sexta-feira, dezembro 05, 2008

O DIVINO IMANENTE E A RELIGIÃO CLÁSSICA


«A natureza é, para o pagão, uma perfeita teofania: é reveladora do divino, pela ordem e pela beleza. Os pitagóricos ensinaram aos Gregos que tudo no mundo é concebido com número e medida, que é por isso mesmo que merece ser chamado Cosmos e que, como Cosmos, como universo organizado, é decerto obra de algum divino geómetra. "É no seio deste vasto mundo, criação de um demiurgo pleno de arte e sabedoria, teatro de inumeráveis maravilhas", escreve Dion Crisóstomo, "que os Imortais em pessoa iniciam o género humano, dançando à sua volta, se assim posso dizer, a dança sagrada no coração da noite, do dia, da luz e das estrelas. Em presença de um tal espectáculo, como pode a espécie humana deixar de distinguir o coriféu que governa o coração de todas as coisas, que governa o Céu inteiro, que dirige o Cosmos como um sábio piloto dirige uma nave sabiamente construída?"
A natureza é como um templo, plena de símbolos e signos, de murmúrios e vozes que os poetas e os adivinhos interpretam. No marulhar das vagas escutam o apelo de Nereidas e Sereias, e no som dos cítisos a dança ligeira das Dríades.
(...)
Não havia nascente que não tivesse a sua ninfa, nem espelho de água onde não se debruçasse o sorriso de um Deus Silvano. Cada Deus tinha um pássaro favorito e uma árvore que Lhe era consagrada: Atena, a pálida oliveira; perto das cidades, Apolo, Deus do Sol, habitava um bosque de loureiros, e Diana, filha da Terra, um bosque de ciprestes. Cada flor falava uma linguagem. As rosas e as violetas acompanhavam os actos solenes da vida e coroavam as horas agradáveis: eram os inseparáveis ornamentos das alegrias da família e dos actos pios da religião. A terra era a Boa Mãe que simbolizava a actividade exuberante da natureza sob a veste cantante das estações. E assim os homens e os seus lares, a natureza e as suas flores, os Deuses e o Seu poder, os Deuses protectores, familiares e alegres do Paganismo, concorriam para a alegria de viver (...)
Ártemis de mil tetas que incansavelmente incentiva as gerações à vida e ao trabalho. As forças do céu e da terra, infatigáveis obreiras que tecem a veste brilhante da Divindade no tear cantante do tempo, esses Deuses do Paganismo, cada um encarnando um apelo estético do Cosmos... (...)»

In «O Conflito Entre o Cristianismo Primitivo e a Civilização Antiga», Louis Rougier, editora Vega, pág. 97 e seg..