A RELIGIÃO E O POVO NA HERANÇA ANCESTRAL EUROPEIA - PARTE II
Continuação do artigo cuja primeira parte foi ontem publicada:
Podia-se acolher o estrangeiro, velar por ele, até mesmo estimá-lo, se fosse rico ou honrado; mas não se podia dividir com ele a religião ou o direito. O escravo, de certo modo, era mais bem tratado, porque, sendo membro de uma família, de cujo culto participava, estava ligado à cidade por intermédio do dono; os deuses protegiam-no. Por isso a religião romana afirmava que o túmulo do escravo era sagrado, e que o mesmo não acontecia com o do estrangeiro.
O estrangeiro, pelo contrário, não tendo nenhuma parte na religião, não tinha direito algum. Entrava-se no recinto sagrado, que o sacerdote traçara para a assembleia, era punido com a morte. As leis da cidade não existiam para ele. Se cometesse algum crime, era tratado como escravo e punido sem processo, pois a cidade não lhe devia nenhuma justiça.
Quando se sentiu a necessidade de uma justiça para o estrangeiro, foi necessário estabelecer um tribunal de excepção. Roma tinha um pretor para julgar o estrangeiro (praetor peregrinus). Em Atenas o juiz dos estrangeiros era o polemarco, isto é, o mesmo magistrado encarregado das guerras e de todas as relações como o inimigo.
Nem em Roma, nem em Atenas o estrangeiro podia ser proprietário. Não podia contrair matrimónio, ou, pelo menos, o seu casamento não era reconhecido; os filhos nascidos da união de um cidadão com uma estrangeira eram considerados bastardos.
Não podia firmar contratos com cidadãos, ou, pelo menos a lei não lhes dava nenhum valor. A princípio, não teve o direito de exercer o comércio.
A lei romana proibia-lhe herdar de um cidadão, e mesmo um cidadão herdar de um estrangeiro.
Levava-se tão longe o rigor desse princípio que, se um estrangeiro obtinha o direito de cidadania romana, sem que seu filho, nascido antes dessa época, gozasse do mesmo favor, o filho tornava-se estranho aos olhos do pai, e não podia herdar.
A distinção entre cidadão e estrangeiro era mais forte que o vínculo natural entre pai e filho.
Pareceria à primeira vista que os antigos se esforçavam por estabelecer um sistema de afronta contra o estrangeiro, mas isso não é verdade. Atenas e Roma, pelo contrário, acolhiam-nos bem, e os protegiam, por razões comerciais ou políticas. Mas sua boa vontade, e mesmo seu interesse não podiam abolir as antigas leis que a religião havia estabelecido. Essa religião não permitia que o estrangeiro se tornasse proprietário, porque ele não podia possuir parte do solo religioso da cidade.
Ela não permitia nem ao cidadão herdar do estrangeiro, nem ao estrangeiro herdar do cidadão, porque toda transmissão de bens acarretava a transmissão do culto, e era tão impossível para o cidadão obedecer ao culto do estrangeiro como ao estrangeiro obedecer ao culto do cidadão.
Para que o estrangeiro fosse considerado algo aos olhos da lei, para que pudesse exercer o comércio, fazer contratos, usufruir com segurança de seus bens, para que a justiça da cidade o pudesse defender eficazmente era necessário que se tornasse cliente de um cidadão. Roma e Atenas exigiam que todo o estrangeiro adoptasse um patrono.
Fazendo parte da clientela, e sob a dependência de um cidadão, o estrangeiro ligava-se por esse intermediário à cidade. Participava então de alguns dos benefícios do direito civil, e a protecção das leis era-lhe concedida. As antigas cidades puniam a maior parte das faltas cometidas contra as mesmas negando ao culpado a sua qualidade de cidadão. Essa pena chamava-se atimía.
O homem assim castigado não mais podia ser investido de qualquer magistratura, nem fazer parte dos tribunais, nem falar nas assembleias. Ao mesmo tempo a religião era-lhe interditada; a sentença dizia que ele não mais entraria em nenhum dos santuários da cidade, que não mais teria o direito de se coroar de flores nos dias em que os cidadãos se coroavam, que não mais poria os pés no recinto que a água lustral e o sangue das vítimas traçavam no ágora.
