terça-feira, março 16, 2010

«O CREPÚSCULO DOS ELFOS»


É o primeiro volume da «Trilogia dos Elfos», de Jean-Louis Fetjaine. Foi escrito quase uma década antes da «Crónica dos Elfos» (dois volumes), já aqui comentada, mas passa-se cronologicamente depois. Trata-se, como já aqui foi dito, de fantasia com base histórica. Mais base histórica do que se supõe à primeira vista de olhos. Infelizmente a obra não apresenta mapas, ao contrário de «O Caminho de Merlim», do mesmo autor e também aqui comentado, e que constitui espécie de continuação de todas estas obras sobre os elfos; essa carência de mapas, juntamente com a referência a terras de contornos imaginários (penso eu), dá à obra uma aparência inicial de fantasia à maneira tolkiana, isto é, com criação de povos, países e acidentes geográficos inventados pelo autor. Todavia, a mais interessante surpresa é que afinal tudo aquilo tem um louco ar de verosimilhança, por assim dizer - efectivamente, a acção tem lugar na Grã-Bretanha céltica ainda com traços de romanidade e pouco antes de ser invadida pelos Germanos Ocidentais (Saxões, Anglos, Jutos, Frísios). É neste lugar da História que Fetjaine sugere algo de aparentemente absurdo: que afinal a coorte feérica das tradições ocidentais europeias - Elfos, Gnomos, Anões, Gobelins, Orcs, Kobolds, Trolls, elementos germânicos misturados com elementos célticos tudo um bocado ao molho - poderia na verdade ter sido gente real cujo isolamento em áreas inacessíveis pode ter favorecido a sua diferenciação física a um tal ponto que as dissemelhanças entre as populações daí resultantes poderiam eventualmente ter fertilizado a imaginação arcaica e ganhado foros de sobrenatural, sobretudo no que aos Elfos diz respeito. A teoria é interessante, embora delirante, e explicaria porque é que de quando em vez nascem anões ou corpos monstruosos - poderia tratar-se, quiçá, de um milenar atavismo, resultante de uma mistura genética ocorrida em dado passo da História da Europa...
E é aqui que Fetjaine transmite, creio, a mensagem político-religiosa central: no meio da intriga, da traição, da violência por vezes cruel, do erotismo assaz carnal e ao mesmo tempo etéreo, sobressai a crítica ao totalitarismo cristão, mas não só, que visa unir todos os povos sob um só Deus e um só rei: um Deus, um rei, um povo, à maneira católica. Para isso, ter-se-ia tornado necessário que os homens absorvessem, em fusão, os Elfos, os Anões, os Gnomos, e tudo o mais... a bem ou a mal, quer estes últimos o quisessem quer não. Não é apenas o Cristianismo que na obra visa alcançar este ideal totalitário, mas constitui certamente o seu foco central, seja por questão doutrinal pura, seja porque aos reis humanos convém aproveitar-se da nova religião, a do Crucificado, para impor o seu domínio terreno - e os súbditos, consolados com um paraíso além-vida, tornar-se-iam menos exigentes para com os seus líderes na sua existência terrena. Na medida em que também os inimigos dos homens - Orcs, Gobelins - quiseram, na obra de Fetjaine, o mesmo, mas em nome de um Deus pagão, a ideia que me fica é que a sua denúncia dos projectos totalitários genocidas têm um alcance muito abrangente do que o da Cristandade, fazendo lembrar o novo mundialismo, o da nova ordem mundial politicamente correcta e falsamente multiculturalista, em que se procura esmagar a diferença em nome de uma humanidade sem raça(s).

Pode dizer-se, para quem conhece certos autores do meio, que Fetjaine está a meio caminho entre Tolkien e Bernard Cornwell - o curioso é que embora à partida pareça mais semelhante ao primeiro (e houve já, diz-se, quem o tivesse considerado como o Tolkien do século XXI), na verdade acaba por se aproximar mais do âmbito do segundo...
Em Tolkien, é o Mágico que constitui o cerne de toda a história; em Fetjaine, pelo contrário, o Mágico, quando existe, não tira o papel principal à Política e à Religião, coisas bem humanas e racionais.

