AS PRETENSÕES JUDAICO-CRISTÃS SEGUNDO CELSO, FILÓSOFO ROMANO DO SÉCULO II

Os Judeus - eis longos séculos que se constituíram em nação e se dotaram de leis conformes aos seus costumes e que respeitam ainda hoje. A religião que seguem, valha o que valer, digam o que disserem, é a religião de seus pais. Permanecendo-lhe fiéis, não fazem nada que não façam os outros homens, pois cada um conserva os costumes do seu país. É mesmo bom que assim seja, não somente porque os diferentes povos se dotaram de leis diferentes e que é necessário que, em cada Estado, os cidadãos sigam as leis estabelecidas, mas ainda porque é plausível que no começo as diversas regiões da terra tenham sido repartidas entre outros tantos poderes que as administram cada um à sua maneira, e que em cada região tudo corra bem, quando se governa segundo as regras que instituíram. Assim, haveria impiedade em infringir as regras estabelecidas desde a origem.
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Se os Judeus se limitassem a conservar ciosamente as próprias leis, não haveria lugar para os censurarmos, mas sim aos que abandonam os costumes em que foram educados para adoptar os dos Judeus.
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Se, como o Zeus da comédia ao acordar de um longo sono, Deus quisesse libertar o género humano dos seus males, porque enviaria o espírito que dizeis a um pequeno recanto do mundo? Era necessário insuflá-lo ao mesmo tempo num grande número de corpos e enviá-los aqui e ali por toda a terra. O poeta cómico, para fazer rir o seu público, mostra Zeus a despertar enviando Hermes aos Atenienses e aos Lacedemónios. A ideia de enviar o Filho de Deus aos Judeus não é de suscitar o riso? Porquê só aos Judeus? Porquê a essa nação grosseira, miserável, semi-dissolvida, enquanto tantos outros povos eram mais dignos da atenção de Deus: os Caldeus, os Magos, os Egípcios, os Persas, os Hindus, tantas nações veneráveis e verdadeiramente animadas pelo espírito de Deus?
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In «Contra os Cristãos», de Celso, editorial Estampa, págs. 61-62, 91-92.