O POLITEÍSMO E A NATURAL DIVERSIDADE HUMANA
Nem tudo o que o romeno Emile Cioran diz sobre os Deuses será acertado, mas há no seu discurso a respeito do tema algo que merece ser lido:
OS NOVOS DEUSES - fragmento II
O politeísmo corresponde melhor à diversidade das nossas tendências e de nossos impulsos, aos quais oferece a possibilidade de expressar-se, de manifestar-se – cada um deles estando livre para buscar, de acordo com a sua natureza, aquele Deus que melhor lhe quadra no momento. Porém como lidar com um Deus único? Como afrontá-Lo, como utilizá-Lo? Na Sua presença, vivemos continuamente sob pressão. O monoteísmo inibe a nossa sensibilidade: aprofunda-nos porque nos estreita. Um sistema de constrangimentos que nos fornece uma dimensão interior ao custo do florescimento das nossas forças constitui-se num bloqueio, impede a nossa expansão, tira-nos dos eixos. Por certo, éramos mais normais quando tínhamos muitos Deuses do que somos agora, com apenas um. Se a saúde é um critério, que embaraço o monoteísmo!
Sob o regime de vários deuses, o fervor é compartilhado. Quando se dirige a um Deus somente, ele se concentra, se exacerba e termina por converter-se em agressão, em fé. A energia já não se dispersa, é inteiramente focalizada numa direcção. O que havia de mais notável no paganismo era que nele não se fazia nenhuma distinção radical entre acreditar e não acreditar, entre ter fé e não ter. A fé é uma invenção cristã, supõe um desequilíbrio tanto no homem quanto em Deus, desequilíbrio que um diálogo dramático e desordenado estimula. Daí provém o carácter frenético da nova religião. A antiga, tão mais humana, permitia a possibilidade de escolher entre o Deus que se queria; e, já que não lhe impunha nenhum, ficava ao critério individual inclinar-se para um ou outro. Quanto mais caprichoso se fosse, mais se precisaria de mudar de Deuses, passar de um para outro, estando quase certo de encontrar os meios de adorar a todos no curso de uma única existência. Além do mais, Eles eram moderados, queriam somente respeito: um indivíduo saudava-Os, não se ajoelhava diante deles. Eram idealmente apropriados para o homem cujas contradições não se resolviam nem podiam resolver-se – para a mente inquieta e atormentada. Quão afortunado era ele – esse homem –, na sua confusão itinerante, em poder experimentá-los a todos e poder estar quase certo de topar com aquele de que mais precisava na ocasião! Após o triunfo da Cristandade, a liberdade de manobrar entre os Deuses e de escolher algum, ao seu talante, se tornou inconcebível. Teria algum esteta, exausto mas ainda não inteiramente desgostoso do paganismo, aderido à nova religião se houvesse adivinhado que esta se estenderia por tantos séculos? Trocaria o capricho apropriado a um regime de ídolos intercambiáveis por um culto cujo Deus iria gozar de uma longevidade tão assustadora?
OS NOVOS DEUSES - fragmento II
O politeísmo corresponde melhor à diversidade das nossas tendências e de nossos impulsos, aos quais oferece a possibilidade de expressar-se, de manifestar-se – cada um deles estando livre para buscar, de acordo com a sua natureza, aquele Deus que melhor lhe quadra no momento. Porém como lidar com um Deus único? Como afrontá-Lo, como utilizá-Lo? Na Sua presença, vivemos continuamente sob pressão. O monoteísmo inibe a nossa sensibilidade: aprofunda-nos porque nos estreita. Um sistema de constrangimentos que nos fornece uma dimensão interior ao custo do florescimento das nossas forças constitui-se num bloqueio, impede a nossa expansão, tira-nos dos eixos. Por certo, éramos mais normais quando tínhamos muitos Deuses do que somos agora, com apenas um. Se a saúde é um critério, que embaraço o monoteísmo!
