fase de extraordinária expansão demográfica, antes pelo contrário. Mas há, na Europa, quem tenha muitos filhos, naturalmente - os muçulmanos, acerrimamente religiosos...
Pessoalmente, não posso entretanto esquecer-me que as duas pessoas mais religiosas que conheço são também as que têm mais filhos: dois camaradas que vão à igreja todos os domingos e têm nada menos do que cinco filhos cada um (não sei se entretanto já chegaram aos seis, mas é perfeitamente possível que sim), enquanto os outros portugueses da mesma geração têm um filho por casal, no máximo dois. Ele há coincidências notáveis...
1 Comments:
Caturo, o link acessado está redirecionando ao seu próprio blog.
A fonte do artigo que lhe mostrei é esta:
http://veradextra.blogspot.com/2010/12/sobrevivencia-dos-mais-devotos-fe.html
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