Podia-se acolher o estrangeiro, velar por ele, até mesmo estimá-lo, se fosse rico ou honrado; mas não se podia dividir com ele a religião ou o direito. O escravo, de certo modo, era mais bem tratado, porque, sendo membro de uma família, de cujo culto participava, estava ligado à cidade por intermédio do dono; os deuses protegiam-no. Por isso a religião romana afirmava que o túmulo do escravo era sagrado, e que o mesmo não acontecia com o do estrangeiro.
O estrangeiro, pelo contrário, não tendo nenhuma parte na religião, não tinha direito algum. Entrava-se no recinto sagrado, que o sacerdote traçara para a assembleia, era punido com a morte. As leis da cidade não existiam para ele. Se cometesse algum crime, era tratado como escravo e punido sem processo, pois a cidade não lhe devia nenhuma justiça.
Quando se sentiu a necessidade de uma justiça para o estrangeiro, foi necessário estabelecer um tribunal de excepção. Roma tinha um pretor para julgar o estrangeiro (praetor peregrinus). Em Atenas o juiz dos estrangeiros era o polemarco, isto é, o mesmo magistrado encarregado das guerras e de todas as relações como o inimigo.
Nem em Roma, nem em Atenas o estrangeiro podia ser proprietário. Não podia contrair matrimónio, ou, pelo menos, o seu casamento não era reconhecido; os filhos nascidos da união de um cidadão com uma estrangeira eram considerados bastardos.
Não podia firmar contratos com cidadãos, ou, pelo menos a lei não lhes dava nenhum valor. A princípio, não teve o direito de exercer o comércio.
A lei romana proibia-lhe herdar de um cidadão, e mesmo um cidadão herdar de um estrangeiro.
Levava-se tão longe o rigor desse princípio que, se um estrangeiro obtinha o direito de cidadania romana, sem que seu filho, nascido antes dessa época, gozasse do mesmo favor, o filho tornava-se estranho aos olhos do pai, e não podia herdar.
A distinção entre cidadão e estrangeiro era mais forte que o vínculo natural entre pai e filho.
Pareceria à primeira vista que os antigos se esforçavam por estabelecer um sistema de afronta contra o estrangeiro, mas isso não é verdade. Atenas e Roma, pelo contrário, acolhiam-nos bem, e os protegiam, por razões comerciais ou políticas. Mas sua boa vontade, e mesmo seu interesse não podiam abolir as antigas leis que a religião havia estabelecido. Essa religião não permitia que o estrangeiro se tornasse proprietário, porque ele não podia possuir parte do solo religioso da cidade.
Ela não permitia nem ao cidadão herdar do estrangeiro, nem ao estrangeiro herdar do cidadão, porque toda transmissão de bens acarretava a transmissão do culto, e era tão impossível para o cidadão obedecer ao culto do estrangeiro como ao estrangeiro obedecer ao culto do cidadão.
Para que o estrangeiro fosse considerado algo aos olhos da lei, para que pudesse exercer o comércio, fazer contratos, usufruir com segurança de seus bens, para que a justiça da cidade o pudesse defender eficazmente era necessário que se tornasse cliente de um cidadão. Roma e Atenas exigiam que todo o estrangeiro adoptasse um patrono.
Fazendo parte da clientela, e sob a dependência de um cidadão, o estrangeiro ligava-se por esse intermediário à cidade. Participava então de alguns dos benefícios do direito civil, e a protecção das leis era-lhe concedida. As antigas cidades puniam a maior parte das faltas cometidas contra as mesmas negando ao culpado a sua qualidade de cidadão. Essa pena chamava-se atimía.
O homem assim castigado não mais podia ser investido de qualquer magistratura, nem fazer parte dos tribunais, nem falar nas assembleias. Ao mesmo tempo a religião era-lhe interditada; a sentença dizia que ele não mais entraria em nenhum dos santuários da cidade, que não mais teria o direito de se coroar de flores nos dias em que os cidadãos se coroavam, que não mais poria os pés no recinto que a água lustral e o sangue das vítimas traçavam no ágora.
(...)
E lamento não conhecer o resto do texto.
