SOBRE O CASO DO AGENTE DA PSP «TRAMADO» AO PERSEGUIR E ABATER «RAPPER»

Sequência de tiros ficou gravada no 112 e desmente a versão dada à PJ pelo polícia atirador.
Quando fez a reconstituição do incidente em que matou Nuno Rodrigues, mais conhecido por rapper ‘MC Snake’, numa perseguição em Lisboa, o agente Moreira, da PSP, disse à PJ que o seu segundo e último disparo, fatal, foi sem querer. A arma disparou-se, por acidente, quando já ia em corrida atrás do Lancia Y10 em fuga, na madrugada de 15 de Março. E só o primeiro tiro, vários segundos antes, fora intencional. Para o ar. Só que a sequência dos tiros está gravada em audio – e dois disparos seguidos desmentem-no. Afinal terá feito pontaria ao carro.
O tiro sequencial é treinado pela polícia e revela 'uma intenção clara de disparar', adiantam ao CM fontes judiciais. Terá feito pontaria aos pneus, mas uma das duas balas furou a chapa do carro, matando o cantor pelas costas. E o agente foi apanhado a mentir à PJ. Uma falha nas comunicações por rádio fez com que a PSP recorresse à linha do 112 na perseguição e esta grava tudo. Moreira diz que dá um tiro sem querer, em corrida; só que o audio do 112 revela que, após o primeiro, faz dois seguidos. Próprios de quem está parado. A fazer pontaria. Por isso o DIAP não o acusa de homicídio negligente, mas qualificado: 16 a 25 anos de cadeia.
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‘MC Snake’ não bebeu nem consumiu drogas na madrugada em que foi perseguido e morto a tiro pela PSP, junto à Radial de Benfica, Lisboa, conforme o CM avançou em 26 de Abril. A conclusão é do Instituto de Medicina Legal, na autópsia. Quanto ao incidente, permitiu à Secção de Homicídios da PJ tirar outra conclusão, além de apanhar o agente Moreira ‘em falso’ quanto à sequência de disparos. O rapper não foi mandado parar na operação stop junto às Docas de Santo Amaro, porque nem sequer passou por ela. Foi visto pela PSP, a uma distância inferior a cem metros, a inverter a marcha no viaduto à saída das Docas. Fez uma transgressão e foi perseguido a partir daí, por uma carrinha da Equipa de Intervenção Rápida, até Benfica.
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‘MC Snake’, 30 anos, tinha carta de condução e documentos do Y10 da mãe estavam em dia. Ninguém sabe porque fugiu.
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Não fugisse. Quem o mandou fugir? Ou tratou-se aqui de uma atitude de arrogância e de supremacia nas ruas contra a polícia, para depois contar aos «brodas» que deu «bailinho» aos «bófias»?
E fugiu durante muito tempo, que das das Docas até Benfica é um esticão valente... uma longa distância em perseguição automóvel, a fazer perigar a segurança dos transeuntes, só porque um africano não quis parar ao ser perseguido pelas autoridades, não é coisa que se admita.

O agente Moreira, embora tenha mentido, o que é condenável, não deixa todavia de continuar a merecer a solidariedade de todos os indígenas, pela coragem que demonstrou - sim, coragem: numa sociedade em que se verifica crescente tendência para se condenar à partida a polícia em toda e qualquer situação de violência urbana na qual haja intervenção policial, o agente Moreira precisou de ter um certo grau de bravura para se atrever a disparar contra o veículo de um jovem africano, sendo com certeza capaz de prever, como aliás a generalidade dos cidadãos atentos, que teria boas hipóteses de ser condenado ao fazê-lo. Pode aliás imaginar-se qual o efeito que este caso poderá ter no futuro, se Moreira for condenado - pois para que é que o agente anónimo vai ter chatices, da próxima vez que um «jovem» infringir as regras de trânsito e se puser em fuga, é deixá-lo ir e acabou, diz-se no relatório que conseguiu acelerar o suficiente para escapar e não se fala mais nisso. O «jovem» fica todo contente, provavelmente gaba-se aos amigos do «feito», «feito» este que por via disto se repetirá cada vez mais, agravando a já de si abalada autoridade policial na via pública, mas para o agente anónimo é deixá-las passar, enquanto o pau vai e vem folgam as costas e tratará de se meter no menor número possível de situações de confronto, que é para continuar a fazer a sua vidinha sem problemas de maior...

Solidariedade nacionalista para com o agente Moreira é um imperativo da ética e da boa cidadania.