ANALISANDO O MATERIALISMO ATEU CIENTÍFICO NAS SUAS VERDADEIRAS ORIGENS E MOTIVAÇÕES
Mais um trecho da obra «Vida Depois da Morte - A Ciência na Fronteira do Desconhecido» a relativizar o materialismo ateu (engrossei as partes que me parecem mais relevantes):
«Falar sobre a vida depois da morte com uma pessoa instruída pode ser difícil. (...) Acho estranhíssimo que estas pessoas inteligentes sejam não apenas indiferentes mas que ofereçam uma enorme resistência aos dados em questão. É como se houvesse uma conspiração contra este tipo de informação, uma necessidade de a tornar inofensiva, irrelevante ou inexistente. Esta resistência é um fenómeno interessante e suspeito que faz parte de um medo bem enraizado do irracional - um medo, em terminologia junguiana, da Sombra.
É claro que não é desta forma que o típico e instruído crente no materialismo científico encara o assunto. Automaticamente, ele irá partir do princípio que as pessoas que acreditam na vida depois da morte estão a embarcar em pensamento mágico e fantasias. No entanto, penso que pode ser mostrado que algumas pessoas estão tão motivadas a desacreditar na vida depois da morte como outras estão motivadas a acreditar. Vejamos alguns motivos para esta descrença.
O medo primordial dos mortos
(...) 0s povos primitivos acreditavam espontaneamente na vida depois da morte. Como é que eles passaram a acreditar em algo que é admissivelmente bastante estranho? Os materialistas científicos invocam o pensamento supersticioso como explicação. Por exemplo, Freud argumentou que as crenças em Deus e na imortalidade são produtos da realização de desejo infantil, sintomas da rebelião neurótica contra a severa tirania do princípio da realidade. Otto Frank afirma de forma semelhante que o medo da morte nos inspira a inventar a ideia de um duplo - essa réplica fantasmagórica de nós próprios que se diz que sobrebive num "próximo" ou "outro" mundo fantasma. Do ponto de vista de Rank, duplicar a imagem de nós mesmos é o trabalho da negação narcisista da ideia da extinção pessoal.
Será que estas explicações psicológicas para a crença num pós-vida se coadunam com as provas da antropologia? Não. Muito pelo contrário, os factos indicam que os primeiros provos não temiam a extinção, temiam sim a vida depois da morte; não temiam a morte, temiam os mortos. (...)
«Falar sobre a vida depois da morte com uma pessoa instruída pode ser difícil. (...) Acho estranhíssimo que estas pessoas inteligentes sejam não apenas indiferentes mas que ofereçam uma enorme resistência aos dados em questão. É como se houvesse uma conspiração contra este tipo de informação, uma necessidade de a tornar inofensiva, irrelevante ou inexistente. Esta resistência é um fenómeno interessante e suspeito que faz parte de um medo bem enraizado do irracional - um medo, em terminologia junguiana, da Sombra.
É claro que não é desta forma que o típico e instruído crente no materialismo científico encara o assunto. Automaticamente, ele irá partir do princípio que as pessoas que acreditam na vida depois da morte estão a embarcar em pensamento mágico e fantasias. No entanto, penso que pode ser mostrado que algumas pessoas estão tão motivadas a desacreditar na vida depois da morte como outras estão motivadas a acreditar. Vejamos alguns motivos para esta descrença.
O medo primordial dos mortos
(...) 0s povos primitivos acreditavam espontaneamente na vida depois da morte. Como é que eles passaram a acreditar em algo que é admissivelmente bastante estranho? Os materialistas científicos invocam o pensamento supersticioso como explicação. Por exemplo, Freud argumentou que as crenças em Deus e na imortalidade são produtos da realização de desejo infantil, sintomas da rebelião neurótica contra a severa tirania do princípio da realidade. Otto Frank afirma de forma semelhante que o medo da morte nos inspira a inventar a ideia de um duplo - essa réplica fantasmagórica de nós próprios que se diz que sobrebive num "próximo" ou "outro" mundo fantasma. Do ponto de vista de Rank, duplicar a imagem de nós mesmos é o trabalho da negação narcisista da ideia da extinção pessoal.
Será que estas explicações psicológicas para a crença num pós-vida se coadunam com as provas da antropologia? Não. Muito pelo contrário, os factos indicam que os primeiros provos não temiam a extinção, temiam sim a vida depois da morte; não temiam a morte, temiam os mortos. (...)
