segunda-feira, janeiro 01, 2007

O SÉCULO DO ATEÍSMO... OU DO RETORNO EM FORÇA DA RELIGIÃO?...

Numa atitude de supina parvoíce e fanatismo ideológico, uma chusma de supostos intelectuais vaticina o fim da religião nos tempos mais próximos, com o argumento de que «o fascínio das pessoas pela religião e pela superstição vai desaparecer dentro de poucas décadas, à medida que a televisão e a internet forem facilitando a aquisição de informação, e que os cientistas estão mais perto de descobrir uma teoria final que tudo explique».

É surpreendente que gente mui estudiosa e considerada culta acredite mesmo num fim da História em matéria de espiritualidade, parecendo que não aprenderam nada com os ateus do século XIX e princípio do século XX, que anunciavam para breve a morte da Religião (ele viu-se...); e é sinal de pura ignorância afirmar com serôdio optimismo ateu um nexo de causalidade entre a informação e a religiosidade, como se o acréscimo da primeira significasse obrigatoriamente o decréscimo da segunda. Quem assim fala não tem a menor ideia do que caracteriza de facto o fascínio pela religião, que não tem rigorosamente nada a ver com o estádio de conhecimento do Universo, mas sim com uma atitude perante a existência, um anseio pelo mágico, pela totalidade, pelo divino, até mesmo um sentido de grandeza perfeitamente incompatível com uma visão meramente materialista e humanista da realidade. Nada disto tem corno a ver com o grau de instrução - e, aliás, é até nos países tecnologicamente mais desenvolvidos que cresce o fascínio - não o temor, mas o fascínio - por dimensões que ultrapassem a matéria e o meramente humano. Tem tudo a ver com uma procura do sentido das coisas, também com uma tentativa de recuperar a exaltação das origens e dos fundamentos da vida, não tem nenhuma relação com o nível de conhecimento científico.

De resto, a grande expansão de certas religiões processou-se precisamente através da internet, o que, bem vistas as coisas, constitui suprema ironia do Destino contra as grosseiras pretensões anti-religiosas dos que insistem em opôr Razão a Religião.

4 Comments:

Blogger Arqueofuturista said...

Viva Caro amigo Caturo e desde já desejos de um bom ano novo.

Pois é, ainda que na condição de ateu, efectivamente concordo em substãncia com o que escreves, na medida em que essa análise, esse cálculo peca por falacioso, por contrário que é face aos sinais dos tempos. Infelizmente, a meu ver, o século XXI irá ser palco de um recrudescer dos fanatismos religiosos (em particular dessa abjecção denominada Islão), os quais irão indubitavelmente contribuir de forma indelével para a convergência das catástrofes que se desenham no horizonte.

"Tem tudo a ver com uma procura do sentido das coisas, também com uma tentativa de recuperar a exaltação das origens"

Ora o problema reside precisamente aqui, ou por outras palavras, as religiões têm por finalidade amaparar as pessoas mergulhadas num oceano de inquietações e angústias, ofertando um aparente sentido para as suas existências miserabilistas. Contudo, às religiões subjaz uma vontade indómita de converter, de se tornarem universalistas, e o aumento de crentes religiosos tem uma relação directa com esse factor universal, aglutinador.

Permite-me ainda que te diga que me parece estares a definir os alvos de forma pouco objectiva, pois o ateísmo, que se resume à esfera privada na maior parte dos casos, não é o inimigo da recuperação dos cultos dos nossos antepassados, mas antes o universalismo das religiões do deserto, totalitário, intolerante e expansionista por essência. Mais acrescento que outro perigo reside nos próprios cultos minoritários que, na demanda desesperada por crentes, procuram aliar as religiões ancestrais com o mito universalista, sendo disso exemplo o Wicca.

De resto, o meu amigo sabe bem que o ateísmo não se resume a essas definições simplistas que o reduzem ao "materialismo" a uma ideia "humanista", na medida em que é uma concepção do mundo bem mais vetusta que o racionalismo iluminista, com orígens profundas no pensamento filosófico da Grécia clássica.

2 de janeiro de 2007 às 11:13:00 WET  
Blogger Caturo said...

Contudo, às religiões subjaz uma vontade indómita de converter, de se tornarem universalistas, e o aumento de crentes religiosos tem uma relação directa com esse factor universal, aglutinador.

Algumas religiões são de facto assim, sem dúvida - as universalistas, a saber, o Cristianismo e o Islão.

Quanto às outras que buscam difundir-se e aumentar o seu número de praticantes, enfim, não se lhes pode atribuir uma atitude mais imperialista do que a dos militantes de qualquer ideologia política. Pois porque motivo é que por exemplo os nacionalistas distribuem panfletos e colam cartazes?