Cereja no topo do bolo, os principais povos citados são enquadrados na tradição céltica (a mais bem conhecida, a irlandesa), na medida em que todas as supracitadas estirpes dizem ter tido uma origem comum no Povo de Dana, ou Tuatha de Dannan, a principal tribo sobrenatural dos Celtas irlandeses, no seio da qual Se encontram os principais Deuses célticos insulares, sendo por isso uma espécie de equivalentes célticos aos Deuses Olímpicos helénicos e aos Aesires e Vanires nórdicos. Assim, as principais «raças» teriam herdado os quatro principais talimãs dos Tuatha de Dannan: os homens ficaram com a Lia Fail, Pedra do Destino, que gritava quando o legítimo rei nela se sentava, daí que pensassem, os homens, que tinham o direito de reinar sobre todos os outros; os Gobelins e outros monstros, fiéis seguidores de Lug, herdaram a Lança de Lug (eventual antepassada da lança do centurião Longin, aquela que teria lendariamente ferido Cristo e que foi por isso incessantemente procurada), que conferia uma força sem igual; os Elfos, amigos da floresta, receberam em sorte o caldeirão de Dagda, que confere sabedoria (eventual senão provável antepassado do Graal...), e os Anões tinham a seu cargo Caledfwlch, a Espada de Nuada, que conferia riqueza e domínio e que viria a ser conhecida pelos homens como Excalibur...

Toda esta diversidade começa a morrer quando, com essa mesma intenção de destruir os diferentes povos, alguns líderes, obcecados pelo poder ou pela união de todos os viventes sob o mesmo poder unificado, resolvem roubar aos anões o seu precioso e lendário gládio. Perdendo o seu talismã, o seu símbolo, o seu ícone, a Grei dos Anões encaminha-se para a extinção, absorvida e subjugada pela massa humana...

Mas tudo isto é apresentado com mestria e prudência, sob a qual se adivinha uma vasta erudição em matérias célticas, bem como um proeminente conhecimento do mundo medieval. Uma obra a não perder para quem gosta de verdadeira cultura europeia.

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

http://www.youtube.com/watch?v=G7FdJajqxmU


caturo e titan isto e punk?

16 de março de 2010 às 12:30:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Religião: Mesquita Central de Lisboa celebra 25 anos
Sócrates agradece aos muçulmanos
O primeiro-ministro José Sócrates expressou ontem "o reconhecimento do Governo pelo contributo individual e colectivo para o enriquecimento do nosso país" prestado pela comunidade muçulmana portuguesa, ao serem assinalados os 25 anos da fundação da Mesquita Central de Lisboa.


Sublinhando "o respeito absoluto do Governo pela liberdade religiosa", o primeiro-ministro efectuou uma visita à mesquita, acompanhado do presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdool Vakil. A mesquita integra uma exposição sobre a presença muçulmana em Portugal.

Na sua intervenção, Abdool Vakil referiu o empenho da comunidade islâmica no "caminho de diálogo e interacção realizado com todas as confissões religiosas, instituições de solidariedade e associações culturais", pedindo aos cerca de 200 convidados "um minuto de silêncio pela morte dos irmãos madeirenses" no temporal de 20 de Fevereiro. Em representação da Igreja Católica esteve o padre Vítor Melícias.

Abdool Vakil afirmou que "a liberdade religiosa deu uma nova dimensão ao relacionamento entre crentes de todas as fés". "Posso afirmar com orgulho que Portugal é um exemplo de convivência harmoniosa e fraterna entre todos os seus cidadãos, independentemente da sua religião, etnia ou cultura", acrescentou. O responsável adiantou estar a aguardar um donativo da Arábia Saudita para efectuar obras na mesquita. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, anunciou a abertura quinta-feira do núcleo arqueológico da cidade islâmica de Lisboa no Castelo de São Jorge.

A Mesquita Central de Lisboa foi a primeira criada de raiz desde a expulsão dos muçulmanos há 500 anos. A determinação da comunidade local permitiu que fossem criadas as raízes para que hoje estejam em funcionamento 34 templos muçulmanos em todo o País.

APONTAMENTOS

50 mil em Portugal

É estimado em 50 mil o total de muçulmanos portugueses. A maioria veio das ex-colónias.

11 milhões nos CPLP

Há 11 milhões de muçulmanos nos oito países de língua portuguesa. Ou seja, 1% do total de islâmicos no Mundo.

