WATCHMEN - OS GUARDIÕES

Fui ver o filme «Watchmen - Os Guardiões». É, como os «trailers» deixam antever (incluindo o de cima), uma das melhores senão mesmo a melhor película de super-heróis realizada até à data. Trata-se de uma obra cinematográfica mais virada para um público adulto do que para crianças, e não apenas devido às suas cenas de sexo e de por vezes cruel violência, estas por vezes a roçar o gratuito mal explicado ou pouco convincente. Em Portugal, o filme está rotulado como sendo para maiores de dezasseis anos, no Brasil está para maiores de dezoito. Mas não é, repita-se, só por isso que «Watchmen» se adequa mais a espectadores adultos do que a menores. Toda a trama e diálogos alcançam uma maturidade em nada inferior a «Matrix» ou a «As Crónicas de Riddick». Antes pelo contrário. Não se exclui a inevitável bizarria que caracteriza o género «super-heróis», como é óbvio, e, de resto, ninguém de verdadeiro bom senso o esperaria.

A acção passa-se em 1985, numa realidade em que os EUA têm super-heróis - e o inglês que criou a saga, Alan Moore, imagina, com razoável realismo, como seria um mundo assim... por exemplo, os Norte-Americanos teriam ganho a guerra do Vietname (com a ajuda de um super-homem, quem é que não vencia...), Nixon seria presidente do país (depois de ganhar a guerra, pudera...)...
Parece-me, todavia, pouco verosímil que a tensão bélica nuclear entre Ianques e Soviéticos fosse tão ou mais perigosa, ou sequer existisse se houvessem mesmo super-heróis, mas enfim, é pormenor que conta menos.
A trama propriamente dita tem como mote a investigação da morte de um dos heróis. Rorschach, quase psicopata e completamente queimadinho a nível emocional, além de fanaticamente puritano, tenta descobrir porquê. De caminho vai contactando com diversos «colegas» seus, do grupo de vigilantes mascarados que costumava impor a justiça nas ruas até ao dia em que foram proibidos de o fazer.
Os flash-backs são constantes, mas nunca se tornam maçadores, surgindo pelo contrário na altura certa, fornecendo revelações fulcrais para o entendimento de tudo o que se passa, desde que, bem entendido, haja especial atenção aos pormenores e nada escape ao espectador (nada escape à atenção, muito menos a beleza de algumas das actrizes, note-se).

É, entretanto, agradavelmente curioso que, apesar da recente tendência para que haja um aumento de leitores negros a apreciar a banda desenhada de super-heróis, todas as personagens da saga sejam de raça branca, como no original da banda desenhada, datado de 1987...

Uma das mensagens que, independentemente da intenção original do autor da saga - que, parece-me, é anti-nazi - se pode daqui retirar até coincide com o ideário nacionalista na denúncia da monstruosidade que é mutilar a humanidade e passar por cima de milhões de vidas só para criar uma utopia de amor universal.
Naturalmente que os dados não são todos os mesmos, e que os universalistas querem alcançar a paz não apenas por meio de uma fraternidade universal, mas também pela abolição de fronteiras, ideia de que de modo nenhum se relaciona com o que neste filme se passa. De qualquer modo, o essencial da mensagem está lá - heróis que não aceitam que se cometa um crime de proporções colossais em nome da paz universal. É aliás sintomático que um dos heróis que se rebela contra o plano o considere precisamente como uma mutilação, ipsis verbis.

É, em suma, de ver - e rever.