Embora se pense que os espíritos oferecem ocasionalmente bons conselhos, a maior parte dos povos nativos olham-nos com medo e apreensão. (...) ... os povos nativos acreditam frequentemente que a alma de uma pessoa se "pega", por assim dizer, aos seus pertences pessoais. Assim, uma estratégia é destruir a casa e os bens pessoais do morto. Os índios Araucaunios, Puelche e Patagónios da América do Sul vão mais longe e destroem a aldeia inteira. Os efeitos económicos do medo dos mortos são claramente ruinosos. Por conseguinte, dizer que a crença na sobrevivência «consola» parece superficial; seria muito mais consolador não acreditar num pós-vida. Haveria muitas menos preocupações; poder-se-ia relaxar e come.ar a apreciar a vida. Este medo primordial dos mortos, e a enorme paranóia que ele pressupõe, provavelmente ainda faz parte da herança da nossa psique colectiva. Se os psicólogos das profundezas conseguiram demonstrar alguma coisa foi que nós, os humanos, somos museus psíquicos ambulantes. Cada um de nós traz consigo a arqueologia psíquica da espécie. Os terrores sem nome que aterrorizaram os nossos antepassados foram recalcados mas não desenraizados. Do ponto de vista da nossa evolução psíquica, a invenção do materialismo científico foi um poderoso fetiche para banir, pelo menos das nossas mentes conscientes, o medo primordial de espíritos hostis. A mente primitiva está envolta num medo supersticioso do outro. Por exemplo, o velho do «mau-olhado» mostra a disposição que temos em projectar os nossos impulsos sombrios no outro agente da consciência. Sartre deu-nos uma análise moderna do "mau-olhado" na discussão que fez sobre o "olhar". Parece que temos um medo inato do outro. Por trás do olho físico, há um sujeito invisível da consciência que, tal como uma Medusa, ameaça transformar-nos em pedra e converter-nos em meras coisas. Mas consegue-se compreender a atracção do materialismo científico: desanima a natureza; elimina a mente, a alma e a consciência, condenadas à aniquilação aquando da morte do corpo. Não há nada no escuro que nos assuste, assegura a ciência. Nada de nada. Não existem por aí almas com poderes estranhos para nos olharem de cima, nos encantarem, nos cativarem ou para nos ignorarem. Não existem por aí espíritos com o poder de infligir maldades sobre nós. E no caso de os haver, a morte livrar-se-á deles. A extinção é o derradeiro talismã contra o mau-olhado - contra o medo da consciência incontrolável do outro.
O filósofo grego que muito fez para combater o medo da vida depois da morte foi Epicuro (341-270 a.c.). Usou o materialismo de Demócrito para defender a questão da dissolução da alma aquando da morte. Epicuro é instrutivo para a nossa actual discussão porque ele, tal como o materialista moderno, estava motivado a desacreditar numa vida depois da morte. Visto como um benfeitor da humanidade, Epicuro desposou uma filosofia que foi uma das mais populares do mundo antigo. Ele foi um curandeiro entre os antigos, professando uma filosofia expressamente terapêutica.
E o que é ele curava?
O medo da vida depois da morte.
Segundo Lucrécio, Epicuro salvou a raça humana do "pavor do Aqueronte [rio da morte]... que perturbava a vida do homem a partir das suas mais recônditas profundezas." O materialismo e a negação da vida depois da morte na filosofia epicurista libertou as pessoas de uma peculiar forma de ansiedade - a ansiedade que tem origem na ideia de se ter de enfrentar "as mais recônditas profundezas" como sendo o lado negro do inconsciente, sentido intuitivamente pelos antigos como sendo aquilo que nos aguarda no pós-vida.
O caso do epicurismo esclarece de alguma forma os motivos por trás da ascensão do materialismo clássico. Podemos discernir dois motivos principais para a ascensão desta visão do mundo e eles parecem envolver uma contradição. Por um lado, o materialismo antigo era uma arma para evitar o contacto com o lado negro do pós-vida - que eu suponho ser a "Sombra" de Jung. (É claro que o Hades é o domínio preeminente de sombras e trevas). Por outro lado, o materialismo antigo foi uma tentativa de encontrar uma nova religião, conseguindo isso através da ênfase colocada no carácter sagrado e eterno da matéria. Os átomos de Demócrito, por exemplo, possuem a característica distintiva dos Deuses, que é a imortalidade.