27 Comments:
e depois ainda vêm para aqui gajos defender a merda do cristianismo porque "ah e tal, Portugal nasceu cristão" (lol como se não pudesse existir re-conquista sem cristianismo)
claro que agora é ver o "lindo" resultado da aberração cristã na Europa.
eu sou "a-teu" e "a-religioso"...mas merda por merda, que venha o paganismo, porque os ideais do cristianismo são insuportáveis.
como é que há cristãos que se dizem "nacionalistas" ?!? :s
sinceramente faz-me confusão, porque são duas coisas contrárias, opostas, incompativeis.
quem é cristão, não pode ser nacionalista a 100%, nem vice-versa...
e, claro, é favor não confundir "patriotismo" com "nacionalismo"...
Espera por amanhã, que o tópico de amanhã é particularmente explícito...
mas merda por merda, que venha o paganismo,
O Paganismo é precisamente o que de mais valioso existe na Europa.
Caturo por que dizes que o Cristianismo é um perigo ao nacionalismo???
E as nações protestantes onde o nacionalismo é extremamente forte:Noruega Progress Party(22.1%), Suiça The Swiss People's Party(29%), Dinamarca Danish People's Party(13,8%), Holanda Party for Freedom(5,90%).
Sendo que o partido de Geert Wilders têm mais apoio a cada dia.
The row over the banning of anti-immigration MP Geert Wilders from entering Britain last week has not boosted the popularity of his PVV party greatly, according to the latest online poll by Maurice de Hond.
The populist PVV would win 25 seats in the 150-seat parliament in an election was held now, just two more than a week ago. The party currently has nine MPs.
The two extra seats come from the main government partners, the Christian Democrats (CDA) and Labour, who both lost one each in the latest opinion poll. This makes the PVV the second biggest party after the CDA.
que grande bravata! tu não esqueceste, parvo, que neste contexto seria tu o estrangeiro?
Ninguém é estrangeiro na sua própria terra, imbecil.
Caturo por que dizes que o Cristianismo é um perigo ao nacionalismo???
Por muitos motivos, que tenho explicado ao longo dos anos. Um dos muitos artigos em que o fiz é este, o mais importante tópico alguma vez publicado neste blogue:
http://gladio.blogspot.com/2006/01/nacionalismo-e-politesmo-autntica_03.html
Sumariamente: o Cristianismo, militantemente universalista, pacifista, apátrida, culpabilizador do indivíduo face ao «outro», trouxe o vírus que está na origem do politicamente correcto, do imigracionismo e do totalitarismo anti-racista.
E as nações protestantes onde o nacionalismo é extremamente forte:
Em todas elas o Cristianismo perde terreno a olhos vistos. Genericamente falando, quanto mais para Norte, na Europa, menos cristã é a população.
"Genericamente falando, quanto mais para Norte, na Europa, menos cristã é a população."
afinal eu tinha razão.
os nórdicos são mesmo superiores ;)
"que grande bravata! tu não esqueceste, parvo, que neste contexto seria tu o estrangeiro?"
Meu caro ignorante tenho cidadania italiana. Sendo assim posso se quiser morar em qualquer país que pertence a comunidade Européia,eu simpatizo com a extrema-direita pois quando vou a Itália não quero ver negros muçulmanos ou coisas do tipo, já os vejo todo maldito dia no Brasil.A extrema-direita não representa perigo a minha pessoa, na verdade ela até ajuda pois caso eu queira arrumar um emprego na Itália haverá menos concorrência para mim. Eu apoio a Lega Nord ela dirige o ódio dos italianos a imigrantes africanos e muçulmanos e não a seus descendentes.
OBS:Reparas que aos olhos da Itália não sou estrangeiro ô minha besta.
"Ninguém é estrangeiro na sua própria terra, imbecil."
Exato.
Nem sempre estou de acordo com o Ariano (democracia e liberdade é isso), mas aqui estou 200% de acordo com ele. E com o Caturo, que a meu ver, explicou tudo.
Não é que eu ache que um cristão não possa ser Nacionalista, mas julgo que aí há algum conflito de ideias que dificilmente coexistem: Nacionalismo versus Universalismo.
Saudações
Saudações
"A extrema-direita não representa perigo a minha pessoa, na verdade ela até ajuda pois caso eu queira arrumar um emprego na Itália haverá menos concorrência para mim."
Primeiro foram os pretos; depois, os muçulmanos; em seguida, os judeus; quando tudo parecia resolvido, foi a vez dos portugueses, espanhóis e italianos...