16 de março de 2010 às 13:48:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Ultimamente, surgiram notícias preocupantes sobre agressões violentas a docentes, por parte de alunos ou dos seus pais, questionando-se, com frequência, a autoridade das escolas e dos professores na sociedade actual. De imediato, veio a lume a necessária revisão do Estatuto do Aluno bem como da moldura penal para os agressores.



Este problema não deve, porém, ser analisado somente no contexto escolar. Verifica-se, hoje, que o respeito devido a determinadas profissões, cargos ou instituições, habitualmente prestigiados, alterou-se ou diminuiu consideravelmente. A democratização da sociedade, em particular, a liberdade de expressão e a rápida mobilidade social, os movimentos migratórios e o declínio generalizado de valores, que constituíram indispensável referência para várias gerações, originaram comportamentos diferentes que, por vezes, ateados por indesculpável má-criação e falta de civismo, acabam por ofender a dignidade de muitos profissionais, desmotivando-os e, mais gravemente, provocando-lhes dolorosos ou irremediáveis danos psicológicos.



Todavia, no que diz respeito à Escola, há que distinguir a indisciplina e a incivilidade da violência, a fim de se delinearem estratégias mais eficazes para o seu combate, tanto no espaço do estabelecimento de ensino como nos seus arredores.



Há quem, em meu entender de forma errada, pense que tudo se resolveria com o restabelecimento da autoridade de tempos passados, sem, infelizmente, ter clara consciência dos seus custos.



Ao contrário dessa via saudosista, mostra-se fundamental investir na educação para a democracia, promovendo a educação e a cultura em prol da cidadania, não como mero produto de consumo imediato, descartável, mas como actividade pedagógica de enriquecimento pessoal e social. Importa também criar condições para o eficaz desempenho da actividade docente, tanto ao nível das instalações e equipamentos como na formação profissional. Simultaneamente, há que desenvolver todo um trabalho de maior aproximação entre a Escola e a comunidade, numa política de responsável envolvimento dos pais e encarregados de educação no sucesso educativo, cada parte cumprindo as suas obrigações e usufruindo dos seus direitos, sem atropelamentos, nem usurpações ou desvios.

16 de março de 2010 às 13:56:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

excelente caturo,o antigo sumério era uma língua indo-europeia ou semita?

16 de março de 2010 às 14:18:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

lol a merdalhada rapper ja esta a aprontar das suas.

Parece que mataram um rapper que ia em perseguiçao policial por nao ter parado.
Agora acham-se todos com razão, que a culpa é da policia. Enfim estes gajos é so rir. São todos uns santinhos, dizem eles.


http://jn.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=1519712 podem ver a foto do gajo
infelizmente ja deixou uma filha. So espero que nao tenha sido com uma branca, pois ele é meio monhe e se teve um filho com uma branca, pouco sangue negro se ira notar na filha.

"Fontes do Comando de Lisboa da PSP confirmaram a morte, mas salientam apenas que "foi dada ordem para haver mais atenção". Em causa está o receio de tumultos, em Lisboa, mas também na Margem Sul do Tejo, devido à popularidade de que gozava a vítima.

Ele era muito pacífico

Aparentemente, o agente da PSP nem teria razões para disparar, uma vez não estariam reunidos, ao que o JN conseguiu apurar, os pressupostos previstos na lei para o o uso da arma de fogo. O inquérito está agora sob alçada da Polícia Judiciária de Lisboa, onde o agente prestou declarações ontem à tarde, tendo sido constituído arguido.

http://diario.iol.pt/sociedade/sam-the-kid-mc-snake-tiro-chelas-psp-tvi24/1147635-4071.html

16 de março de 2010 às 15:00:00 WET  
Blogger Caturo said...

Camarada das 14:18, o Sumério não era nem uma língua indo-europeia nem uma língua semita, mas sim uma língua pré-semita, pré-indo-europeia, ainda mal conhecida.

16 de março de 2010 às 16:10:00 WET  
Blogger Caturo said...

«http://www.youtube.com/watch?v=G7FdJajqxmU»

Creio que sim, um Punk rock.

16 de março de 2010 às 16:11:00 WET  
Blogger Titan said...

Punk rock.

16 de março de 2010 às 16:21:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"http://www.youtube.com/watch?v=G7FdJajqxmU

caturo e titan isto e punk?"

É mais do que isso. São os genes do punk.

16 de março de 2010 às 22:59:00 WET  

Enviar um comentário

<< Home