A religiosidade do materialismo clássico é evidente a partir das origens da filosofia natural grega. (...)
No entanto, na sua grande maioria, a ciência moderna tem uma certa fobia em relação aos traços residuais do sagrado, do estranho e do numinoso. O progresso da ciência natural tem sido identificado com a eliminação de qualquer coisa que indicie as sombrias "profundezas recônditas" que tanto assustavam Lucrécio. (...)»
22 Comments:
Olha que não sei se o materialismo ateu na ciência é mau neste momento, pelo menos atrasa um bocado que se caia no fanatismo e na ignorância dos monoteísmos.
DE que clube será o Caturo?
Talvez, caro Silvério. Mas olha que o fanatismo materialista também fez vítimas em barda, nomeadamente na China e até na União Soviética...
Por outro lado, é a vontade de reagir contra o materialismo científico que por vezes leva a excessos de fundamentalismo religioso.
Mas de que clube é o Caturo?
Benfica ou Sporting?
Claro que sim, referia-me mais ao ocidente, não é que também não as faça por cá, longe de me identificar com isso. Só acho é que esta sociedade se já está como está, então sem esse "pilar" aí é que ia ser subjugada enquanto o diabo esfrega um olho.
Atenção que a força que esse pilar tem tido contribui para deixar o Ocidente espiritualmente vazio e incapaz de resistir a uma doutrina total de fé e de espiritualidade absolutista, como é o Islão. Além do mais, a ignorância por vezes gerada pelo materialismo científico faz com que demasiada gente não consiga entender a natureza da ameaça islâmica. Quando se diz a certas pessoas que a doutrina de Maomé pretende controlar o planeta, demasiada gente não acredita nisso porque esse tipo de pensamento é completamente estranho à sua mentalidade.
A propósito, agora mesmo está a dar na RTP 1 um programa de Maria Elisa sobre o homem perante a morte.
Lá isso é verdade, a força da fé é muito subestimada pelos racionalistas como eu lhes chamo. Termo que não deve ser muito acurado já que a razão também era de extrema importância em alguns pagãos do mundo antigo, como referiste no outro dia num post a respeito do fogo.
"A propósito, agora mesmo está a dar na RTP 1 um programa de Maria Elisa sobre o homem perante a morte."
Já sabias que iam passar isso. :D
Atenção que para o Caturo perguntas sobre as suas preferencias clubisticas são tão íntimas como as suas preferencias sexuais.
E ele detesta bisbilhotice.
Já sabias que iam passar isso. :D
Por acaso não sabia, foi pura coincidência.
Atenção que para o Caturo perguntas sobre as suas preferencias clubisticas
Já disse há muito que sou da equipa das Águias Rubras.
Termo que não deve ser muito acurado já que a razão também era de extrema importância em alguns pagãos do mundo antigo,
Sim, e Platão, por exemplo, bem como Celso, Juliano, Símaco, Sallustius, entenderam que a racionalidade não contradiz necessariamente a fé.
O caturo é do Benfica?
Mas isso é o clube do preto Eusébio.
Concordo com o Silvério, um espaço secular é necessário, aliás, é imprescindível.
""A propósito, agora mesmo está a dar na RTP 1 um programa de Maria Elisa sobre o homem perante a morte."
Faltava lá O Budismo, Wiccan, Baha'i...
Pouca gente em Portugal sabe o que é isso. E terem mostrado o Hinduísmo já não foi mau...
"Pouca gente em Portugal sabe o que é isso."
Mais um motivo para ter sido mostrado.
O Presidente Khadafi,da Líbia,acusa os Europeus comunitários de "matarem imigrantes ilegais",na aproximação por mar,destes,das costas europeias,ao virar,deliberadamente,as embarcações onde se fazem transportar.
Leia-se aqui:http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=93607
"Já sabias que iam passar isso. :D
Por acaso não sabia, foi pura coincidência."
Andava na galhofa.
Australia:
http://www.theaustralian.news.com.au/
story/0,25197,23720181-5013404,00.html
"The Australian can reveal for the first time..."
http://www.theaustralian.news.com.au/
story/0,25197,23720181-5013404,00.html
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