Atenção à diferença entre
- ir para o outro lado do mundo impor uma doutrina para salvação das almas de cascos de rolha
e
- querer divulgar o seu modo de pensar no seio da sua própria gente para benefício da mesma, e, atenção, modo de pensar este que está de acordo com a herança que é própria desta mesma gente.



Permite-me ainda que te diga que me parece estares a definir os alvos de forma pouco objectiva, pois o ateísmo, que se resume à esfera privada na maior parte dos casos, não é o inimigo da recuperação dos cultos dos nossos antepassados, mas antes o universalismo das religiões do deserto, totalitário, intolerante e expansionista por essência

É discutível e dá pano para mangas, em animada tertúlia durante umas quantas horas pela noite dentro...

Sim, há religiões que competem com outras e que querem «monopolizar o mercado», por assim dizer.

Independentemente disso, creio que um dos principais obstáculos, senão mesmo o principal obstáculo à difusão de ideais religiosos ancestralistas, é realmente a mentalidade materialista, humanista, enfim, ateia, que no Ocidente se impôs e que produziu nas massas europeias (mais do que nas norte-americanas) uma irreligiosidade ou pelo menos um indiferentismo religioso bem marcado, pautado demasiadas vezes por uma desconfiança, ou mesmo hostilidade notória contra tudo o que seja religião ou Divindade.



De resto, o meu amigo sabe bem que o ateísmo não se resume a essas definições simplistas que o reduzem ao "materialismo" a uma ideia "humanista", na medida em que é uma concepção do mundo bem mais vetusta que o racionalismo iluminista, com orígens profundas no pensamento filosófico da Grécia clássica.

Pois. E onde conduz esse pensamento filosófico ateu, vindo ou não da Grécia? Não é ao humanismo, isto é, ao centrar das atenções no Homem, ignorando ou negando militantemente que possa haver algo mais além disso?

2 de janeiro de 2007 às 16:39:00 WET  
Blogger Arqueofuturista said...

«Independentemente disso, creio que um dos principais obstáculos, senão mesmo o principal obstáculo à difusão de ideais religiosos ancestralistas, é realmente a mentalidade materialista, humanista, enfim, ateia, que no Ocidente se impôs e que produziu nas massas europeias (mais do que nas norte-americanas) uma irreligiosidade ou pelo menos um indiferentismo religioso bem marcado, pautado demasiadas vezes por uma desconfiança, ou mesmo hostilidade notória contra tudo o que seja religião ou Divindade.»

Discordo, as pessoas não se afastaram da religião. Simplesmente não demonstram o mesmo fervor religioso como outrora mostraram. Nunca como agora as publicações, as seitas, os cultos inventados ou recuperados, as micro-religiões, tiveram tanta pujança. Além do mais, o Deus Consumista não é ateu, o humanitarismo, que confundes com humanismo, não é ateu. O Ateísmo é uma concepção do mundo e da vida intrinsecamente europeia, odiado pelos totalitarismos religiosos e muito me espanta que consideres o ateísmo como o inimigo principal do renascimento pagão, na medida em que esse sempre soube conviver com o ateísmo.

Mas como já te referi anteriormente, este assunto é algo que prefiro não abordar, não só porque como bem dizes daria para uma "animada tertúlia durante umas quantas horas pela noite dentro..." (aí sim, acompanhada com uns copázios até se leva bem), mas também porque não vai mudar o teu pensamento nem o meu.

Abraço

2 de janeiro de 2007 às 17:13:00 WET  
Blogger Caturo said...

Camarada, sei bem que humanismo não é o mesmo que humanitarismo. Mas, perante a religião, o resultado é o mesmo.

Sei também que o ateísmo nasceu na Europa, pelo menos aquele que conhecemos. E creio que é esse o único mal que o Ocidente disseminou no mundo (o que não significa que não existisse já noutras paragens do planeta).

Acredito também que a coexistência de Ateísmo com Paganismo é perfeitamente possível, muito mais fácil até do que a convivência do Paganismo com as religiões do deserto, por motivos óbvios.

O problema é que a educação ateia que o racionalismo e o mecanicismo impuseram no Ocidente contemporâneo predispõe as pessoas para rejeitar o divino. E a falta de crença numa realidade superior é talvez o mais forte obstáculo a que se ingresse nas fileiras duma dada religião.

Enfim, um dia destes ainda nos pomos a perder umas horas com isto. :)

Saudações Nacionalistas para um Bom Ano Novo

2 de janeiro de 2007 às 21:06:00 WET  

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