Sob o regime de vários deuses, o fervor é compartilhado. Quando se dirige a um Deus somente, ele se concentra, se exacerba e termina por converter-se em agressão, em fé. A energia já não se dispersa, é inteiramente focalizada numa direcção. O que havia de mais notável no paganismo era que nele não se fazia nenhuma distinção radical entre acreditar e não acreditar, entre ter fé e não ter. A fé é uma invenção cristã, supõe um desequilíbrio tanto no homem quanto em Deus, desequilíbrio que um diálogo dramático e desordenado estimula. Daí provém o carácter frenético da nova religião. A antiga, tão mais humana, permitia a possibilidade de escolher entre o Deus que se queria; e, já que não lhe impunha nenhum, ficava ao critério individual inclinar-se para um ou outro. Quanto mais caprichoso se fosse, mais se precisaria de mudar de Deuses, passar de um para outro, estando quase certo de encontrar os meios de adorar a todos no curso de uma única existência. Além do mais, Eles eram moderados, queriam somente respeito: um indivíduo saudava-Os, não se ajoelhava diante deles. Eram idealmente apropriados para o homem cujas contradições não se resolviam nem podiam resolver-se – para a mente inquieta e atormentada. Quão afortunado era ele – esse homem –, na sua confusão itinerante, em poder experimentá-los a todos e poder estar quase certo de topar com aquele de que mais precisava na ocasião! Após o triunfo da Cristandade, a liberdade de manobrar entre os Deuses e de escolher algum, ao seu talante, se tornou inconcebível. Teria algum esteta, exausto mas ainda não inteiramente desgostoso do paganismo, aderido à nova religião se houvesse adivinhado que esta se estenderia por tantos séculos? Trocaria o capricho apropriado a um regime de ídolos intercambiáveis por um culto cujo Deus iria gozar de uma longevidade tão assustadora?
20 Comments:
Mais um milhão para sustentar os pretinhos:
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1298515
"Câmara da Amadora insiste nas vantagens da videovigilância"
Então e o paganismo do Jean Cocteau,ó Caturo?
Tens que publicar um artigo.
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=140960
Até já se montam ciladas para disparar sobre polícias... A Amadora ainda vira a primeira favela portuguesa.
Um princípio de guerra civil.
"http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=140960"
...mais uma vez, a leitura do artigo permite constatar a "juventude" dos agressores.
"diversidade" é a chave. se a diversidade de deuses é importante para a humanidade, muito mais a diversidade de etnias.
fora isso, parabens por mais esse texto.
""diversidade" é a chave. se a diversidade de deuses é importante para a humanidade, muito mais a diversidade de etnias."
E se as misturas todas, adeus diversidade!
Ora nem mais.
Phoenix Lusitanus disse...
"http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=140960"
...mais uma vez, a leitura do artigo permite constatar a "juventude" dos agressores.
7 de Julho de 2009 11:33:00 WEST
bem observado ribeiro
"Anónimo disse...
""diversidade" é a chave. se a diversidade de deuses é importante para a humanidade, muito mais a diversidade de etnias."
E se as misturas todas, adeus diversidade"
E a diversidade de raças e suas culturas é o melhor que existe!
Isso tem que ser preservado,ou os homens deixam de ter alma e viram autômatos.
"bem observado ribeiro"
Ribeiro? Eu confesso, apanharam-me! LOL!...
MPP por aqui??!!
Onde andem mestiças o mpp está sempre presente!
A propósito, quem é o Ribeiro?
Faz-te desentendido!
Muda de nick,ribeiro!
«Faz-te desentendido!»
Mas é que faço mesmo! Estás a confundir-me com alguém, problema que aliás é teu, não meu.
E o galaico da treta continua a chatear.
anonimo: "E se as misturas todas, adeus diversidade!"
isso explica muito essa neurose/paranóia dos racistas/nacionalistas: insegurança. eu não canso de repetir que vivo em um país composto por uma mistura de etnias, sem deixar de ter diversidade. a diversidade cultural irá continuar, mesmo se continuarmos a nos misturar, como os nossos ancestrais fizeram.
Aí podes ter é diversidade de indivíduos, mas não de grupos étnicos. A tendência é a do desaparecimento das identidades autênticas: das raças, das etnias. Isso é pura bastardia e desenraizamento, uma aberração sem limites.
De resto, insegurança tens tu, que, aí nesse paraíso onde vives, sentes necessidade de vir a estas paragens da Internet para disseminar a palavra dos teus donos. É de não estares convencido do que defendes, ehehheheh...
Lá que gostes do Brasil, é problema teu. Mas nós não queremos um Brasil na Europa. Um Portugal transformado em Brasil deixaria de ser Portugal. Quem respeita realmente a diversidade, percebe isso. Quem no fundo odeia a diversidade, como é o vosso caso, tenta negá-lo.
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