Há Católicos que são Nacionalistas. O Cristianismo não é só universalismo.
www.lionheartuk.blogspot.com
Um blog de um cristão Nacionalista (Inglês).
Primeiro foram os pretos; depois, os muçulmanos; em seguida, os judeus; quando tudo parecia resolvido, foi a vez dos portugueses,
O quê? Depois dos pretos, dos muçulmanos e dos Judeus, ainda existiam Portugueses, mas Portugueses a sério? Que optimista... :)
"O quê? Depois dos pretos, dos muçulmanos e dos Judeus, ainda existiam Portugueses, mas Portugueses a sério? Que optimista... :)"
Vinda de quem vem, a resposta é expectavelmente inteligente (e até simultaneamemte irónica). No entanto, peca - talvez - por alguma falta de rigor. Em meu entendimento, a resposta certa teria sido: “Depois dos pretos, dos muçulmanos e dos judeus, ainda existiriam Portugueses realmente brancos?"
Na realidade, se calhar só restariam aquelas elites (?) que - por via de casamentos por interesse ($$$) - encontraram nesses mecanismo contratual uma forma automática de preservar (e perpetuar) a sua pureza genética desde os primórdios da Nacionalidade. O mesmo não terá acontecido com o grosso da população, completamente sujeita aos desígnios da História...
Porque será que ainda hoje há portugueses que têm um fenótipo indubitavelmente europeu, enquanto que muitos outros (quiçá a maioria) nunca o terão aos olhos de um inglês, de um alemão ou de um sueco ? Porque a aristocracia soube defender a sua “brancura” ou, para ser mais verdadeiro, teve sempre a ascendência social que lhe permitiu essa defesa. Veja-se, por exemplo:
http://forumpatria.com/index.php?topic=3216.msg12493
Continuará a elite aristocrática a salvaguardar o seu sangue contra a mistura? Numa época em que a Igreja está resolutamente ao lado da imigração e do universalismo, e que esta elite continua sujeita ao pensamento da Igreja? Cada vez duvido mais disso. Há muito que me parecia que um dia começaria a haver mulataria no seio da nobreza, e o caso do príncipe do Mónaco que reconheceu a paternidade de um filho de uma negra ou é uma confirmação do que digo ou então é uma grande, grande coincidência.
Em meu entendimento, a resposta certa teria sido: “Depois dos pretos, dos muçulmanos e dos judeus, ainda existiriam Portugueses realmente brancos?"
Também não está mal visto... se bem que, para mim, o termo «português» já inclui o «realmente branco»... :)
santa ignorância!
então vcs não sabem que uma das fontes deste blog é de um nacionalista-beato, armado em observatório islâmico?
é verdade ou mentira, Celsinho?
Beato é, nacionalista, nem por isso. De resto, o anónimo mostra fraca capacidade de entendimento ao considerar que uso de fontes é sinónimo de apoio ideológico.
e tu te achas romano? tu és mais parvo do que imaginava!
"Depois dos pretos, dos muçulmanos e dos judeus, ainda existiriam Portugueses realmente brancos?"
Tanto judeus como muçulmanos... nunca tiveram uma presença numerosa para mestiçarem a população portuguesa, e isto é obvio no fénótipo, na genetica e cultura dos portugueses que permanece branca como sempre o foi.
«O mesmo não terá acontecido com o grosso da população, completamente sujeita aos desígnios da História...»
este diz cada uma... lol
e tu te achas romano? tu és mais parvo do que imaginava!
E a tua objecção é mais cretina do que à primeira vista parecia. Quem disse que acho que sou romano, imbecil? Não és capaz de seguir um raciocínio simples, brasuca?
por teu proprio texto, parvo! tu falas do trato ao estrangeiro entre romanos, no que eu te lembrei que neste contexto, tu seria o estrangeiro, no que candidamente tentaste me responder dizendo que ninguem é estrangeiro em tua própria terra...ora, ou tu não sabes o que escreve ou tu escreves o que não sabe...
Não percebeste MESMO que, se o Paganismo não tivesse sido destruído, hoje eu faria parte de um Povo com este tipo de vivência religiosa, fosse o Romano ou qualquer outro? És assim tão limitado de entendimento?
De resto, mesmo que eu estivesse no lugar de estrangeiro, não deixaria de achar correcto este modelo. Porque, como eu DISSE, em algum lugar eu seria INDÍGENA.
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